Muito além dos reforços: saiba como o Palmeiras voltou a pensar grande
Conheça a pirâmide que guia a gestão do futebol palmeirense e saiba detalhes de como funciona o clube desde a chegada de Cícero Souza e Alexandre Mattos em 2015
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O Palmeiras está na semifinal do Campeonato Paulista e continua a busca por mais um título. Seria a terceira taça desde 2015, quando o clube passou a chamar a atenção do país pelo número elevado de contratações. Mas o ressurgimento do Alviverde Imponente vai muito, muito além disso.
- Vocês acham que ficamos 24 horas pensando em quem vamos contratar, mas ficamos 24 horas pensando em como gerar receita.
A frase de Cícero Souza, gerente de futebol do Palmeiras desde o início de 2015, ajuda a explicar a mentalidade que recolocou o clube no caminho dos títulos. "Gerar receita" é a base da pirâmide que simboliza o atual modelo de gestão do futebol alviverde (veja na imagem acima). Quanto mais larga for esta base, maior será a sustentação para os outros elementos.
Com aumento significativo de receitas nos últimos anos, o clube conseguiu dar atenção ao segundo elemento desta pirâmide: a "excelência em estrutura e profissionais". Desde o início de 2017, o Palmeiras tem à disposição um moderníssimo centro de excelência, onde trabalham profissionais também de excelência. E isso não se restringe aos jogadores. O clube tem profissionais de ponta para coordenar cada área, como Altamiro Bottino (coordenador científico), Gustavo Maglioca (médico) e Jomar Ottoni (fisioterapeuta).
Tudo isso sustenta o terceiro e penúltimo elemento da pirâmide: "equipe profissional competitiva". No topo desta pirâmide, está a "paixão". Isso significa que todo o trabalho desenvolvido no clube visa à satisfação do torcedor, que vem principalmente na conquista de títulos. E já foram dois desde 2015: a Copa do Brasil e o Brasileirão.
Gabriel Jesus é um exemplo de sucesso deste modelo: atingiu a excelência profissional, passou a ser fundamental para o Palmeiras ter uma equipe competitiva, ganhou títulos que deixaram o torcedor apaixonado satisfeito e gerou receita para o clube. Passou, portanto, por todos os níveis da pirâmide.
- Quando nós chegamos, o nosso consumidor, que é o torcedor, era um cara desacreditado, de cabeça baixa. Como a gente poderia vender algo para ele? Como você vai convencer alguém a te patrocinar? Precisávamos mudar isso - diz Alexandre Mattos, diretor de futebol também desde o início de 2015.
Mattos e Cícero Souza foram contratados por Paulo Nobre, então presidente do clube, após a péssima campanha no Brasileirão de 2014. Foi por pouco que o Palmeiras não retornou à Série B, de onde acabara de sair. A dupla liderou uma revolução que já tem resultados visíveis, mas ainda está em andamento.
Nesta quinta, os dois mostraram o novo centro de excelência a um grupo de jornalistas e aproveitaram para mostrar que a reconstrução do clube passa por diversos fatores além das contratações. Veja abaixo alguns detalhes da apresentação, que foi liderada por Cícero Souza.
A melhora da imagem
Cícero Souza mostrou que a gestão do futebol do Palmeiras tem três objetivos bem definidos: obter bons resultados técnicos, obter bons resultados financeiros e, não menos importante, transmitir uma boa imagem do clube.
- Quando nós chegamos, no início de 2015, a imagem que o Palmeiras transmitia deixava a desejar - lembra Cícero.
Uma das medidas foi conscientizar os profissionais do clube, o que obviamente inclui os atletas, de que qualquer aparição pública tem um peso enorme. Afinal, eles estão representando a Sociedade Esportiva Palmeiras e seus patrocinadores. Para isso foi elaborada uma cartilha com algumas orientações de como se portar. Todos os jogadores recebem e assinam este documento no início do ano.
Recentemente, o Verdão parou de divulgar a lista de relacionados para as partidas. O motivo: o clube tem feito testes que medem o desgaste físico dos jogadores no dia dos jogos, o que faz com que alguns possam ser cortados de última hora por precaução. Aconteceu com Mina e Tchê Tchê recentemente. A diretoria entendeu que, quando a mídia noticiava o corte de um jogador por razões físicas, muitos poderiam interpretar como algo negativo. A preocupação, portanto, era com a imagem passada.
Visão de futebol
Por que Eduardo Baptista foi o técnico escolhido para comandar o Palmeiras em 2017? Os bons trabalhos que realizou no Sport e na Ponte Preta certamente contaram, mas de nada adiantaria se ele não tivesse uma visão de futebol compatível com a do clube. São três premissas: "11 com a bola, 11 sem a bola", "conceitos modernos (compactação, amplitude e pressão)" e "integração científica".
Cada técnico que chega ao Palmeiras obviamente traz consigo uma filosofia diferente, mas todos precisam se adequar ao clube. Assim que foi contratado, Eduardo recebeu uma espécie de cartilha para se adequar ao funcionamento do clube. Quando a programação da semana seguinte tem de ser definida? Como funciona a convocação dos jogadores para cada jogo? Como é a rotina antes de viagens? Tudo isso está especificado no documento, o mesmo que foi dado a Oswaldo de Oliveira, Marcelo Oliveira e Cuca.
Integração com a base
O Palmeiras tenta aplicar esses conceitos em todas as suas categorias. A integração entre profissional e base é grande, o que inclui a convivência cada vez maior entre membros dos dois departamentos. Todos os dias, ao menos uma equipe de garotos do clube sai do CT da base, em Guarulhos, para treinar na Academia de Futebol.
Cícero Souza divulgou algumas metas traçadas pelo clube nos últimos anos. Uma delas é sobre a ascensão de jovens ao elenco profissional. "Ascensão", no entendimento do clube, é quando o atleta atua no mínimo 45 minutos em dez partidas.
A meta em 2015 era ascender ao menos dois atletas para 2016. Em 2016, a meta era ascender três atletas para 2017. Em 2017, a meta é ascender quatro atletas para 2018.
- Hoje, a meta parece longe de ser alcançada. Temos o Vitinho, que foi o usado em dois jogos. Mas em abril de 2015 quem imaginava que o Matheus Sales seria o melhor homem em campo na final da Copa do Brasil? Em abril do ano passado quem imaginava que o Gabriel Jesus viraria o camisa 9 da Seleção Brasileira tão rápido? - diz Cícero.
- Quando um jovem começa a treinar no profissional, a primeira pergunta que vocês (jornalistas) fazem é: "Subiu?". Não trazemos o atleta para saber se ele é bom. Se não fosse bom, não estaria no Palmeiras. Nós queremos ver como ele se comporta. Ele vai querer saber o boné e a corrente que tem de comprar? Ou vai querer saber se precisa se posicionar no primeiro ou no segundo pau em bola cruzada? - acrescentou o gerente.
Atenção aos detalhes
O futebol do Palmeiras é dividido em 14 departamentos: comissão técnica, atletas, coordenação científica, categorias de base, análise de desempenho, logística, registro, administrativo, RH, financeiro, comunicação, marketing, jurídico e manutenção. Cada uma dessas áreas tem o seu coordenador. E a ordem é não deixar passar nenhum detalhe.
Um exemplo: o Verdão identificou que estava gastando muito dinheiro para pagar multas ocasionadas por atrasos da equipe para entrar em campo ou voltar do intervalo - costuma ser de R$ 1 mil por minuto. Foi criado, então, um sinal sonoro para avisar ao grupo a hora de ir ao gramado.
O clube também criou um documento para verificar a condição de jogo de cada jogador. Este papel passa por vários profissionais, de médico a advogado, e todos precisam atestar que o atleta pode ir a campo.
Os jogadores também são apresentados aos regulamentos de cada campeonato, aos critérios disciplinares de cada competição, aos adversários, ás estatísticas dos torneios que estão disputando...
- Às vezes um time ganha um título e a gente não consegue explicar o motivo. Isso acontece, porque futebol é um jogo, muitas vezes definido pelo momento de cada equipe. Mas a gente trabalha para estar o mais próximo possível da excelência - completou Mattos.
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