Alberto Valentim foi à sala de imprensa da Academia de Futebol acompanhado por todo o elenco do Palmeiras na tarde desta sexta-feira. A ideia era mostrar que os jogadores estão unidos e chateados com os resultados frustrantes da temporada, além de pedir apoio da torcida nos cinco jogos finais do Brasileiro.
O lateral-esquerdo Egídio, que foi multado pela diretoria após responder às ofensas de um torcedor no Aeroporto de Guarulhos na quinta-feira, foi liberado para resolver questões pessoais em Belo Horizonte e não participou da entrevista. Mina e Borja, com a seleção colombiana, também não estavam. Os três, aliás, são desfalques certos para o jogo contra o Flamengo, às 17h de domingo, no Allianz Parque.
- Fiquei horas sem conseguir dormir depois da derrota para o Vitória. Dentro dessas horas, tive essa ideia. Falei com Cícero (Souza, gerente de futebol), Alexandre (Mattos, diretor) e Maurício (Galiotte, presidente) e pedi a eles que me dessem essa oportunidade. Primeiro para nos fortalecer, depois para convocar a nossa torcida, chamar o nosso torcedor para o nosso lado. Sei que está todo mundo chateado, existia até a chance de ser campeão, mas temos cinco finais para conseguir a nossa vaga no G4. Precisamos de todo mundo que trabalha aqui e muito do nosso torcedor - explicou Valentim.
Dudu, Moisés, Fernando Prass e Edu Dracena sentaram-se ao lado do técnico e foram os porta-vozes do elenco. Nenhum deles falou diretamente sobre o protesto que a Mancha Alviverde agendou para domingo em frente à Academia de Futebol, mas todos bateram na tecla de que esperam a melhor postura possível do torcedor palmeirense até o fim do ano.
- Estou aqui desde o fim de 2012 e passamos por vários momentos. No primeiro momento não tínhamos o Allianz, e não me lembro de ter jogado em qualquer estádio longe da capacidade total. No Allianz, em 2014, em um dos momentos mais difíceis da história do Palmeiras, foram dois jogos muito complicados com apoio irrestrito. Acho que foi por isso que a gente conseguiu escapar aquele ano. De lá para cá, foram mais de 100 jogos no Allianz, e a gente não jogou sem o estádio estar lotado. Óbvio que a gente compreende a tristeza do torcedor, porque ele é paixão pura, quer que o time vença todas. Não podemos reclamar uma vírgula da torcida. Tem momentos de maior tensão, porque quando tu lida com paixão é complicado ter um raciocínio lógico, mas até hoje a relação da torcida com a gente tem sido excepcional, e acreditamos que continuará sendo. Sabemos que eles acreditam muito na gente, e em um momento ou outro, em termos de resultado, a gente não fez o esperado - comentou Prass.
O Palmeiras não vence há três partidas. Após a derrota para o Vitória, na quarta-feira, os episódios de cobrança têm se acumulado. Naquela noite, uma bilheteria do Allianz Parque foi pichada com os dizeres "vergonha", "jogadores medíocres" e "Felipe Melo + 10". A própria Mancha divulgou uma nota com cobranças a Maurício Galiotte, Alexandre Mattos e diversos jogadores, incluindo ídolos como Fernando Prass e Dudu. Na chegada da delegação a São Paulo, houve o episódio com Egídio.
Veja outras frases da coletiva:
MOISÉS
"O motivo de a gente estar aqui juntos, é porque nos momentos bons sempre falamos que tínhamos uma família. Queremos provar também que nesse momento difícil a gente não vai deixar que batam só em um ou outro. Lógico que estamos tristes. Antes do torcedor, a gente mesmo pensa em título, pensa no melhor, mas às vezes não acontecem. Esse ano, o Real Madrid não está vivendo boa fase. O futebol é assim, não é sempre que você tem um grande elenco que vai conseguir resultados. O Palmeiras se planejou, e não só para essa temporada. Esse planejamento não caiu ainda por terra. A gente sabe que não é fácil, que o torcedor está se sentindo envergonhado nesse ano, a gente também, mas precisamos estar juntos nas horas difíceis".
EDU DRACENA
"A gente sente uma cobrança no aeroporto, algumas frases de gracinha de torcedores que talvez nem sejam do Palmeiras, mas querem tirar uma casquinha. Você acaba nem saindo na rua, deixa de levar o filho na escola por causa de cobranças. Você acaba deixando de viver algumas situações, e de repente as pessoas não entendem. Somos seres humanos, temos família. É difícil um familiar seu sair na rua ou ver na internet xingamentos e cobranças. Ninguém aqui é máquina. Está todo mundo triste, mas ao mesmo tempo confiante de que vamos conseguir nosso objetivo. Lógico que era ser campeão, mas ficou distante, e agora o segundo objetivo é classificar o clube para a Libertadores. São cinco jogos para a gente mudar essas opiniões de que o time não presta, não joga com raça, tem que vender esse ou aquele. Há uma semana, estávamos cinco pontos atrás do líder e em evolução, hoje esse questionamento".
PRASS
"Sempre escuto falar de números, e vocês batem muito nesse assunto. Primeiro que quando o jogador entra em campo, não tem importância quanto ganha, quanto custou. Se tu for frio de analisar o futebol por números, o Palmeiras contratou R$ 80 milhões e vendeu R$ 100 e poucos milhões. Se juntar Jesus e Vitor Hugo, foram R$ 150 milhões, sei lá. Se analisar só número, fica complicado. Tem que analisar rendimento em campo, questionar se A, B ou C renderam. Outra coisa que falam muito no futebol é bicho. O jogador, dentro de campo, não pensa em dinheiro, premiação. Se for para esse lado de analisar valores, gastos, vendidos, comprados, estaremos fora do nosso problema. Nosso problema é em campo e se resolve com trabalho, não com cálculo".
DUDU
"A gente fica triste pela cobrança ser apenas em um jogador, como está sendo com o Egídio. A diretoria se posicionou sobre ele e nós temos que acatar".
VALENTIM
"O jogo em Salvador foi o pior de todas as vezes que comandei o Palmeiras. Nós jogamos um grande jogo contra o Corinthians, com todas as dificuldades que sabíamos que iríamos encontrar lá. Houve declarações até do treinador dizendo que ganhou na nossa linha alta, mas ele tem que lembrar que fez um gol em impedimento. Contra o Vitória, já tínhamos esquecido o Corinthians. Você não tem tempo para comemorar vitória e nem lamentar derrota".