Não é só o Brasil que tem em um líbero habilidoso uma lição de como se defender dos ataques potentes que a vida impõe. Se o bicampeão olímpico Serginho inspira milhões de brasileiros pela juventude humilde, convertida em uma das mais vitoriosas carreiras do esporte, a seleção masculina de vôlei sentado dos Estados Unidos leva John Kremer como exemplo.
Ex-militar da Marinha americana, o atleta embarcou rumo ao Rio de Janeiro para disputar pela primeira vez os Jogos Paralímpicos no dia 1º de setembro. Poderia ser uma data trágica, já que a viagem aconteceu seis anos após ele pisar em uma mina que explodiu durante uma operação na guerra do Afeganistão. O episódio custou a amputação das pernas abaixo do joelho.
Mas Kremer, sempre um apaixonado por esportes, tinha um bom motivo para reaprender a andar e viver. Sua única filha, Adalyn, de seis anos, nasceu 12 dias antes do acidente. O temor de que passar anos em uma cadeira de rodas deu lugar a outro sentimento.
– O melhor dia da minha vida foi quando minha filha nasceu. Depois da explosão, me apeguei a ela para voltar a andar. Hoje, não penso mais na guerra. Eu estou em outro momento e muito feliz de disputar os Jogos no Rio – falou John, ao LANCE!.
O jogador iniciou a carreira militar em 2003, um ano após concluir o ensino médio. Logo, tornou-se técnico de eliminação de engenhos explosivos da Marinha. Não era nenhuma novidade a tarefa para o qual foi designado na ocasião do drama que passou. Antes, ele havia atuado em três operações na Guerra do Iraque.
A paixão pelo universo militar vinha desde a infância. Tanto que Kremer nunca imaginou que pudesse se tornar atleta de alto rendimento, apesar da vida ativa. Em dezembro de 2010, três meses após a amputação, ele já andava de forma independente, com duas próteses. Em fevereiro do ano seguinte, praticava paraquedismo e corrida. Adalyn tentava dar os primeiros passos.
"Eu era como muitas crianças que gostam de armas de brinquedo, e brincam de ser polícia e de pegar ladrões. Era divertido"- Kremer
– As pessoas me perguntam porque eu fui para a Marinha. Tem a ver com minha infância. Era como muitas crianças que gostam de armas de brinquedo, e brincam de ser polícia e de pegar ladrões. Era divertido (risos) – disse o atleta, que rodou os Estados Unidos quando criança, pois seu pai também serviu à Marinha.
Após perderem os dois primeiros jogos, para Brasil e Alemanha, os americanos amargam a lanterna do Grupo A, e não têm mais chances de classificação para a semi (os dois melhores de cada chave avançam, e os demais disputam o quinto e sétimo lugares). O time encara o Egito hoje, às 14h, no Pavilhão 6 do Riocentro.
– Hoje, eu passo 90% do tempo jogando vôlei. Mas ainda não há uma liga em nosso país. Nosso time se reúne em alguns campings por dois meses. Ainda temos de crescer, mas há um programa no país funcionando para que isto aconteça – contou o líbero, que vive em treina em Buford, na Georgia.
Brasil encara a Alemanha de olho em vaga
A Seleção Brasileira masculina de vôlei sentado tentará hoje a recuperação nos Jogos Paralímpicos do Rio. A equipe enfrenta a Alemanha às 20h30, no Riocentro, em busca de uma vaga na semifinal.
Após estrearem com vitória sobre os Estados Unidos por 3 a 0, os brasileiros levaram a pior contra o Egito, no tie-break. Com isso, os comandados de Fernando Guimarães ocupam a vice-liderança do Grupo A, atrás dos algozes da última rodada, que triunfaram duas vezes na competição.
Atual vice-campeão mundial, o Brasil busca sua primeira medalha em Jogos Paralímpicos. Os principais oponentes da Seleção no torneio são o Irã e a Bósnia, além dos egípcios.
Invictas e já classificadas à semifinal, as meninas do Brasil encaram Holanda hoje, às 10h, pelo Grupo A.
A GUERRA
Contexto
A guerra em que o líbero John Kremer perdeu as duas pernas foi desencadeada em resposta aos atentados terroristas perpetrados pela Al-Qaeda no dia 11 de setembro de 2001. Uma força internacional, liderada pelos Estados Unidos, deu início aos bombardeios no Afeganistão. Era o início da Operação Liberdade Duradoura, aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU, sob justificativa de derrubar o Talibã. A chegada de Barack Obama à presidência levou ao início da retirada das tropas, mas não encerrou os conflitos até hoje.
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Consequência
A Organização das Nações Unidas (ONU) registrou 25 mil mortes entre 2007 e 2016. O número de vítimas em todo o período é desconhecido.