Uma das maiores atletas do esporte brasileiro está perto do adeus. Após falhar em suas três tentativas e ficar fora da decisão do salto com vara na Olimpíada do Rio de Janeiro, nesta terça-feira, Fabiana Murer não conseguiu conter as lágrimas. Ao ser entrevistada depois da prova, a brasileira de 35 anos disse, em tom de adeus, que espera ser lembrada por seus bons resultados.
A razão da frase é simples de ser explicada. Murer participou de três edições dos Jogos Olímpicos. Em Pequim (CHN), em 2008, sofreu com o sumiço de suas varas, e não conseguiu um bom resultado na decisão. Em Londres (ING), em 2012, reclamou do forte vento, e se recusou a saltar na eliminatória. No Rio, sofreu com uma hérnia de disco cervical, e deu adeus à competição de forma precoce, sem completar nenhum de seus saltos.
- É um momento difícil. Esse é meu último ano. Eu já tinha feito uma boa marca. Saltei 4,87m e bati o recorde sul-americano, então eu estava em um bom caminho para chegar aqui na Olimpíada. Mas tive essa hérnia que acabou desestruturando tudo - comentou Murer, antes de completar:
- Não é só na Olimpíada que os problemas acontecem. Acontecem o ano todo e, infelizmente, vocês acabam não vendo. Competir em alto nível é muito difícil, e o atleta precisa estar 100%, porque cada detalhe faz a diferença. Infelizmente não consegui me recuperar totalmente, talvez precisasse de um tempinho maior para a hérnia regredir.
Apesar das falhas em Olimpíadas, Fabiana Murer tem uma das carreiras mais sólidas no atletismo brasileiro. É detentora do recorde sul-americano, e uma das dez melhores marcas da história (por atleta), atingido nesse ano, com 4,87m, além de ter quatro medalhas em Mundiais (dois ouros, em 2010 e 2011).
Ao ser questionada sobre como gostaria de ser lembrada, a paulista não conseguiu reter as lágrimas. Tendo os fracassos olímpicos como "rótulo", Murer disse que prefere ser lembrada por sua conquistas.
- As três Olimpíadas foram muito difíceis. Em todas eu tentei o meu melhor, buscando uma final, uma medalha. Infelizmente, em nenhuma delas deu certo. Mas consegui muitas coisas em minha carreira, quatro medalhas mundiais, vários recordes... Então... (pausa e começa a chorar). Acho que quem acompanhou minha carreira, sabe o que conquistei, o quanto batalhei. Sei que vou ser lembrada pelos bons resultados que tive - disse, chorando muito.
Confira outras respostas de Fabiana Murer após a queda na eliminatória:
O que aconteceu na prova?
"Acabei de sair de uma prova muito complicada. Passei um mês muito difícil, desde quando descobri que estava com uma hérnia de disco cervical, que me tira a força do braço e não me deixou treinar da forma que eu poderia para chegar bem à Olimpíada. Foi um mês muito intenso, de muito tratamento, sempre acreditando que poderia chegar na Olimpíada 100% e estar em uma final. Eu sabia que era muito difícil, ainda mais por esse mês. Tentei fazer todos os ajustes possíveis, mas o meu braço não conseguia sustentar. Peguei uma vara mais fraca, uma mais forte...".
Esse foi o seu último salto?
"Já fui convidada para a última etapa da Liga Diamante, em Bruxelas (BEL), mas preciso ver como estará minha situação, se irei conseguir saltar ou não, por causa da hérnia. Não tenho força suficiente no braço para conseguir saltar. Não sei como vou estar. Eu não sabia o que era hérnia, só sentindo mesmo para saber o quanto é problemático. A dor passa, mas o braço fica mais fraco, falha muitas vezes, é até difícil de explicar".
Como viu o resultado do Thiago Braz (ouro no salto com vara)?
"Eu não assisti à prova, porque estava dormindo e tinha de descansar para a minha disputa. Fiquei muito contente com o resultado dele. Ele já tinha uma medalha olímpica nos Jogos da Juventude, de prata, e agora conseguiu o ouro. Fico muito contente. Ele é talentoso, batalhou muito para isso, e com certeza irá crescer muito ainda".
Chegou a hora de parar mesmo?
"Já estou com 35 anos, então já está na hora de parar. Sempre quis parar no topo, fazendo bons resultados. Eu tive uma carreira muito longa, consegui várias medalhas em mundiais, recordes, fiz o salto com vara crescer e mostrei ao mundo que existe esse esporte no Brasil. Consegui criar uma boa condição dentro do país. Então, com isso, outros atletas vieram, e um deles foi o Thiago. Fico contente com o que fiz na minha carreira".