Se 7 de setembro é comemorado nacionalmente como o dia da Independência do Brasil, para Victor Luis ainda há outro motivo para celebrar. Foi também nesta data o início de sua trajetória no Palmeiras, que nesta sexta-feira completa 14 anos. Vinculado ao Verdão dos 11 aos seus atuais 25 anos, o lateral-esquerdo trata o clube como sua segunda casa.
Isto dá uma ideia da relevância do Palmeiras para o camisa 26. Criado na Zona Norte de São Paulo (SP), ele leva muito em conta o ambiente caseiro, tanto que ainda mora perto de onde vivem os pais (Eraldo Zamblauskas e Ruth Zamblauskas), sua avó, além de tios e primos. A família está sempre junta e tem grande participação em sua vida. Inclusive na carreira, pois foi quando precisou deixá-la um pouco de lado que Victor teve a certeza de que queria virar jogador palmeirense, ainda aos 14 anos.
- Eu descobri que queria ser jogador mesmo e profissional no Palmeiras antes de uma viagem da minha família num fim do ano, quando eu tinha de jogar o campeonato da Votorantim. Meus primos já indo na bagunça, meu pai me perguntou: 'e aí?', e eu comecei a chorar, vendo todos indo viajar e eu ficando por um campeonato. Ali descobri que era este o sonho da minha vida. Tinha na época 14 anos, já uns três de Palmeiras, com uma historinha na base. Meu pai sempre me apoiou e me falou no episódio: 'se você quiser ir viajar a gente vai, vamos todos felizes juntos. Vou continuar te amando da mesma forma, você vai continuar sendo meu filho, jogando ou não'. Hoje acho que não ir naquela viagem foi a melhor decisão que poderia tomar na minha vida - contou, ao LANCE!.
Victor chegou a ser integrado ao elenco campeão da Série B, quando voltou do empréstimo ao Porto B (POR) em 2013, mas foi jogar apenas em 2014. Aquele ano foi uma montanha russa para o então garoto de 21 anos. Deu a ele sua lembrança mais saborosa pelo Verdão - o primeiro gol como profissional, contra a Fiorentina (ITA) -, mas também o medo de participar de um rebaixamento, que não se concretizou após o empate com o Atlético-PR.
Desde então, o lateral-esquerdo foi emprestado para Ceará e Botafogo, e reapresentou-se nesta temporada como um "novo jogador". Aproveitando todas as melhorias do Palmeiras nos últimos anos, Victor Luis contou à reportagem por que entendeu que não deveria sair nesta janela de transferências, quando o Porto voltou a procurá-lo, e o que falta para tornar sua alegria completa no Verdão: um título grande.
- Já vivi vários momentos, mas quero ganhar algo grande, um título de expressão. Vai me trazer a felicidade completa no Palmeiras. Nos outros anos, em que conquistaram títulos (Copa do Brasil de 2015 e Brasileiro de 2016), só estava no começo do ano e logo fui emprestado. Agora realmente estou aqui, no grupo. Este é meu grande sonho no Palmeiras, ser campeão estando no grupo - afirmou.
Veja a entrevista exclusiva com Victor Luis:
LANCE!: Nesta sexta-feira você completa 14 anos de Palmeiras. O que significa esta marca?
Victor Luis: A data é muito representativa para mim, dá alegria saber que completei este tempo todo no clube, vivi todos os momentos, de ruins a muito positivos. Então o que posso resumir é felicidade em poder estar construindo esta história no Palmeiras. Almejo muito mais do que foi conquistado. Não digo da boca para fora, me sinto em casa.
Você é de uma época em que a base não era tão usada no Palmeiras, muitos dos que jogaram na sua época não ficaram. Dá para dizer que é um sobrevivente?
As dificuldades marcaram. Joguei com muitas pessoas, que infelizmente não continuaram este sonho. Daquela época tem eu e o Vinícius (Silvestre, goleiro), emprestado à Ponte Preta, vinculados ao Palmeiras. Tiveram algumas coisas que você para e pensa: por que tem de ser assim? Mas de todos estes anos que trouxeram dificuldade, nunca pensei em desistir, posso falar isso.
Boa parte de sua família mora na mesma casa, bem perto de você. O quão importante é tê-los próximos até hoje?
Eles são essenciais desde sempre, porque me davam forças para vencer, superar obstáculos da carreira e da vida. Minha esposa (Suzane) não é nem meu braço direito, é o lado direito todo do corpo, porque é uma guerreira, está ao meu lado desde a época de escola quando nos conhecemos. Foi quem realmente sempre esteve ao meu lado, minha esposa, meus familiares. Então eles têm este papel muito importante, é bom morar perto, porque quando acontece algo está perto de casa. É essencial para os momentos positivos e negativos.
Há um momento mais marcante nestes 14 anos de Palmeiras?
Foi o jogo contra a Fiorentina, o técnico era o (Ricardo) Gareca ainda. Foi quando me deram a oportunidade, em 2014. Ele falou que acreditava em mim e pediu um bom jogo. Tive a felicidade de marcar meu primeiro gol pelo Palmeiras e sentir realmente a energia da torcida. É emocionante, foi emocionante e continua sendo. Marcou minha vida, minha carreira e sempre vai me marcar. A partir deste dia eu descobri que queria viver mais momentos assim.
Por isso é uma das camisas que você ainda guarda?
Essa é a camisa que ninguém pode tocar, tenho ciúmes enorme (risos). Já tive outros momentos no Palmeiras, mas este me fez sentir alegria e energia da torcida pela primeira vez. Antes eu via o jogo com a torcida, e quando pude sentir isto em campo, foi a melhor sensação e quero continuar sentindo.
E o que você pensa quando lembra do Brasileiro de 2014, quando veio a primeira chance, mas foi um drama até a última rodada?
Precisávamos ganhar o jogo (contra o Atlético-PR) e empatamos, com gol do Henrique, de pênalti. Aquele sufoco, mas pensa: toda a molecada, pensando em querer jogar, não pensa no momento que você quer ser utilizado. Quer jogar e pronto. Foi dada a oportunidade no momento de dificuldade e graças a Deus conseguimos nos livrar do rebaixamento. Eu e o Renato (volante também formado no Palmeiras) fizemos a promessa de que se livrasse do rebaixamento iríamos embora com a roupa do jogo, com chuteira e tudo. Sabemos que o rebaixamento marca a carreira de um jogador, e graças a Deus fomos felizes, evitamos e hoje penso nisso, vivendo um bom momento no Palmeiras. Ia guardar ele (uniforme) até sujo, mas não ia dar, a mãe ia reclamar (risos), mas está guardado também.
Pensando naquele jogo de 2014 contra o Atlético-PR e o seu último, também contra o Atlético-PR, na quarta, em que o Palmeiras e Victor Luis mudaram?
Mudou tudo, porque falando de Victor Luis, eu era um jogador inexperiente, sem rodagem nenhuma. Até queria aproveitar para agradecer os clubes que me abriram as portas: o Ceará, em 2015, e o Botafogo, em 2016 e 2017. Deram maturidade para esta minha volta ao Palmeiras e preciso ser eternamente grato a eles e ao Palmeiras, que me deu a chance de ser emprestado. Eu sinto em 2018 que voltei outro jogador, totalmente diferente, eu me sinto mais confiante, mais experiente. Por esta rodagem. E o clube também é totalmente diferente. Não tinha a estrutura de hoje, o hotel era o ginásio com quadras e temos a estrutura toda ali dentro, com tudo de positivo para agregar e nos fazer o rendimento ser mais alto. Mudou tudo. Isto traz coisas positivas para o grupo, também, e o Felipão também é um grande fator, porque é um paizão mesmo, ele, o Paulo Turra, o Carlão Pracidelli. Pessoas fantásticas. E o grupo é muito amigo, passamos pelo perrengue para voltar de Chapecó, mas enfrentamos na maior felicidade, um dando a mão para o outro, sendo amigo mesmo. Eu acho que isto é um grande sucesso da nossa equipe, a amizade que construímos. No futebol não é obrigado a ser amigo de ninguém, mas está acontecendo naturalmente no grupo. É inegável que temos um grupo bem qualificado, mas já cansamos de ver vários grupos qualificados que não ganharam por pequenos detalhes. E nosso grupo quer unidade, a maneira de um tratar o outro, da amizade de um com o outro. Quem entra o outro torce para ir bem, pelo bem da equipe. Está sendo prazeroso cada dia de treino e cada dia de jogo no Palmeiras.
Felipão chegou e deu chance para jogadores como você, que já não vinham jogando tanto. Como é o trabalho tendo praticamente duas equipes?
Sem hipocrisia, eu gostei muito do estilo de trabalho do Roger, uma pessoa fantástica. São coisas do futebol, a questão de jogar uma hora e outra. É compreensível, tenho um amigo na posição, o Diogo Barbosa, que é um puta jogador. De nível de Seleção. Temos que saber, se a oportunidade é dada ao Diogo tem de torcer para ir bem, que é o bem do grupo. E ele também pensa assim quando eu entro no time. Está sendo assim com o grupo todo. O Felipão e Paulo Turra passam a energia que vocês veem, e é natural, a energia positiva. Não ganhamos nada, vamos com humildade, mas com muito trabalho e coisas grandes virão. O Felipão nos faz pensar jogo a jogo, agora é pensar só no Corinthians. É um grupo qualificado, ele pode rodar. O maior segredo é pensar partida a partida e pensar em vencer a cada jogo.
Sua família tem ascendência da Lituânia, e o técnico da seleção, Edgaras Jankauskas, já lhe elogiou. Você vai tirar o passaporte europeu para conseguir jogar pela seleção do país?
Eu preferi segurar um pouco. As coisas estavam indo muito corridas. O treinador me ligou, falando que ia arrumar documentação para disputar a Eurocopa, que era contra a Inglaterra. Eu falei que ia, mas passou um dia, liguei de volta e disse que ia esperar um pouco. Claro que tenho sonho de jogar pela Seleção Brasileira, ninguém esconde esse grande sonho. Vou esperar um pouco para ver o que vai acontecer.
Você foi procurado recentemente pelo Porto. O que pensa para o futuro?
A questão de clubes europeus, todo jogador sonha em um dia ir, embora eu tenha tido a chance no Porto em 2012, e teve outra sondagem agora. É um excelente clube, mas sentamos com o Alexandre (Mattos) e vimos que não era hora de sair. Eu quero ganhar mesmo algo dentro do Palmeiras, ser feliz desta maneira mesmo.