Fernando Prass já vinha sentindo dores no cotovelo direito quando foi ao gramado do Serra Dourada, antes do amistoso entre Brasil e Japão, para participar do aquecimento dos goleiros, mesmo já sabendo que não poderia jogar naquela ocasião. Foi naquele dia, na reta final da preparação para a Olimpíada, que o corte do camisa 1 do Palmeiras foi definido. Nesta segunda, ele admitiu que já tinha ideia de que a lesão era grave e disse que "tentou tudo" para conseguir realizar o sonho de defender a Seleção.
- Ah, cara, eu vou ser sincero. Eu já tinha a percepção de que o meu braço estava quebrado. Tinha uma percepção por causa da outra lesão (fratura no mesmo cotovelo em 2014), mas o Alex (Evangelista) e o Charlinho (Charles Costa), fisioterapeutas da Seleção, falaram: "Olha, Prass, a gente vai ficar contigo 24 horas se precisar, se precisar dormir na fisioterapia a gente dorme". Foi o que eu fiz. Eu queria ter a consciência tranquila de que tinha tentado tudo - contou o goleiro, antes de dar uma palestra em evento da Abex, Associação Brasileira dos Executivos de Futebol.
Prass sentiu o cotovelo pela primeira vez no dia 25 de julho, durante um treino da Seleção. No dia seguinte, foi poupado da atividade no gramado e passou por um exame em que não foi detectado nada grave, tanto que seguiu evoluindo no tratamento até a dor se tornar insuportável.
- Eu tinha uma lesão anterior nesse braço, mas já estava havia dois anos e meio sem dor nenhuma, sem sintoma nenhum, sem inchaço, sem nada. Ficava um pouco difícil de se perceber se era um traço da fratura antiga ou alguma coisa nova. Claro que pelo inchaço e pela dor que eu estava sentindo a minha preocupação era grande - explicou.
- Eu também tinha uma ansiedade muito grande porque estava chegando perto da competição e eu não queria deixar o pessoal na mão na véspera. Então eu teria que decidir logo. Deus me tirou qualquer dúvida naquele sábado. Das coisas ruins, a gente tira coisas boas. De repente se eu levasse um pouco mais iria prejudicar a preparação deles, então também tenho que agradecer por isso, por as coisas terem se definido logo - acrescentou.
Prass assistiu em casa, com a família, à vitória nos pênaltis sobre a Alemanha, no último domingo. Viu o colega Gabriel Jesus e os rivais Rodrigo Caio e Gabigol receberam a medalha de ouro vestindo camisas com seu nome, homenagem feita também por Rafinha, no pódio, e Neymar, em uma foto na internet. O goleiro se emocionou com a lembrança:
- Quando eu vi o Gab com a camiseta senti uma emoção muito grande, porque é um cara que está junto comigo, a gente conversava muito, então ele sabe o que eu passei, o que eu sentia, é um amigo. Quando vi os outros a surpresa foi maior. Rodrigo Caio e o Gabigol acho que até deram um exemplo sensacional. Nós somos rivais, desportivamente falando, e acho que isso simboliza muita coisa, caráter. O Rafinha, eu vivi a agonia dele e ele viveu minha agonia durante uma semana. Era meu companheiro até nas madrugadas, porque a gente ia até 2h, 3h da manhã tratando, e ele estava sempre ali. Eu falei para ele que ele simboliza um pouco de mim, porque teve esse sacrifício todo e conseguiu jogar. Eu, infelizmente, não consegui. Depois também teve a foto do Neymar no vestiário. Para mim foi um pouco reconfortante - comentou Prass, que ainda sonha com uma oportunidade de defender o país:
- Guardado, meu lugar não está. Eu realizei o sonho de ser convocado, mas não realizei o sonho de jogar. Infelizmente eu tive esse problema dez dias antes. Em 2014 eu também tive uma lesão grave e 2015 foi um dos meus melhores anos da carreira. Já falei para o pessoal do Palmeiras que eu quero um plano especial de trabalho, porque nesses três meses que vou ter eu vou fazer de tudo para voltar muito acima do que eu estava. Aí cabe ao meu desempenho e à percepção do treinador, mas eu acho que agora ficou muito mais vivo para mim o sonho de uma Seleção Brasileira depois dessa primeira convocação.