Análise: entenda o jogo de empurra que pode levar o São Paulo ao buraco

Situação dramática no Campeonato Brasileiro e trocas de dirigentes expõem os problemas políticos do clube. Cada um vê seu lado e quem perde é a instituição

imagem cameraO presidente Carlos Augusto de Barros e Silva tem dificuldade para apaziguar a gestão (Foto: Divulgação/CBF)
Avatar
Lance!
São Paulo (SP)
Dia 08/09/2016
21:55
Compartilhar

A crise do São Paulo pode ser entendida por um jogo triste para a história tricolor . É mais ou menos assim: cada parte do clube tem uma corda e puxa para seu lado. No centro está o São Paulo, que se afunda no fim do jogo. O problema é que todas as cordas estão arrebentando. Depois de 23 rodadas do Campeonato Brasileiro, são apenas 28 pontos e a zona do rebaixamento logo ali. A Copa do Brasil ficou em segundo plano após a derrota no jogo de ida das oitavas de final para o Juventude. Mas, afinal, quem são os personagens deste jogo maldito e que força exercem no empurra-empurra? Veja abaixo. 

SITUAÇÃO FALHA

A saída do diretor-executivo Gustavo Vieira de Oliveira foi mais uma amostra de como a gestão do presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, iniciada em outubro do ano passado, é politicamente frágil. Na primeira grande turbulência, arrebentou-se o planejamento montado para 2016, tão elogiado lá atrás.  

Conheço Leco. Um sujeito esclarecido, honesto, bem intencionado e apaixonado pelo São Paulo. Mas, por várias razões e decisões equivocadas, não consegue estancar a sangria mesmo apresentando resultados expressivos, como a diminuição substancial da dívida do clube e uma tão pedida reforma estatutária. 

Leco não demitiu Gustavo, não demitiu Luiz Cunha, não demitiu Ataíde Gil Guerreiro, não demitiu Rodrigo Gaspar, seu assessor pessoal. No entanto, nos quatro casos mostrou inabilidade política. Com Gustavo, foi incapaz de blindar o executivo que respondia pelo planejamento no qual ele acredita, ou acreditava, e que o levou a colher frutos no primeiro semestre com a chegada à semifinal da Libertadores. Gustavo teve diversos erros, mas faltou convicção ao presidente. Agora, aposta em Marco Aurélio Cunha, enquanto Ataíde é elogiado, mas não servia para o futebol porque alvo da oposição. Virou diretor de relações institucionais, após ser expulso do Conselho. Cunha era elogiado, mas suas qualidades exaltadas pelo presidente na apresentação do ex-diretor foram enterradas após atrito com... Gustavo! No mínimo, Leco errou nas escolhas, como errou ao dar proteção a Gaspar, o assessor que chamou Rodrigo Caio de "jogador de condomínio". Sabe o que ganhou Gaspar? O direito de anunciar, antes do clube, a desistência na contratação de Getterson, aquele que se referiu ao São Paulo como "bambi". 

O São Paulo não conseguiu oferecer segurança a seus jogadores  e outros profissionais na invasão de marginais ao CT da Barra Funda e está de mãos atadas num processo que, salvo milagre, correrá a passos de tartaruga e não punirá ninguém. Não era o caso de "tapinhas" e "chutinhos". 

A OPOSIÇÃO PREDATÓRIA 

A ineficiência de Leco está ligada a uma oposição predatória, é preciso destacar. Alinhados com torcedores organizados, responsáveis por colocar o clube nas páginas policiais pelo menos duas vezes este ano (invasão ao CT e agressões a torcedores comuns na Libertadores), oposicionistas agem contra descaradamente. Sem uma liderança sequer com um mínimo de história e respeito no clube, são reconhecidos por uma rápida busca no Twitter: ex-CEO, ex-diretor de marketing, apresentador de televisão, ator, postam em sequência e desafiam a inteligência do torcedor mais avisado.

Ex-CEO, Alex Bourgeois hoje é oposição (Foto: PINHEIRO/FUTURA PRESS)


É necessário lembrar quem está do outro lado neste momento. Com a Torcida Independente, maior organizada do clube, liga-se o nome do empresário Abílio Diniz, que admitiu ao portal UOL que financiou o carnaval da torcida. Newton do Chapéu, rival de Leco na última eleição, compareceu à festas na quadra da torcida e postou fotos no Facebook. 

Aqui, mais um adendo: o barraco visto na reunião de Conselho Deliberativo na última segunda-feira, com troca de farpas entre os conselheiros Antonio Donizetti Gonçalves, o Dedé, e José Francisco Manssur, refletem a decadência da política são-paulina. Os tão alardeados cardeais estão presos em algum lugar no tempo. Hoje, o nível é outro.

TUAS GLÓRIAS VEM DO PASSADO?

Não se pode ignorar o contexto histórico ao expor a decadência política do São Paulo. Os dois mandatos antes da chegada de Leco foram desastrosos. O terceiro do já falecido Juvenal Juvêncio foi um erro atroz e o clube levará tempo para se recuperar. O meio mandato de Carlos Miguel Aidar banhou o Tricolor de vergonha. 

A MÁ FASE DENTRO DE CAMPO

Os jogadores pegam carona na política. Fazem promessas de corar aquele candidato mais bizarro que você vê na propaganda eleitoral: “Sabemos que a hora é agora”. "A Copa do Brasil é nossa Copa do Mundo". Mas a hora nunca chega e Copa do Mundo só daqui dois anos. Aqui, uma ressalva: é difícil exigir resultados de quem teve seu ambiente de trabalho invadido. Mas vem de antes. Depois da Libertadores, o São Paulo simplesmente estagnou. Uma vitória nos últimos dez jogos. 

Torcedores invadiram o CT no último dia 27 (Foto: Bruno Grossi)


QUEM VAI PAGAR A CONTA?

Poucas coisas são mais danosas à uma instituição do que a falta de responsabilidade e autocrítica. Ou o São Paulo cai na real ou a conta vai chegar. E quem vai pagar?



Siga o Lance! no Google News