O empate sem gols entre São Paulo e Tolima foi o quarto jogo de Dorival Júnior, em uma sequência que, querendo ou não, foi desgastante. Pouco tempo para treinar, o problema de lesões e a rotina exaustiva de viagem - que consistiu em uma ida para Curitiba, com escala em Bogotá, até chegar no destino, no caso, a cidade de Ibagué. E diante a este contexto, é possível afirmar: o São Paulo, coletivamente, não tem apresentado muita evolução.
Com Rogério Ceni, o time apresentava um coletivo mais padronizado, fruto do tempo de trabalho, apostando bastante na amplitude e um pouco mais posicional, Dorival, nessas primeiras partidas, dá maior liberdade aos jogadores e busca o jogo mais por dentro. Com algumas necessidades de poupar jogadores e dar mais rodagem para o elenco, o treinador optou por um meio de campo com Gabriel Neves e Pablo Maia, Alisson um pouco mais avançado e Michel Araujo passou a integrar o ataque, jogando mais aberto.
ATUAÇÕES: Meio de campo sofre na criação, e São Paulo leva pouco perigo ao Tolima em empate sem gols
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Marcos Paulo e Luciano completaram o trio de ataque, o primeiro aberto na esquerda e o segundo centralizado. Além disso, com as subidas de Caio pelo lado esquerdo, o time buscou uma postura mais ofensiva. Mas tudo isso leva a um mesmo ponto: com o pouco tempo para trabalhar e a sequência dura de jogos - que ainda se estenderá por boa parte do mês de maio -, Dorival Júnior ainda não tem um trabalho tão bem consolidado.
Dá para enxergar algo neste São Paulo, mas faltam padrões coletivos mais concretos. É um time que, em muitos momentos, depende de individualidades. Isso era visto em alguns lances em específicos. Apesar da boa fase nos últimos jogos, Marcos Paulo, por exemplo, 'prendia' muito a bola, buscando jogadas individuais. Caio também acabou indo por essa linha, principalmente no primeiro tempo - teve opções de passe ao cortar para dentro, mas preferiu o drible e a finalização. E sem uma proposta de jogo coletiva muito concreta e de uma estratégia mais clara quanto a isso, depender de individualidades pode ser perigoso.
Se dá para dizer algo desta partida em questão, tendo em vista o adversário muito mais fraco tecnicamente, o São Paulo fez um jogo muito ruim. Com a entrada de Juan no ataque, no segundo tempo, o time se movimentou um pouco mais e a Cria de Cotia chegou perto de abrir o placar - só não conseguindo graças à defesa do goleiro Vargas.
E neste ponto, cabe ressaltar uma diferença notada entre Ceni e Dorival. O atual treinador cria muito mais jogo pelo meio do campo e sem apostas em bola aérea. Sem Calleri e Erison, essa postura poderia potencializar os jogadores escalados. Inclusive, no segundo tempo quando o Tricolor começou a encaixar mais jogo, algumas tabelas por dentro até funcionaram melhor, mas se é possível explicar assim, foram 'aleatórias', fruto de uma aproximação dos jogadores na faixa central e movimentações sem um padrão específico, fruto da liberdade. Em uma delas, Caio se apresentou com Juan e Marcos Paulo à frente. Ainda é um time que depende muito desta aproximação de jogadores por dentro para esperar que estas individualidades 'aflorem'.
Vale destacar que Juan, ágil e jovem, adicionou mobilidade no setor. Rogério Ceni pouco utilizava o jogador como centroavante, optando por escalar o atleta como ponta e até mesmo ala em uma oportunidade.
Mas mesmo com uma partida abaixo e pouco produtiva, o São Paulo pouco sofreu. Isso porque, como dito, enfrentou uma equipe muito fraca e em momento semelhante. O Tolima teve a estreia do novo treinador, Juan Cruz Real, nesta terça-feira (2), e enfrentava um jejum de seis jogos sem vencer. Assim, também era uma equipe em trabalho prematuro e, por consequência, sem um padrão claro. E talvez justamente por este ponto, ficou 'um jogo ruim de ver', com as equipes tendo dificuldades em criar chances de perigo, mas dificilmente abdicando da posse. Em um jogo cômodo para o lado defensivo, o Tricolor até conseguiu criar um pouco mais. Mas quando criou, desperdiçou.
A individualidade pode potencializar o coletivo e vice-versa. Um coletivo bem formado deve tirar o melhor que pode do jogador em questão. Por exemplo, quando Marcos Paulo recebia uma bola pela esquerda, mantinha a posse - talvez por tempo até demais - e esperava opções. Não existia uma jogada mais padronizada, mais 'automática', o que é normal para um trabalho em início. Quando Juan entrou, algumas movimentações interessantes passaram a surgir pelas aproximações e o Tricolor começou a achar alguns caminhos.
Já o meio de campo foi muito pouco criativo. Talvez quem tivesse dado esta 'criatividade' maior tenha sido Gabriel Neves - que saiu na segunda etapa mancando, dando lugar a Rodrigo Nestor, que ainda sofre para conciliar criação e marcação quando escalado em dupla com outro volante. Foi um meio de campo que pensou muito pouco jogo, e assim, um time que pouco produz. E, desta forma, São Paulo e Tolima se tornou um jogo parado, com pouquíssimas chances de gol, com 'medo' de perder posse de bola, e tudo isso podendo ser justificado ainda por um trabalho embrionário, mas que está se desenvolvendo aos poucos. Mas algo é certo: é preciso criar um padrão e um coletivo melhor firmado, mas apenas tempo de trabalho pode proporcionar essa evolução.