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Prass, ao L!: ‘Para mim, a Copa do Brasil vale como Copa do Mundo’

Goleiro fala das 'cicatrizes' que acumulou desde o início de sua passagem pelo clube, pede mais atitude e já admite estar próximo da idolatria. Ricardo Oliveira? Ele não polemiza

Fernando Prass - Palmeiras (FOTO: Miguel Schincariol)
imagem cameraFernando Prass posa para o LANCE! na Academia de Futebol (FOTO: Miguel Schincariol)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 22/11/2015
21:56
Atualizado em 23/11/2015
15:49

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O Palmeiras subiu para a Série A em 2013, sofreu até o último instante de 2014 para manter-se na elite e pode terminar 2015 comemorando um título. Todas essas campanhas têm um personagem em comum: o goleiro Fernando Prass, símbolo da reconstrução do clube nos últimos anos e herói da classificação à decisão contra o Santos, que será disputada nas próximas duas quartas-feiras.

Nesta entrevista exclusiva ao LANCE!, ele admitiu que está próximo de considerar-se ídolo da torcida. Já são 153 jogos, algumas atuações memoráveis – como nas semifinais do Paulistão e da Copa do Brasil deste ano – e mais dois anos de contrato. Falta o título.

– Seria um grande passo para criar esse rótulo, ainda mais com mais dois anos de contrato. Vou atingir um número significativo de jogos, sei lá, próximo dos 300. Aí eu acho que começa a se desenhar alguma coisa – declarou o camisa 1.

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Mas ele sabe que o Verdão precisará reencontrar o bom futebol para conquistar o tri da competição mata-mata e consolidar-se como maior colecionador de taças nacionais do país. Por isso, cobra atitude e personalidade dos jogadores.

Sobre Ricardo Oliveira, com quem se desentendeu nos últimos dois encontros com o Santos, Prass preferiu evitar polêmica. Com um sorriso no rosto, disse acreditar que o artilheiro do rival não teve a intenção de acertá-lo com uma bolada e nem de desrespeitar o Palmeiras com a careta que fez após marcar um gol na Vila Belmiro.

Confira abaixo todas as respostas do goleiro palmeirense sobre esses e outros assuntos:

LANCE!: Você chegou em 2013, com o clube na Série B, e viveu todos os momentos até chegar à final. Acha que personifica a reconstrução do Palmeiras?
Fernando Prass: É, cara, de 2013 tem eu e o Fábio só. De dois anos atrás, só dois jogadores. Acho que até por isso a gente sente um pouco mais algumas coisas que acontecem. A gente sentiu na pele tudo que as outras pessoas olharam de fora, a gente sentiu na pele o Palmeiras jogando a Segunda Divisão, o problema financeiro, não ter estádio, sentimos na pele ano passado a dificuldade que foi se manter na Primeira Divisão. Hoje, a maioria do grupo que está aqui chegou no Palmeiras neste ano. Eles não têm ainda essas cicatrizes que eu e o Fábio temos. Então, com certeza, cada vez que eu entro em campo e vejo a perspectiva de conquistar uma Copa do Brasil, para mim vale como se fosse uma Copa do Mundo. Eu sei o que passei lá atrás, as perspectivas que eu tinha, e a oportunidade que eu tenho hoje. Saí lá debaixo e estou conseguindo chegar no topo, então acho que quando acontece assim a pessoa tende a valorizar muito mais.

Fernando Prass (Foto: Arquivo LANCE!)
Prass no jogo em que voltou de lesão, contra o Bota (Foto: Arquivo L!)


Ver o time capengando às vésperas dos jogos mais importantes do ano dói mais em você do que nos outros?
É normal, né? Eles viram até, mas não sentiram. É como uma coisa que acontece com um amigo, com uma família conhecida, e tu dá uma palavra de conforto, dá um conselho, mas sempre tem aquela coisa de não ser contigo, é difícil falar. Eu e o Fábio passamos por tudo, desde o comecinho dessa reestruturação, então para mim seria sensacional, cara. Um título da Copa do Brasil faria com que eu me sentisse triplamente realizado por tudo que eu vi acontecer no clube desde 2013.

Depois da derrota para o Vasco, a torcida cobrou e você disse que achava saudável para o grupo. É isso mesmo? Quando mais pressão, melhor?
A gente estava precisando se cobrar, de um chacoalhão para acordar. Não que a gente esteja preguiçoso, mas pelo potencial que nosso time tem, pelo potencial que já demonstrou, não podemos aceitar passivamente uma atuação ruim. Se fosse outra equipe, outro grupo, sem a qualidade que tem, eu estaria resignado e tentando trabalhar para encontrar algum modo de melhorar. Estaria tentando tirar a pressão, blindar o grupo, mas acho que esse grupo tem qualidade e às vezes tem que ser cobrado. De repente as pessoas de fora enxergam melhor, tanto o problema quanto a solução, e tu que está dentro precisa de um empurrão para acordar.

Essa queda de rendimento, então, é algo emocional?
Não acho que seja por não ter motivação, não ter vontade, mas acho que é muito emocional. Depois do jogo do Vasco eu falei em atitude e colocaram que não é só atitude. Às vezes tu dá uma entrevista e as pessoas não entendem. Atitude que eu falo não é correr, dar carrinho, dar porrada. Atitude é postura, atitude mental, de personalidade. Tem a atitude de dar o carrinho, de correr, de lutar, mas tem a atitude de tu estar mal no jogo e falar: “Me dá aqui a bola que eu vou resolver”. Ou então tu ter errado um lance e falar: “Vou tentar de novo, vou buscar a jogada, não vou tocar de lado para me preservar”. É atitude emocional, para ter confiança, personalidade, para não murchar no momento ruim, não tentar evitar o erro. Pelo contrário, tentar acertar. A atitude é essa, de mesmo nos momentos ruins ter forças para superar e ter personalidade para continuar arriscando e botar para fora toda a técnica que tu tem, que eu acho que a gente não está conseguindo.

Os últimos jogos contra o Santos foram nervosos. Como fazer para isso não atrapalhar?
Isso depende muito do que acontece dentro do jogo. Se o cara te provoca, tu tem diversas reações. Desde que essa reação não tire seu foco e sua concentração, não prejudique o time, não seja destemperada, não tem problema. O juiz está lá para ver. Às vezes finge que não vê, deixa passar para não chamar a atenção, não se indispor com nenhuma das partes, mas eu sinceramente não me preocupo com o que o outro time vai fazer. Estou preocupado com o que o Palmeiras vai fazer. Claro que o equilíbrio emocional é fundamental para uma decisão, porque não vão ser dois jogos tranquilos, pode ter certeza, vão ser dois jogos com grande nível de tensão.

No último clássico, Ricardo Oliveira te acertou com uma bolada e comemorou gol fazendo careta. Motivou o Palmeiras?
Não, porque o Ricardo Oliveira já falou que foi sem querer, que ele não me viu. E que na outra ele estava olhando para o Gabriel.

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"É um cara com uma conduta boa fora de campo, pelo menos do que a gente observa. A gente procura acreditar, que bom que não foi de propósito", diz Fernando Prass, sobre a provocação de Ricardo Oliveira no último clássico

Você acreditou?
Ué (risos)... É um cara que tem uma conduta boa fora de campo, pelo menos do que a gente observa, do que eu conheço dele. A gente procura acreditar. Que bom que não foi de propósito, que bom que não foi nada premeditado, desrespeitoso. É até bom para o futebol, porque o futebol serve também para educar, é exemplo para quem está de fora, principalmente para os jovens.

No ano passado, antes de voltar a jogar após as cirurgias no cotovelo, você fez uma promessa ao seu filho. Como foi?
Desde que eles nasceram (Prass é pai de gêmeos, Caio e Helena) eu nunca tinha ficado tanto tempo sem jogar. No Vasco, fiz 150 jogos seguidos, em praticamente quatro anos eu joguei todos os jogos. Então eles nunca me viram machucado. Eles acompanharam minha cirurgia, acompanharam a segunda cirurgia, que foi para retirar os pinos... Eles estavam acostumados a não ter o pai em casa, os coleguinhas no colégio até perguntavam quando é que o pai dele ia voltar. Em seguida, ele vinha para casa e me perguntava: “Ô, pai, quando tu vai voltar?”. Naquela semana eu não tinha falado nada para ele, mas acho que saiu na TV ou na internet e um coleguinha perguntou para ele se era verdade que eu ia voltar a jogar. Ele chegou, entrou no carro e a primeira coisa que perguntou foi: “Pai, tu vai voltar a jogar?”. Eu perguntei: “Ué, como é que tu sabe?”. Ele respondeu: ”Me falaram. Bah! Que bom!”. Como o Palmeiras estava em uma fase ruim, a gente até evitava, e nem tinha ânimo para ir ao shopping, ao cinema, ficava mais recolhido mesmo. Aí ele ligou a vitória a poder sair, a alegria: ”Pô, então se o Palmeiras ganhar tu me leva para jantar fora?”. Fazia tempo que a gente não saía. Então foi mais ou menos isso.

Já teve algum pedido novo?
Ele ainda não pediu nada, cara, vamos ver se para a final da Copa do Brasil ele pede alguma coisa. Mas se não pedir a gente tem “n” motivações para conquistar esse título.

Acha que seu esforço para voltar antes do esperado naquela época está sendo recompensado agora?
Quando eu voltei, não estava 100% porque sentia muita dor. Eu conseguia jogar, mas fiquei cinco meses parado, sem treinar. Fiz um coletivo no sábado para jogar na quarta-feira, esse era um dos maiores perigos, mas graças a Deus fiz um bom jogo contra o Botafogo, na volta. Por incrível que pareça, a única defesa difícil que fiz contra o Botafogo foi idêntica à que eu me machuquei. Se sobrepor as imagens, vai ser uma coisa impressionante. Foi uma bola pelo lado esquerdo de defesa, diminui um pouco o ângulo, o jogador do Botafogo chutou cruzado e eu peguei só com a mão direita, espalmando para o lado. Igualzinho ao lance do Alecsandro, quando eu quebrei o braço.

O que pensou na hora?
Eu sentia dor, né? Qualquer bolada, qualquer batida no chão, sentia muita dor. Na hora doeu para caramba, mas quando eu levantei vi que não tinha acontecido nada, até porque a fratura já estava bem consolidada. Era mais a dor da fibrose no tendão, que ficou como se fosse um caroço de azeitona. Tomava remédios para aguentar a dor e poder treinar. Tomei infiltração depois do último jogo, para aproveitar as férias e ver se recuperava, voltava em uma situação melhor. Para jogar não tinha como, tinha que tomar os remédios, uma dose alta de analgésico, anti-infamatório.

Você vem dizendo que, para se tornar ídolo, precisa de título. A Copa do Brasil enfim pode te alçar a essa condição?
Seria um passo, um título importante, um título nacional, com vaga para a Libertadores. O primeiro não, mas seria um grande passo para criar esse rótulo, ainda mais com mais dois anos de contrato. Vou atingir um número significativo de jogos, sei lá, próximo dos 300. Aí eu acho que começa a se desenhar alguma coisa.

Qual vai ser a primeira pessoa a aparecer na sua mente se esse título realmente acontecer?
Ah, minha família. Minha esposa, meus filhos... Esses são os que estão contigo na hora boa e na hora ruim. Claro, comemoram contigo, mas eles sofrem nos momentos difíceis, absorvem muita coisa. Uma vitória para eles seria sensacional também.

E aí vai levá-los para jantar?
Levo onde quiser. É só pedir (risos).

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