Elano planeja três anos como auxiliar no Santos e não se vê em outro clube

Em entrevista exclusiva ao LANCE!, Elano diz que planeja estudar antes de virar técnico, fala sobre suas referências para exercer a nova função e conta o que planeja para 2017

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Elano começará uma nova etapa em sua vida a partir de 2017, quando assumirá a função de auxiliar permanente da comissão técnica do Santos. O ex-meia, que conquistou sete títulos pelo Peixe (Brasileiro em 2002 e 04, Libertadores em 2011 e Paulistão em 2011, 12, 15 e 16), por enquanto não se vê exercendo o cargo em outro clube.

O agora auxiliar também não tem pressa para tornar-se técnico. Com o conhecimento adquirido durante a carreira de jogador, ele pretende fazer cursos para evoluir na nova função. O planejamento de Elano é ficar pelo menos três anos no cargo até virar treinador, principalmente se Dorival Júnior ainda estiver no clube.

- No momento, trabalhar fora do Santos não passa pela minha cabeça. Lógico que no futebol a gente nunca sabe o que pode acontecer. Eu estou fazendo essa transição, em 2017 serei auxiliar do clube no início dessa minha carreira. Enquanto o Dorival estiver aqui, dificilmente vou querer ser o treinador, até por respeito a ele. Mas em três ou quatro anos, se conseguir fazer meus estágios e ter uma evolução, e se eu tiver uma oportunidade de ser treinador aqui, seria gratificante e muito prazeroso. Mas não posso descartar uma situação para frente. O momento é esse, e minha vontade é ficar aqui eternamente. Eu vivo aqui, meus filhos estudam aqui, mas eu não posso garantir porque o futebol é muito dinâmico - afirmou Elano, em entrevista exclusiva ao LANCE!.

Durante os cerca de 30 minutos de conversa, Elano falou sobre suas referências para exercer a nova função, disse que não quer perder o vínculo com os jogadores e contou o que planeja para 2017. Confira abaixo:

O que quer levar de cada técnico que já trabalhou?
Na verdade, aprendi uma coisa com cada um. Uns me deixaram de lado, outros me deram mais oportunidades. O Leão foi um cara fantástico, foi ele que me colocou para jogar e meu total confiança. Mas um ano antes, em 2001, com toda aquela dificuldade, o Geninho foi um dos que mais me deu oportunidade de jogar. O Parreira foi importante mesmo sem eu estar jogando. O Giba me trouxe para o Santos. Com o Luxemburgo aprendi muito na parte tática. Na Seleção o Dunga foi um cara fantástico, me passou toda a tranquilidade para eu jogar como se estivesse no Santos. O Sven-Göran Eriksson me deu total liberdade na Inglaterra. Trabalhar com o Frank Rijkaard foi fantástico, ele tem muita sabedoria e simplicidade. Poderia falar características de cada um, porque todos foram importantes para mim.

Ouviu muitas críticas sobre esses técnicos. Quando pensou em fazer parte da comissão, pensou que poderia receber críticas também?
Sim, claro, tem gente que me critica até hoje como atleta. Tem pessoa que já não simpatiza com você mesmo sem não conhecer. Cabe a você, no meio do futebol, ou atleta ou comissão, ter tempo e tranquilidade. Tem que ter paciência com imprensa, torcedor, com seu próprio trabalho. E no Brasil não é simples isso, aqui é muito em cima de resultados. Mas lógico que ponderei, acordei de madrugada, perdi o sono, até chegar no momento decisivo para falar "vou parar".

Quando bateu o martelo sobre a decisão?
Tive um convite do Modesto há um bom tempo, neste ano ainda. Com Marcelo Fernandes e Chulapa na comissão. Eu já havia comunicado a eles que tinha essa oportunidade de trabalharmos juntos caso eu aceitasse. A saída do Marcelo (que deixou o cargo de auxiliar de Dorival) não tem relação com a minha contratação, queria deixar isso bem claro. Muitas coisas se falam e fica ruim para todos os lados. Eu parei para pensar por muito tempo, há uns quatro meses vinha pensando. Acho que foi um momento bom, vai ser um ano positivo, com campeonatos importantes, eu vou poder crescer muito nesse lado da comissão técnica e auxiliando, porque acredito que tenho muitas coisas positivas para poder passar e colaborar nos treinamentos, como vinha fazendo mesmo como atleta.

O Marcelo e o Chulapa têm grande parcela. Eles me davam total liberdade, principalmente depois que o Enderson (Moreira) foi embora. O Robinho e o Renato jogavam mais, e eu conseguia trabalhar com os meninos que não jogam. Ficava com um papel difícil de ter que animar os caras, motivá-los. Com a chegada de Dorival, fui ganhando força ainda mais. Essa vontade cresceu. Trabalhar com um cara fantástico como o Dorival. O Lucas, filho dele, tem bons treinos. Tem a fisiologia e fisioterapia também. Todos esses fatores influenciaram muito para eu tomar essa decisão em paz, que isso que é o principal.

Teme que a rotatividade do futebol te obrigue a subir de degrau rapidamente?
Eu agora sou um auxiliar fixo como o Serginho Chulapa. No momento, ele está na minha frente. Automaticamente, se acontecer qualquer situação com o Dorival Júnior, o treinador seria o Chulapa. Mas eu não pretendo assumir o cargo como treinador em menos que três anos. No meu ponto de vista, isso seria queimar etapa. Acredito que tenho que me preparar e estudar. Ainda tenho muitas coisas para aprender. Estou recomeçando. Na minha carreira de atleta não pulei etapas, e agora também não quero fazer isso.

O que estudar?
Eu já falo inglês, mas pretendo falar fluentemente. Quero fazer o curso da Uefa no futuro. Vou ver o curso da CBF. Evoluir, procurar aprender, tentar estar perto da Seleção. Ver como está o time do Tite. O Edu Gaspar (coordenador da CBF) é um grande amigo que eu tenho. Quero aproximar para poder fazer um trabalho bom aqui no clube para ajudar, que é uma coisa que eu sempre coloco à frente de tudo.

Está se mudando muita coisa. O Gabriel Jesus chegou no Manchester City e o treinador o levou para jantar. Eu não quero perder o vínculo com os jogadores, as amizades que eu tenho, mas é lógico que não vou sair para tomar café todo dia com os caras. Não adianta eu ser hipócrita, vai chegar uma hora que vou ter que escalar alguém ou cortar alguém, mas não quero perder esse vínculo de poder falar e ouvir. É isso que eu quero tentar ser: um treinador simples, sem inventar nada.

É mais difícil ou fácil por já conhecer o grupo?
Acho mais fácil porque eu conheço a característica de cada um dentro e fora de campo. Além de ver os jogadores atuando, eu convivo com eles todos os dias. A gente faz churrasco na minha casa toda semana e vai metade do time. A gente partilha dificuldades, tristezas... e eu não quero perder isso. Claro que tem que haver um respeito dentro do trabalho, mas eles sabem que têm um cara do lado.

Faz parte do sonho de vida essa decisão?
Meu sonho era jogar futebol. Seleção de 94 foi a idade que eu estava começando a ser um atleta, então meu sonho era jogar. Acho que Deus me deu muito mais do que imaginava. Ganhei os principais títulos em um clube grande como o Santos, só faltou o Mundial. Poder fazer história, mesmo que possa ser pequena diante de muitos que passaram, em um clube como esse é uma gratidão enorme.

Por que não se imagina fora do Santos a daqui uns dez anos?
Aqui tem o lado sentimento, amizade e o lado conquista. É um contexto completo. Eu vivi muito esse lado humano em todos os clubes que eu joguei. Minha filha é torcedora do Manchester City, por exemplo. Ela nasceu na Inglaterra. A filha do meio, a Maria Clara. São sentimentos gostosos que vivi na minha carreira. Nunca tive problema com imprensa ou torcedor. São coisas positivas que levo na minha carreira. E eu sou chato dentro do meu trabalho: eu cobro e xingo, mas saiu dali, pode contar comigo porque eu sou um irmão para qualquer situação.

Ficou chateado com alguma crítica da torcida ao vivo ou internet?
Quando você alcança um alto nível, quando não ganha você é cobrado em alta voz, mas é uma coisa natural. Hoje, vendo mais de fora, vejo como é bonito o torcedor. Tem situações que a gente não concorda, mas o torcedor faz parte do clube. Tinha que voltar bandeirão, batuque e duas torcidas nos clássicos, essas coisas simples que hoje em dia se tornaram impossíveis. Mas é uma coisa que faz parte do trabalho, não é para se condenar, as críticas acontecem naturalmente.

Tem vontade de mudar mais as coisas aqui no Brasil?
O que me fez tomar essa decisão, além das pessoas que já citei, é olhar para trás e ver tudo o que eu fiz. Eu não posso virar as costas para o futebol e deixar na mão de outra pessoa. Por tudo que eu vivi eu acho que posso acrescentar. É isso que eu quero, vou lutar pelo meu clube e tenho que acreditar nas minhas ideias para que eu possa abrir um leque de discussões. Não quero mudar tudo sozinho, mas quero resultado.

Se já estivesse na comissão, aceitaria entrar em campo contra a Ponte? (jogo alterado das 21h de sábado para as 11h de domingo).
Não tem como a gente não entrar. A gente não queria, mas não tinha como. O time é penalizado. Se o Santos entrasse com o pedido e perdesse, o clube poderia ser desclassificado do campeonato. A gente não teve tempo. Do mal, tiramos todo o bem. Acho que tudo foi muito positivo. Nos reunimos num restaurante em Campinas e falamos: "rapaziada, não temos o que fazer. Foi uma sacanagem, uma trairagem que fizeram com a gente, mas vamos para o campo às 11h e vamos ganhar". Então foi positivo, apesar da grande sacanagem que fizeram.

O Léo participa da gestão. Você vai para a comissão técnica. Acha que isso deixa o futebol mais saudável?
É necessário e importante. Nós temos na base ex-atletas que tomam conta. Eu estou puxando a fila junto com o Léo. Eu acredito que no futuro possa ter mais para fazer ainda melhor. Temos muitas coisas boas e novas na cabeça. Quero que o Santos cresça em vitórias, atletas e outras situações. Vou procurar evoluir e cobrar.

Você e o Léo já aposentaram e assumiram outras funções. Acha que Renato ou até mesmo o Robinho possa seguir esse caminho?
A gente brinca: "no futuro vamos trabalhar juntos", mas só sei do meu. Seria maravilhoso. O Renatinho pode ser o cara de relações com aquela tranquilidade (risos). Seria fantástico, vamos ver no futuro.

Tem alguma coisa que queria ter feito diferente aqui dentro?
Não sei. Acho que fiz tudo, de certo e de errado. Faz parte. Sorri bastante e chorei mais de alegria. Nunca perdi uma final jogando. Perdi só do lado de fora a Libertadores (2003).

O técnico Elano colocaria o jogador Elano de centroavante?
Mole. Joguei de centroavante em 2003 contra o Atlético-MG e fiz dois gols. Com o Luxemburgo. Santos ganhou de 3 a 2, e fiz dois gols.

Mas contra o Corinthians este ano era uma outra situação...
Sabe por que eu joguei? A gente sabia que tinha grande possibilidade de não ganhar, e fiquei preocupado em preservar os moleques. Na derrota eles iam ser xingados, depois perdem a confiança. Se perder eles vão me xingar, mas já estou vacinado. Entrei para dar uma blindada nos caras e tirar o foco da rapaziada. Eu também tenho força para atacar, chuto bem, tenho boa bola parada.

Você seria ousado assim?
Vou fazer o que o jogo pede. Não tem como pensar nisso. Tem que ter um perfil, uma linha, e eu quero ser parceiro dos caras. Não falar amém para tudo, e sim de trocar ideia. Tem que cobrar, claro, mas com um ambiente leve, de troca de informações, para todo mundo poder evoluir.

Agora auxiliar, vai deixar de ser um Menino da Vila?
História sempre fica, isso nunca apaga. Pode não ter foto ou vídeo, mas é minha história. Menino da Vila não sei se vai apagar. Que possam surgir outros.

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