Na estreia de Diego Aguirre, ficou a impressão de que quem estava no banco era Dorival Júnior em seu pior momento no São Paulo. De nada adiantaram as soluções apontadas por André Jardine em seus dois jogos à frente do time interinamente. O técnico uruguaio quis testar Diego Souza, Nenê e Cueva juntos sob o seu comando, e o Tricolor pagou caro: levou 1 a 0 do São Caetano e precisa vencer por, ao menos, dois gols de diferença na terça, no Morumbi.
Diante do Red Bull, no domingo passado, Jardine já tinha mostrado que Diego Souza rende mais como meia chegando à área. Contra o CRB, na quarta-feira, ficou claro que Valdívia e Cueva precisam de uma alternativa de velocidade, que é exatamente Marcos Guilherme (Dorival usou essa opção em seus últimos jogos), e que Júnior Tavares pode ser um lateral que vira meio-campista, ajustando o setor, inclusive numericamente, tanto para marcar quanto para levar a equipe à frente. Mas tudo isso foi esquecido.
Aguirre fez questão de ver uma equipe que o são-paulino cansou de vaiar, inclusive nas vitórias, no início da temporada. Dorival mesmo já tinha concluído que esse renomado, mas pesado trio, prejudica. Só que o uruguaio não estava convencido, e não mexeu nem no intervalo. Enxergar Diego Souza confortavelmente sem ação entre os zagueiros adversários e Nenê como um previsível ponta direita canhoto, sempre puxando para a perna esquerda para cruzar, é algo que o novo técnico precisava ver de perto para crer que não funciona.
- Tentei colocá-los (Cueva, Diego Souza e Nenê juntos) para encontrar um futebol pelo meio. Sei que, talvez, não funcionou anteriormente, mas você também tem de transmitir confiança aos jogadores. Quero criar minhas próprias conclusões. Cada jogo é uma oportunidade, e os jogadores podem aproveitar ou não. Obviamente, não gostei do jogo, mas fiquei com algumas ideias e temos de trabalhar - disse Aguirre, após a partida.
Pintado, que trabalhou no São Paulo até julho, nem precisava conhecer tão bem o adversário para invalidar Júnior Tavares como alternativa na saída de bola, como Jardine indicou. Forçar as jogadas em cima do lateral com menor poder de marcação é uma das estratégias mais básicas e antigas do futebol, e, com isso, o São Caetano ainda anulou Valdívia, que precisava voltar o tempo todo para ajudar Júnior e perdia força ofensiva. Quando não recuou, Alex Reinaldo teve liberdade para cruzar, Jean falhou e Chiquinho fez o gol do jogo.
Além de não manter a evolução do time, Aguirre chegou a atrapalhar. Os raros minutos de luz do São Paulo no primeiro tempo ocorreram quando os jogadores se ajustaram, com Nenê centralizado e Cueva na direita, oferecendo a velocidade que o veterano camisa 7 já não tem mais. Porém, bastou a parada para hidratação e o técnico uruguaio resolveu recolocar Nenê aberto e aproximar Cueva de Diego Souza. Na prática, isolou o seu setor ofensivo e deu ao São Caetano dois terços do campo para atuar como quisesse.
Quando Marcos Guilherme entrou no lugar de Cueva, aos 15 minutos do segundo tempo, sua velocidade não seria mais tão decisiva. O São Caetano já vencia e ficava com quase o time inteiro da intermediária defensiva para trás, sem nenhuma vergonha de limitar-se a dar chutão sempre que tivesse a bola. Diante de um rival com criatividade quase nula, o Azulão de Pintado entendeu que bastava não dar espaço para garantir a vitória.
É legítimo e justo que Aguirre teste todas as opções que tem, até porque o São Paulo de 2018 está longe de apresentar qualquer solução definitiva. Mas insistir em erros tão recentes em uma partida decisiva pode colocar já no uruguaio uma pressão ainda maior, com uma vexatória eliminação nas quartas de final do Campeonato Paulista. Ao torcedor, resta esperar que o técnico tenha aprendido a lição para o jogo das 21h desta terça-feira, no Morumbi.
Confira como, na prática, a movimentação dos titulares na derrota para o São Caetano afastou ainda mais o São Paulo do gol no Anacleto Campanella: