O complexo sistema de dopagem na Rússia que envolveu desde atletas e técnicos até membros do governo só confirmou o que grande parcela do atletismo brasileiro já desconfiava. Maior esperança de medalha do Brasil na modalidade nos Jogos Rio-2016, a saltadora Fabiana Murer não foi pega de surpresa com o relatório de uma comissão da Agência Mundial Antidoping (Wada) divulgado na última segunda-feira. O documento aponta sucessivas falhas no controle do uso de substâncias proibidas no país.
– É estranho imaginar uma Olimpíada sem a Rússia. É um país que ganhava tantas medalhas... mas hoje a gente entende o porquê – disse Murer após evento da Nike nesta quarta-feira, no Rio de Janeiro, ao ser indagada sobre uma possível ausência da nação na Rio-2016.
Atual vice-campeã mundial na prova e medalhista de prata nos Jogos Pan-Americano de Toronto (CAN), Murer não quis se posicionar sobre a conduta de uma de suas maiores rivais, a bicampeã olímpica Yelena Isinbayeva. A brasileira afirmou que já manteve contato com a russa no passado, mas diz que hoje elas só conversam em competições.
– Só estou pensando em mim. Não posso falar por ela. Não sei se (todos os atletas) devem ser banidos. É algo para ser analisado – afirmou a atleta, que encerrará a carreira no Rio de Janeiro.
Dentre os suspeitos de terem participado do esquema russo estão nomes como Mariya Savinova, campeã olímpica dos 800m em Londres-2012, Ekaterina Poistogova (bronze na mesma prova naquele ano), Anastasiya Bazdyreva (400m e 800 m), Kristina Ugarova (1.500 m) e Tatjana Myazina (800m), além de cinco treinadores.
"Infelizmente, mancha o atletismo. Precisamos de apoio, não de situações como essa. Os que lutam pelo esporte limpo ficam em desvantagem" - Duda, atleta do salto em distância.
Os russos terminaram os Jogos de Londres (ING), em 2012, na segunda colocação geral na modalidade, atrás somente dos Estados Unidos. Foram 17 láureas, sendo oito ouros, quatro pratas e cinco bronzes.
O conselho da Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF) se reunirá entre os dias 25 e 27 deste mês, em Monte Carlo, para analisar o caso e avaliar possíveis sanções ao país. O importante, para a atleta, é que medidas sejam tomadas.
– Acho legal que estão indo atrás, descobrindo os casos e que deverão punir esses atletas que burlam o sistema. Não foi uma surpresa tão grande para as pessoas envolvidas no atletismo, porque já ouvíamos falarem algumas coisas, só que ninguém tinha prova de nada. Vemos que nossas desconfianças tinham fundamento. Mas o importante é eu não me preocupar se a Rússia vai ou não. Se e Isinbayeva não for e eu não saltar nada, não adianta – falou.
Outra aposta do país, mas no salto em distância, Marcus Vinícius da Silva, o Duda, viu a divulgação das notícias sobre o escândalo como uma comprovação do que já era imaginado. Mas não escondeu a surpresa:
– Vi com uma grande surpresa. Pela forma como está sendo divulgado, é porque é algo verídico. Nos bastidores, sempre se ouviu dizer que atleta A, B ou C da Rússia estaria tomando substâncias proibidas. Mostra que aquela falação de antes era concreta. Infelizmente, mancha o atletismo. Precisamos de apoio, não de situações como essa. Quando saíamos do país, ouvíamos as pessoas falando, suspeitando. Os que lutam pelo esporte limpo ficam em desvantagem – declarou.
Destaque da equipe brasileira de revezamento 4x100m e dos 100m, Ana Cláudia Lemos lembrou os cuidados que toma para não correr riscos.
– Todo remédio que preciso tomar pergunto ao médico. Não bebo água de ninguém e não como a comida de outras pessoas. São cuidados básicos que temos de ter. Somos responsáveis por tudo o que entra em nosso organismo. Nunca é bom quando falam do seu esporte. Mas não é algo que eu procure saber. O meu objetivo é sempre o meu treinamento e o meu resultado – falou.