A Federação Internacional de Vela (World Sailing, antiga Isaf) começou o ano com uma promessa: vai fazer uma visita de fiscalização aos locais onde são produzidos os equipamentos para os velejadores da classe olímpica RS:X.
Conforme o LANCE! publicou no último dia 29 de dezembro, os brasileiros Ricardo Winicki, o Bimba, e Patricia Freitas estão insatisfeitos com a qualidade das quilhas (peças de sustentação das embarcações) e preocupados com o material que utilizarão nos Jogos Rio-2016.
Um abaixo assinado foi enviado em maio do ano passado aos responsáveis para cobrar melhorias. Os velejadores afirmam ter ouvido promessas de mudanças, mas nada efetivo até o momento. De acordo com a Confederação Brasileira de Vela (CBVela), a reclamação é compartilhada por outros países.
- A World Sailing vai visitar os locais de produção e proceder a fiscalização de todo o equipamento a ser utilizado nos Jogos Rio-2016 com bastante antecedência. Nossa equipe irá reproduzir os seus procedimentos de controle de qualidade na fábrica deles - afirmou ao L!, por e-mail, o Chefe do Departamento Técnico da federação, Jason Smithwick.
A empresa responsável pela produção dos equipamentos é a Neilpryde, que detém o monopólio no setor. Uma visita ao site da classe RS:X mostra como a relação entre as partes é estreita: há até um link no menu da página com o nome da fabricante, direcionando o leitor para o site da empresa.
Enquanto isso, a falta de concorrência na produção é apontada como um problema por quem compete. Os brasileiros convocados para os Jogos do Rio reclamam que as quilhas se quebram com facilidade e apresentam defeitos que prejudicam seu rendimento.
"Além das quilhas, as pranchas e velas podem apresentar defeitos cruciais que venham a atrapalhar o desempenho dos atletas, mas só nos resta torcer no sorteio dos equipamentos - Patricia Freitas, sobre os materiais que serão cedidos pela organização dos Jogos Rio-2016.
- A World Sailing trabalha em estreita colaboração com a classe RS: X e a Neilpryde. Nós temos atuado de forma integrante na obtenção de um novo design com a classe e a fabricante, e ainda estamos em discussões sobre este problema - disse Smithwick.
A compra dos equipamentos dos brasileiros é de responsabilidade do Comitê Olímpico do Brasil (COB). A entidade não respondeu aos questionamentos do L! sobre o assunto.
Federação também propõe solução 'caseira'
Para a Olimpíada do Rio, foi decidido pela World Sailing que atletas poderão, se for de sua preferência, levar quilhas, mastros e retrancas. Já as pranchas e as velas serão cedidas por sorteio, pois precisam ter um padrão de design com as cores do Brasil.
A mudança veio após uma série de reclamações sobre irregularidades e falhas nos equipamentos fornecidos pelos organizadores dos Jogos de Londres (ING)-2012.
Na avaliação de Jason Smithwick, esta é uma alternativa para os velejadores evitarem prejuízos relacionados à qualidade do material adquirido durante a disputa na capital fluminense.
- A partir de uma iniciativa da RS:X e da World Sailing, os velejadores estão autorizados a levar o seu próprio equipamento, experimentado e testado, para mitigar quaisquer problemas - declarou o dirigente da federação.
O problema é que, na prática, a liberdade de escolha é ilusória. Embora o Brasil seja referência na vela, com 17 medalhas em Jogos Olímpicos até hoje, a fabricação das peças não é feita no país e segue padrões internacionais.
De quebra, as quilhas que Patricia utilizou em 2015, quando faturou o ouro no Pan de Toronto (CAN), são de uma edição proibida para os Jogos. A sete meses do evento, ela ainda não conhece as peças que terá à disposição.