Quanto vale uma medalha? Um pódio? Marcas em Olimpíadas entram para a história. Recordes viram paradigmas. O atleta campeão tem um caminho aberto para se transformar em herói, além da possibilidade de flerte com a eternidade.
O espírito olímpico, no entanto, se manifesta também em pequenas ações -- nas fissuras do anonimato. O minuto 10 do jogo México 5x1 Fiji, na Arena Fonte Nova, está eternizado desde já como orgulho de uma nação.
Em tal fração de tempo, o pequenino país asiático, em sua primeira participação no futebol masculino em Olimpíadas, atingiu seu momento mais sublime. Marcou um gol de cabeça com Roy Krishina, o camisa 9 do time.
Na estreia do Grupo C, Fiji havia sido goleado de forma impiedosa pelos sul-coreanos na mesma Arena Fonte Nova: 8 a 0. Sabe-se lá se por um espírito olímpico aguçado, solidariedade ao mais fraco ou pleno exercício da 'zueira', o fato é que os baianos desenvolveram por Fiji uma simpatia inesperada.
No momento do gol, mesmo com o estádio vazio, os gritos se estenderam para além do trivial e ganharam contornos duradouros de emoção. Todos os jogadores de Fiji correram para um longo abraço ao artilheiro pelo feito alcançado.
Abatidos com o forte calor da Bahia -- o jogo começou às 13 horas --, os mexicanos entraram letárgicos e sentiram o peso do gol. Só ensaiaram a primeira reação aos 32 minutos, em chute forte de Lozano que parou nas mãos do goleiro Tamanisau.
Seis minutos depois, o meia Gutierrez jogou para o espaço uma chance limpa de empate. O mero vislumbre de vencer uma partida se transformou em um fictício pódio para os fijanos. O primeiro tempo terminou em vantagem para os polinésios.
No segundo tempo, porém, os mexicanos só precisaram de um minuto para recuperar a "ordem natural das coisas". Gutierrez desviou cruzamento rasteiro da direita e igualou o jogo.
Aos 9, o mesmo Gutierrez foi ator final de uma triangulação iniciada na intermediária do campo. Ele matou a bola no peito, centrou o corpo e fuzliou as redes, sem antes a bola beijar caprichosamente a trave.
Os atuais campeões olímpicos cresceram à medida que a temperatura foi diminuindo. Aos 12, Gutierrez marcou seu terceiro exibindo grande senso de oportunismo ao escorar cruzamento para o gol vazio.
Aos 22, Salcedo desviou cruzamento de escanteio e ampliou o marcador. Aos 27, Gutierrez de cavadinha, no melhor estilo Messi, fez o quarto do confronto.
Os mexicanos alcançaram 4 pontos no Grupo C. Jogam agora contra a Coreia do Sul dia 10 de agosto, em Belo Horizonte.
A exemplo do que ocorreu na estreia, diante dos sul-coreanos, a seleção de Fiji demonstrou pouca resistência física no segundo tempo de jogo. Já a segunda derrota seguida representou a eliminação matemática da equipe.
Mas, diante do gol, do choro, da emoção dos atletas e, principalmente, da simpatia angariada junto aos baianos, os fijanos parecem ter saído da Rio 2016 com uma medalha, no mínimo, simbólica.
Afinal, quanto vale uma medalha? E do que ela é feita?
FICHA TÉCNICA:
Local: Arena Fonte Nova, Salvador (Bahia)
Data e hora: 7 de agosto, às 13 horas
Gols: Roy Krishina (Fiji), 10 minutos do primeiro tempo; Gutierez (México), a 1, 9, 12 e 27 do segundo tempo; Salcedo (México), aos 22 do segundo tempo.
Cartão Amarelo: Nakalevu e Khem (Fiji)
México: Tavalera, Abella, Montes (Aguirre), Salcedo e Torres Nilo; Pizarro (Cisneros); Gutierrez; Perez, Lozano (Gonzalez); Peralta e Bueno. Técnico: Raúl Gutiérrez.
Fiji: Tamanisau, Huhges (Nabenia), Dreloa, Singh, Naidu; Tuivuna (Baravilala), Waranaivalu, Chand, Waqa; Krishna (Waranaivalu) e Verevou. Técnico: Frank Farina