A belga Marieke Vervoort consegue abrir um sorriso sincero, apesar do drama com o qual aprendeu a conviver. Ela sofre de uma doença muscular degenerativa incurável na coluna vertebral e já até assinou o documento mais delicado de sua vida, em 2008.
O problema causa dores intensas, que a impedem de dormir. Por causa disso, a atleta de 37 anos decidiu autorizar a eutanásia, prática legal no país europeu. Quando utilizará o papel? Ela ainda não sabe. No momento, só quer aproveitar os dias longe da rotina de esportista de alto rendimento, marcada por horas de treinos e restrições.
O poder de interromper a vida foi visto como um alívio para quem enfrenta o sofrimento desde os 20 anos, em uma cadeira de rodas. Aos 15, foi diagnosticada com o problema, que resultou em paraplegia. Mas nada impediu que a atleta construísse uma trajetória vitoriosa e se tornasse referência no movimento paralímpico.
A velocista faturou o ouro nos Jogos de Londres nos 100m (19s69) e a prata nos 200m (34s83), além de três títulos no Mundial de Doha (QAT), no ano passado, nos 100m (20s39), 200m (35s91) e 400m (1m08s40). Veio ao Rio com a intenção de encerrar a carreira, e confirmou a meta neste sábado.
Marieke faturou a medalha de prata na prova dos 400m T52 nos Jogos Paralímpicos do Rio, no Engenhão, com 1m07s62.
– Não está certo que a eutanásia acontecerá logo após o Rio. Vamos ver. Tomei a decisão há muito tempo, em 2008. Mas um jornalista escreveu um grande título sobre isto em um jornal. Eu não decidi ainda – declarou a atleta.
Ao ser questionada pelo LANCE! sobre os seus sonhos para o futuro, Marieke fez questão de valorizar o presente.
– Eu só sei que estou muito, mas muito feliz – disse a atleta, nascida em Diest.
– A lista é bem grande. Eu quero fazer algumas loucuras e aproveitar o tempo com a família e os amigos, o que não conseguia enquanto treinava– declarou.
O Comitê Olímpico da Bélgica marcou uma coletiva de imprensa para este domingo, no Parque Olímpico, para que ela possa contar sua história. Uma narrativa que comoveu o mundo. Após competir, a belga foi aconselhada a não responder a muitas questões sobre a eutanásia. Mas foi inevitável.
– Vou me aposentar feliz. Fiz tudo o que podia pela minha saúde. Tomo medicamentos para suportar as dores, e tem sido muito difícil – contou Marieke, que mora com seu inseparável cachorro Zen.
A medalha de ouro ficou com a canadense Michelle Stilwell (1m05s43), maior rival de Marieke. A americana Kerry Morgan faturou o bronze (1m08s31).
– Foi incrível entrar no estádio. Não havia só pessoas da Bélgica gritando o meu nome, mas também de outros países. Tudo ocorreu bem, mas enfrenei uma adversária mais rápida hoje. Mesmo assim, fiquei emocionada – disse.
A atleta ainda defende no Rio o título dos 100m T52. A prova, a última de sua carreira, acontece no dia 17, às 11h05, no Engenhão.