A paixão de Erasmo Braga sempre foi correr. Algo que vai além do espírito olímpico do “competir”. Ele nunca deu muita bola para isso. O importante era correr. Todos os dias, de cinco a dez quilômetros pelas ruas e bosques de Vinhedo, no interior de São Paulo. Até que um dia, seus filhos e netos começaram a comparar os tempos do atleta amador com os de campeões do atletismo. Descobriram que ele perdeu anos em que poderia ter ganhado medalhas em torneios pelo mundo na categoria master.
Erasmo tem 87 anos e sonha em participar do primeiro mundial da carreira. Será em Perth, na Austrália, no começo de novembro deste ano.
- Eu era muito fraco quando criança. Tinha de fazer exercício. Comecei a correr e nunca mais adoeci. Tem aqueles dias em que a gente não está tão bem disposto, com preguiça. Mas quando começa a correr, isso passa – explica, ao LANCE!
Enquanto o mundo estará de olho na Olimpíada do Rio, que terá a cerimônia de abertura nesta sexta, Erasmo vai passar pela maior competição da carreira. Não será nenhuma prova de pedestrianismo e sim, reunir R$ 28 mil para pagar os custos da viagem à Austrália. Dinheiro que ele não tem.
- Até agora, conseguimos R$ 3 mil. Estamos buscando patrocínios e temos algumas promessas – afirma o filho Amauri.
Quando estava com 80 anos, Erasmo correu os 42 quilômetros da Maratona de Blumenau em 4h10min. Era mais diversão do que qualquer outra coisa. Uma delas era ver os olhares que os mais jovens lhe davam quando viam um senhor octagenário pronto para participar da prova mais longa e exigente do atletismo.
- Eles é que estão botando fé em mim, muito mais do que eu. Nunca pensei em participar de um Mundial. Mas se acontecer, vou – assegura.
“Eles” são a própria família, que lançou a campanha para levá-lo à Austrália e criaram o site “Corre, Erasmo” para arrecadar recursos e fazer o sonho virar realidade. Será o maior momento esportivo do veterano que sempre praticou o esporte pelo esporte, sem ter na cabeça recompensas financeiras ou a glória.
A ambição de Erasmo se resumia a provas locais, como os Jogos Regionais em São Paulo. Representou Mogi Guaçu e Vinhedo. Para que pensar em mais? Apenas correr já estava bom demais.
- Nem sei como é na Austrália. Nunca imaginei viajar para um lugar desses.
Pelas estatísticas da família, se tivesse competido no Mundial master de 2015, em Lyon, na França, ele teria ganhado medalhas de ouro, prata e bronze. Seu tempo de 3'56'' seria o suficiente para vencer a prova dos 800 metros. Nos 1.500 metros, teria ficado com o segundo lugar, com 8'26''. Seria bronze nos 5.000 metros, com 29'28''.
Na Olimpíada do Rio, o atletismo brasileiro tem chances reais no salto com vara feminino, revezamento 4x100 metros feminino e nas marchas atléticas masculina e feminina. Quatro medalhas. Sozinho, Erasmo pode ganhar três no Mundial masters de Perth. Sem nenhum treinamento especializado.
A alimentação é balanceada porque ele quer. Não come açúcar ou frituras. Não bebe refrigerantes.
- O máximo que ele se permite é uma taça de vinho de vez em quando – completa Amauri.
São poucos concorrentes que encontra na categoria master no Brasil. Até brinca que, geralmente, são “japoneses”. Diz que os orientais gostam mais de correr quando chegam à velhice. Sabe que na Austrália poderá enfrentar rivais de até 100 anos. Será uma mudança e tanto.
- Aqui (no Brasil) estou acostumado a correr contra a garotada – conta.
“Garotada”, para Erasmo, são os adversários de 60 anos.