Fernando Prass já se desfez do gesso e da tipoia que o acompanharam nos primeiros dias depois da cirurgia no cotovelo direito, mas ainda utiliza o braço esquerdo para cumprimentar as pessoas com um aperto de mão. O goleiro precisará ter paciência até ser liberado para os trabalhos com bola e para voltar a jogar, o que deve acontecer só no próximo ano.
Por enquanto, ele se apega em alguns fatores para se manter motivado: o apoio da família, as homenagens da torcida do Palmeiras, o sonho de defender a Seleção Brasileira e o reconhecimento de quem viu seu drama de perto, como Gabriel Jesus, Rodrigo Caio, Gabigol, Rafinha e Neymar, que festejaram o ouro olímpico com a camisa 1 que o palmeirense usaria nos Jogos.
Na tarde dessa segunda-feira, Fernando Prass participou de evento da Abex (Associação Brasileira dos Executivos de Futebol), onde palestrou sobre a relação entre jogadores e dirigentes e atendeu alguns jornalistas, no bate-papo reproduzido abaixo.
Nesta terça, o ídolo tem consulta marcada com o médico que o operou e espera ser liberado para iniciar a fisioterapia na Academia de Futebol. O procedimento cirúrgico, realizado com sucesso no último dia 3, foi o mesmo de 2014, quando Prass fraturou o cotovelo direito pela primeira vez: foi utilizada uma espécie de arame para ajudar a consolidar a lesão. Há dois anos, o goleiro passou por outra intervenção para retirar este material e ao todo ficou cinco meses fora de combate. Dessa vez, é bem possível que ele não precise dessa segunda operação.
Confira a íntegra da entrevista de Prass no evento da Abex:
Como foi assistir à conquista do ouro olímpico da Seleção Brasileira sabendo que você poderia estar vivendo aquilo?
É difícil, viu? Não é fácil, a gente tenta lidar, tenta fazer com que a cabeça entenda da melhor forma possível, mas não tem como tu ver as imagens e não se imaginar lá, não imaginar como teria sido, como seria a sensação. Ainda mais quando tu volta para casa e também não pode atuar aqui. Se tivesse condições de atuar pelo Palmeiras minha frustração seria bem menor. Mas são experiências que a gente passa. Vou sofrer um tempo, vou ter que lidar com isso, mas quando essa tempestade tiver passado eu tenho certeza que vou estar melhor, vou estar mais forte e mais motivado ainda do que antes.
Você se apega a alguma coisa para se motivar e não se deixar levar pelo desânimo?
Primeiro, a família. É o maior apoio que tenho na vida pessoal. Na vida profissional, eu recebi um vídeo hoje de um grupo de torcedores palmeirenses que foi sensacional. Um dos caras é o (jornalista) Mauro Beting. E o carinho que eu tive nas redes sociais e principalmente no primeiro jogo em que fui no Allianz, contra o Vitória. Antes de começar o jogo, a torcida do Palmeiras tradicionalmente grita o nome de todos os jogadores, e de forma surpreendente começou gritando meu nome, no intervalo também. Isso é sem dúvida nenhuma o que te puxa lá de baixo. Tu está com pensamentos negativos, está abatido, mas quando tu pensa que quando voltar vai reencontrar tudo isso, profissionalmente, é o maior incentivo que o cara pode ter para passar por tudo isso e voltar.
Você ainda tem a Seleção Brasileira como objetivo? Acha que um lugar ficará guardado para quando você voltar?
Guardado não está. Eu realizei o sonho de ser convocado, mas não realizei o sonho de jogar. Infelizmente eu tive esse problema dez dias antes. Em 2014, eu também tive uma lesão grave e 2015 foi um dos meus melhores anos da carreira. Já falei para o pessoal do Palmeiras que eu quero um plano especial de trabalho, porque nesses três meses que vou ter eu vou fazer de tudo para voltar muito acima do que eu estava. Aí cabe ao meu desempenho e à percepção do treinador, mas eu acho que agora ficou muito mais vivo para mim o sonho de uma Seleção Brasileira depois dessa primeira convocação.
Você falou que agora terá três meses para ficar bem fisicamente. É com esse prazo que está trabalhando para voltar aos treinos com bola?
Sinceramente, eu não sei. É uma lesão diferente de uma muscular, que tu faz uma ressonância, faz um ultrassom, e vê se está cicatrizado. Foi uma fratura, provavelmente daqui a um mês eu já esteja normal, com a força recuperada, com os movimentos recuperados, mas em termos de calcificação, de consolidação de fratura, é que tem de se trabalhar. É difícil ter uma noção, vai muito dos estudos, dos protocolos que o médico vai seguir. Fico muito refém da avaliação dos médicos.
Onde você assistiu à decisão da Olimpíada? E o que sentiu quando viu os jogadores com a sua camisa depois do título?
Eu vi em casa, com a minha família. Foi uma sensação de surpresa, né, cara? Quando eu vi o Gab (Gabriel Jesus) com a camiseta senti uma emoção muito grande, porque é um cara que está junto comigo, a gente conversava muito, então ele sabe o que eu passei, o que eu sentia, é um amigo. Quando vi os outros a surpresa foi maior. Rodrigo Caio e Gabigol acho que até deram um exemplo sensacional. Nós somos rivais, desportivamente falando, e acho que isso simboliza muita coisa, caráter. O Rafinha, eu vivi a agonia dele e ele viveu minha agonia durante uma semana. Era meu companheiro até nas madrugadas, porque a gente ia até 2h, 3h da manhã tratando e ele estava sempre ali. Eu falei para ele que simboliza um pouco de mim, porque teve esse sacrifício todo e conseguiu jogar. Eu, infelizmente, não consegui. Depois também teve a foto do Neymar no vestiário. Para mim foi um pouco reconfortante.
Quando você começou a sentir as dores no cotovelo direito e fez o primeiro exame, a notícia foi de que não era nada preocupante. A sua sensação era essa mesmo ou havia, sim, uma preocupação?
Ah, cara, eu vou ser sincero. Eu já tinha a percepção de que o meu braço estava quebrado. Tinha uma percepção por causa da outra lesão, mas o Alex (Evangelista) e o Charlinho (Charles Costa), que são os fisioterapeutas da Seleção, falaram: “Olha, Prass, a gente vai ficar contigo 24 horas se precisar, se precisar dormir na fisioterapia a gente dorme”. Foi o que eu fiz. Eu queria ter a consciência tranquila de que tinha tentado tudo. Só que eu também tinha uma ansiedade muito grande porque estava chegando perto da competição e eu não queria deixar o pessoal na mão na véspera. Então eu teria que decidir logo. Deus me tirou qualquer dúvida naquele sábado (dia do amistoso contra o Japão, quando ele fez o aquecimento dos goleiros, sentiu o cotovelo e foi cortado). Das coisas ruins, a gente tira coisas boas. De repente se eu levasse um pouco mais de tempo iria prejudicar a preparação deles, então também tenho que agradecer por isso, por as coisas terem se definido logo.
Antes desse dia, o exame que você fez mostrou algo preocupante?
Eu tinha uma lesão anterior nesse braço, mas já estava havia dois anos e meio sem dor nenhuma, sem sintoma nenhum, sem inchaço, sem nada. Ficava um pouco difícil de perceber se era um traço da fratura antiga ou alguma coisa nova. Claro que pelo inchaço e pela dor que estava sentindo, a preocupação era grande.
O que está achando do Jailson?
Goleiro dificilmente vai entrar para pegar ritmo. O goleiro que não está jogando vai trabalhar muito e jogar pouco. Tem de estar preparado. Se o Jailson não estivesse preparado e a chance aparecesse, na semana do jogo ele não iria conseguir se preparar. É um trabalho de longo prazo. Sorte dele que teve essa percepção, se preparou e está conseguindo aproveitar essa chance.
Qual é o balanço que você faz do período olímpico no Palmeiras?
O Atlético-MG fez mais pontos que a gente, mas é um campeonato de regularidade. Não importa o teu desempenho atual ou o passado, importa o desempenho global. A gente terminou o primeiro turno na liderança e eu procuro o lado positivo. A gente começa o segundo turno melhor que o primeiro. O primeiro a gente terminou líder, então as perspectivas são boas. No primeiro turno nós fizemos três pontos nesses dois jogos, agora temos quatro. Nosso aproveitamento está acima.
Acha que será bom o Gabriel Jesus ficar até o fim do ano?
Ele está vendido, deve estar com contrato assinado, deve ter seguro, tem toda uma situação, porque não é um negócio qualquer. Acho que vai ser bom para o Gabriel, vai ser bom para o Palmeiras e vai ser bom para o Manchester City também. Quando o Manchester pegá-lo, ele vai estar muito mais evoluído, campeão olímpico, se Deus quiser campeão brasileiro e já com alguns jogos de Eliminatória nas costas. É uma experiência, assim como de Libertadores, muito boa para ele.
É reconfortante para você estar sem a tipoia no braço?
É, né, cara? Quando tu está com o braço engessado, com a tipoia, passa uma imagem ruim, sensação ruim. Mas ainda estamos com muito cuidado, principalmente nesse início de recuperação, é tudo muito recente.