Parte da torcida do Palmeiras não consegue apontar o dedo para ninguém que não seja Eduardo Baptista. Muitos estão colocando o empate contra o Tucumán, na estreia pela Libertardores, "na conta do treinador", como se o empate tivesse sido um resultado ruim e vencer fosse uma obrigação.
O Palmeiras jogou com um a menos durante três quartos da partida, que estava sendo disputada fora de casa, é bom lembrar. E não, o Tucumán não é o pior time da Libertadores. Tem suas limitações e talvez nem chegue perto de se classificar aos mata-matas, o que não significa que é fácil batê-lo, ainda mais nas condições da partida desta quarta. O resultado no Monumental José Fierro, portanto, foi bom.
Se o Palmeiras conseguiu encaixar algumas jogadas em velocidade, encontrando a defesa argentina desarrumada e oferecendo a Borja mais de uma oportunidade clara de gol, foi porque as duas linhas de quatro armadas por Eduardo logo depois da expulsão deram resultado. Montar a equipe dessa forma é praxe quando se tem um homem a menos, Carille fez isso no Dérbi mais recente e se deu bem, mas nem sempre esse sistema funciona. Apesar do gol de Zampedri, para o Tucumán, o Palmeiras conseguiu fazer funcionar.
O Tucumán, principalmente no segundo tempo, limitou-se a fazer cruzamentos, o que facilitou o trabalho defensivo dos brasileiros. Para o goleiro Fernando Prass, o que pareceu evidenciar a falta de repertório dos hermanos na verdade exibia um mérito do Verdão. Segundo ele, o time induziu o rival a sempre procurar o jogo pelo lado e insistir no chuveirinho em vez de tentar penetrar a defesa com triangulações, o que poderia fazer valer a superioridade numérica.
Eduardo poderia ter recuado Thiago Santos para a zaga logo depois da expulsão, sim. Não o fez e colocou Antônio Carlos no lugar de Michel Bastos imediatamente. Não por afobação ou desespero diante da situação adversa, mas por já ter uma estratégia em mente. Thiago Santos seria importante para preencher a segunda linha de quatro por dentro, marcando junto com Felipe Melo. Michel Bastos daria mais qualidade nas escapadas ao ataque, mas dificilmente marcaria tanto.
O mesmo vale para Guerra. Com o Palmeiras chegando ao ataque com certa facilidade, a torcida queria ver o venezuelano no lugar de Thiago Santos no segundo tempo, afinal, dava para ganhar o jogo. Mas Eduardo não correu o risco, manteve seus dois volantes congestionando o meio e jogou suas fichas nos pontas: a ordem era recuperar a bola pelos lados, para onde o Tucumán sempre era atraído, recuperá-la e entregá-la a Dudu ou Keno (depois Guedes).
Não é possível dizer que não deu resultado. Se Borja aproveitasse a terceira chance que teve, a mais clara delas, o Palmeiras venceria e seu técnico tiraria nota 10 - a jogada foi justamente de Dudu, contra-atacando pelo lado.
A vitória não veio, mas ainda assim a nota do comandante fica acima da média nesta partida. Ficou, sim, uma sensação de que dava para vencer. Mas o amargor seria muito maior se, na ânsia de atacar, o time se desarrumasse e tomasse o segundo gol. Jogaria um ponto no lixo e daria dois ao adversário. Nesta fase da Libertadores, é preciso entender que o empate não só te oferece um pontinho, mas também tira dois pontões do rival.
Há quem esteja se lembrando da campanha do ano passado, quando o Palmeiras estreou empatando um jogo "ganhável" com o River do Uruguai fora de casa e acabou eliminado na fase de grupos. Ora, o problema daquele time foi ter dado três pontos ao Nacional dentro do Allianz Parque. Para o empate fora ser considerado bom, é imprescindível fazer a lição de casa, com nove pontos como mandante. Eduardo Baptista sabe disso.