Os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro marcam o ápice de um ciclo de cobranças para o brasileiro Alan Fonteles. Aos 24 anos, o atual campeão dos 200m T44, para amputados, chegou à capital fluminense com um currículo repleto do de conquistas e uma condição física muito aquém das expectativas.
O peso do paraense virou quase uma informação sigilosa. O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) divulga 64kg, mas esta, na verdade, era a marca registrada nas fichas oficiais às vésperas da Paralimpíada de Londres-2012.
Mais realista, o Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) aponta 73kg. A comparação de fotos nas duas épocas deixa claro a diferença. Quem vê Alan de perto nota que até entidade mundial é bondosa. Pessoas ligadas ao esporte confirmam que o velocista está pelo menos 10kg mais pesado do que há quatro anos.
O tema gera irritação. O incômodo é tanto que Fonteles já se recusou diversas vezes a subir na balança. Apesar dos esforços, a estreia na Rio-2016 mostrou um Alan distinto daquele de 2012. Na quinta-feira, ficou fora da final dos 100m T44, que acontece nesta sexta, ao terminar a eliminatória em nono (11s26). Saiu sem dar entrevistas.
– Foi um ciclo longo. Houve toda a repercussão pelo tempo que ele ficou afastado. Mas acho que, na fase final, conseguiu retomar o foco. Nos 200m, prioridade dele, nós veremos o resultado. Pode brigar por medalha – disse Ciro Winckler, coordenador técnico de atletismo do CPB, ao LANCE!.
Em Londres, Fonteles chamou a atenção do mundo, quando derrotou Oscar Pistorius na decisão dos 200m T44, com tempo de 21s45, contra 21s52 do sul-africano, considerado favorito a levar a medalha de ouro.
O brasileiro se afastou das pistas no auge, após faturar três ouros no Mundial de Lyon (FRA), em 2013. Na época, disse que precisava “desestressar” da rotina dura de treinos e passar um tempo em família.
"Retomamos o suporte disciplinar. Tem sido interessante e vem rendendo bons resultados. Quando ele se afastou, não houve esta interação" - Ciro Winckler, coordenador técnico
O retorno foi no Parapan de Toronto (CAN), com uma prata e um bronze. Mesmo longe da condição ideal, manteve a meta de quatro medalhas na Rio-2016. Agora, só restam os 200m, 400m e o 4x100m.
– Na fase final, retomamos o suporte disciplinar. Tem sido interessante e rendendo bons resultados. Quando ele se afastou, não houve esta interação – lamentou Ciro.
Alan Fonteles disputa a eliminatória dos 200m T44 neste domingo, no Engenhão. As finais acontecem na segunda-feira.
CPB vê imagem de Alan ainda forte
Para o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), valem todos os esforços se o objetivo for colocar Alan Fonteles nos eixos após seu período sabático em 2014, a queda de rendimento e o aumento de peso.
A entidade vê a imagem do atleta forte, tanto na visibilidade do movimento paralímpico quanto na evolução do time. O atletismo é carro-chefe da delegação na busca pelo quinto lugar no quadro de medalhas, em total de ouros.
– Ele tem uma imagem muito forte. Chama a atenção das pessoa, e seus resultados ajudam os demais. Mas tem de ficar próximo – disse Winckler.
A TRAJETÓRIA
Jogos Olímpicos
O velocista disputou pela primeira vez o evento em Pequim-2008, quando levou a prata no 4x100m (T42-46), com 45s25, e ficou em sétimo nos 200m T44, com a marca de 24s21. Em Londres-2012, foi ouro nos 200m (21s45), quarto nos 400m T44 (51s59), sétimo nos 100m T44 (11s33) e fez parte do quarteto do 4x100m, desclassificado.
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Mundiais
O paraense levou três títulos no Mundial de Lyon (FRA), em 2013: 100m T43 (10s80), 200m T43 (20s66, recorde mundial até hoje) e 400m T44 (48s58), além da prata no 4x100m (41s72). Em Doha (QAT), em 2015, foi prata nos 200m (22s04) e bronze nos 100m (11s02). Antes disso, em Christchurch (NZL)-2011, ele levou os bronzes nos 100m (11s43) e 4x100m (43s43).
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Parapan
Foi ouro nos 200m T44 (22s08) em Toronto (CAN), em 2015, e prata nos 100m (10s98).
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História
Devido a uma sepsemia, gerada por uma infecção intestinal, Fonteles teve de amputar as duas pernas aos 21 dias de vida. Ele começou a praticar o atletismo aos oito anos.