Em reunião ocorrida na noite desta terça-feira, na Vila Belmiro, o Conselho Deliberativo do Santos reprovou pela segunda vez, por ampla maioria, as contas do primeiro ano da gestão de José Carlos Peres. Somente quatro conselheiros votaram contra.
Os conselheiros seguiram a nova recomendação do Conselho Fiscal que, mesmo após os argumentos da defesa da diretoria santista (veja ao fim da matéria), optou pela desaprovação.
Há um mês, depois da apresentação do parecer do Conselho Fiscal, os conselheiros recusaram as contas na primeira reunião. Depois disso, o Comitê de Gestão, sob o comando de José Carlos Peres, apresentou sua defesa, como determina o estatuto social.
O resultado final apontou um prejuízo de R$ 77 milhões, sem contar o dinheiro da venda de Rodrygo para o Real Madrid – 20 milhões de euros (cerca de R$ 87,5 milhões) da primeira parcela, já paga, e 25 milhões (R$ 109,4 milhões) a serem quitados em junho. A diretoria comandada por Peres diz ter pago R$ 74 milhões em compromissos pendentes de gestões anteriores.
Agora, a Comissão de Inquérito e Sindicância emitirá um relatório para apontar ou não irregularidades administrativas. Em caso de comprovação de gestão temerária, a chapa pode perder o mandato. Haverá também o precedente para pedidos de impeachment ou até expulsão direta do quadro de associados.
A justificativa de José Carlos Peres:
Em documento assinado por José Carlos Peres representando o Comitê de Gestão, o Santos justificou da seguinte forma os três “itens impeditivos à aprovação das contas”:
1- É do conhecimento do Conselho Fiscal que os valores orçados levados em consideração para fins de comparação entre Orçado x Realizado é irreal. As grandes divergências são decorrentes da distorção dos valores orçados, tendo em vista que são baseados no estimado em outubro de 2016, sem qualquer alteração pela gestão anterior, com a projeção para 2017 apenas com a atualização do INPC a 1,8%.
O orçamento para o ano de 2018, elaborado pela gestão anterior, não foi aprovado por ser totalmente incompatível com a realidade dos acontecimentos do ano. Ademais, cumpre informar que nem mesmo uma suplementação ou remanejamento de verba supriria as necessidades para adequação do orçamento. Por exemplo, a rubrica “remuneração já estava abaixo do orçamento anterior – o que não se cumpriu em 2017. Tal orçamento, elaborado sem qualquer observância da realidade do clube pela gestão anterior, deu causa a uma grande divergência entre os números, mas não afetando o parecer elaborado pelos auditores independentes nas demonstrações financeiras.
Além disso, cumpre ressaltar os seguintes pontos:
a) Negociação de atletas não realizada em sua totalidade: R$ 61 milhões (Vale ressaltar a venda do atleta Rodrygo, que consta em receitas a apropriar em 2019 – 45 milhões de euros).
b) Valores orçados de TV/Licenciamento/Patrocínios/Sócios/Bilheteria: R$ 42 milhões.
c) Valores não orçados para Direitos de Imagem (ITG 2003): R$ 14 milhões.
d) Valores orçados a menor para Remuneração-Futebol: R$ 29 milhões.
e) Provisões para contingências não orçadas: R$ 10 milhões.
f) Nova estrutura com serviços de terceiros por mudanças administrativas em 2017 e 2018: R$ 3,5 milhões.
g) Redução significativa das despesas financeiras, por redução de juros e tx de variação cambial: (-) 17 milhões
2 – Em 2018, honramos compromissos financeiros pendentes e assumidos em anos anteriores em valor superior a R$ 74 milhões conforme tabela abaixo indicada. Dos valores de impostos em aberto no montante de R$ 14 milhões, foram quitados R$ 10 milhões, ficando R$ 4 milhões em aberto. Vale ressaltar que em 2018 foram quitados R$ 17,4 milhões de tributos em atraso do ano de 2017, possibilitando a obtenção da Certidão Negativa de Débitos Federais e FGTS. Observem que até 31 de dezembro de 2018 foram quitados todos os empréstimos efetuados junto aos bancos.
3 – Por normas contábeis não foi lançado em 2018 a venda de Rodrygo, o que geraria uma receita líquida de aproximadamente R$ 150 milhões. O eventual lançamento no exercício de 2018 nos daria um resultado com superávit de R$ 72 milhões. Esse cenário projeta uma redução na ordem de R$ 150 milhões do passivo descoberto.
De qualquer forma não houve aumento real no passivo do clube, conforme demonstra a análise do passivo circulante, desconsiderando o diferimento da receita da venda do atleta Rodrygo.
Simulação do balanço com a venda de Rodrygo (Reprodução)Além disso, os reflexos financeiros da primeira parcela da venda (de Rodrygo) ocorreram em 2018 e permitiram o pagamento de vários compromissos do clube.
Sobre o PROFUT, a administração possui diversas evidências para demonstrar que está honrando os pagamentos, bem como as demais determinações legislativas. Ademais, cumpre informar que a Receita Federal ainda não consolidou as dívidas do Santos.
Nos termos dos artigos 20 e seguintes da Lei Federal nº 13.155/15 será concedido prazo para a manifestação da entidade de prática desportiva para que apresente os argumentos e justificativas sobre o eventual descumprimento. Neste ponto, caso ocorra, serão prestados os esclarecimentos necessários sobre a posição contábil do Santos na venda de Rodrygo.
Concluímos que as demonstrações financeiras mostram um cenário financeiro satisfatório ao clube, apontando uma evolução significativa em relação a anos anteriores.