‘Em casa’ no São Paulo, Renan vira goleiro das decisões e revê o Cruzeiro
Após quatro anos no clube, arqueiro conquista torcida e ganha sequência de Ceni em meio a mata-mata. Ao LANCE!, ele projeta tira-teima com velho conhecido no Morumbi
- Matéria
- Mais Notícias
Rogério Ceni se esquiva quando é perguntado se fixará um goleiro no São Paulo, mas, aos poucos, a posição vai sendo conquistada por quem iniciou o ano no fim da fila. Após perder a pré-temporada nos Estados Unidos por conta de uma lesão na coxa esquerda, Renan Ribeiro ganhou chance, aproveitou bem e foi o escolhido para ser titular no jogo mais importante do ano até aqui, contra o Cruzeiro, nesta quinta-feira, no Morumbi, pela ida da quarta fase da Copa do Brasil.
O sinal da confiança de Ceni vem dos jogos nos quais Renan foi escalado. Titular nesta noite, ele recebe a chance justamente no momento mais importante da temporada. Foi o titular nas quartas de final do Paulista e passou ileso contra o Linense: vitórias por 2 a 0 e 5 a 0. Renan também está invicto na temporada após cinco jogos disputados (duas vitórias e três empates). Boa fase que se reflete nas arquibancadas.
Se Ceni ainda tem dúvidas entre ele, Denis e Sidão, a torcida já o abraçou. A cada defesa no Morumbi, Renan tem seu nome gritado. Uma recompensa para quem espera por esse momento desde 2013, quando foi contratado ainda menino do Atlético-MG. O carinho mexe com o arqueiro, que volta a provar do aconchego de ter um lar, como ele se refere ao São Paulo.
- É um momento muito feliz na minha carreira e na minha vida. Fiquei quatro anos esperando por esse momento. Tive algumas oportunidades com Osorio (Juan Carlos, hoje técnico do México), nove jogos, depois trocou treinador e não me deram mais oportunidade. É um momento muito feliz, sabemos que não tem decisão de quem é o titular do São Paulo, mas é bom saber que estou pondendo colocar em prática o que vinha trabalhando, esses quatro anos de treinamento. Procuro encarar cada oportunidade como se fosse a última da minha vida, e acho que isso é que torna as partidas mais especiais. O nível de concentração vai lá em cima, e graças a Deus estou conseguindo fazer boas partidas e ajudar o São Paulo - analisou Renan, em entrevista exclusiva ao LANCE!.
Com o Morumbi cheio, Renan está consciente de que ir bem contra o Cruzeiro é um passo enorme para ganhar de vez a confiança de Ceni. Ele sabe como poucos o significado de um duelo contra o rival desta noite. Veio do Atlético-MG, principal rival da Raposa, e provou dos dois lados da moeda no maior clássico.
O início foi uma maravilha. Em 2010, aos 20 anos, estreou com vitória contra o maior rival. Seguiu assim nos dois jogos seguintes. O frio na barriga era acalmado pelos triunfos. Só alegria.
- Eu falo que o frio na barriga é bom, porque quando eu não sentir, é porque desmotivou e o futebol acabou. Fico feliz de sentir esse frio na barriga de uma partida, então acho que o primeiro clássico teve um gostinho especial porque estava saindo da base, da desconfiança do menino novo, e indo para o profissional. Fui bem, e ganhamos - relembrou Renan, citando o duelo vencido pelo Galo por 4 a 3 pelo Campeonato Brasileiro.
Mas a partir do quarto confronto a situação começou a mudar. O Cruzeiro venceu duas seguidas até que no dia 4 de dezembro de 2011 o goleiro viveu o momento mais doloroso de sua carreira, que ele não gosta nem de relembrar.
Era última rodada do Campeonato Brasileiro. Uma vitória do Atlético, que já não tinha mais grandes pretensões no campeonato, significaria impor ao rival seu pior momento na história: o Cruzeiro seria rebaixado se perdesse. Mas o destino foi cruel com a expectativa do Galo e com Renan. O que era para ser um dia de festa alvinegra virou humilhação. O Cruzeiro enfiou 6 a 1, se livrou e ainda terminou a temporada por cima.
- É um momento muito triste, ninguém quer entrar e perder. De seis ainda, ninguém quer. É um resultado que eu aprendi bastante, sabendo que o futebol é coletivo, de maneira nenhuma pode deixar acontecer uma situação dessa. É um momento para esquecer, mas também para recordar para trabalhar e não acontecer isso mais. Foi um momento delicado para todos os ateltas que estavam ali em campo. Cabe a cada um que esteve naquele jogo saber o que errou para não errar mais para conseguir resultados melhores - disse Renan.
Mas o momento agora é outro. Renan deu a volta por cima e está babando para o tira-teima contra os mineiros. Além de desempatar o confronto pessoal, de três vitórias para cada lado e um empate, ele sabe da importância de não sofrer gols em casa para a classificação. O time está há quatro jogos sem ser vazado e, se depender da vontade de Renan, o torcedor pode se preparar para gritar seu nome de novo nesta noite. A bola agora está com ele.
Confira abaixo entrevista com Renan Ribeiro, que relembra seu pior momento no São Paulo, faz críticas ao técnico Doriva, que passou pelo clube em 2015 e projeta o futuro no clube:
Qual balanço faz desses quatro anos de clube?
Foram quatro anos que ninguém gosta de ficar sem jogar, todo atleta quer jogar, o Osorio foi quem mais me deu oportunidades, tive nove jogos seguidos. Depois veio o Doriva, que me tirou por motivos que eu não sei, sem dar satisfação. Sabemos que treinador não tem que dar satisfação a atleta, e eu só pude encarar como decisão dele e continuar o trabalho. Sabendo que o tempo é de Deus, e nenhuma pessoa interfere nisso. Fui levando tranquilo, procuro encarar isso como motivação pessoal, sabendo que se não estou em campo é porque tenho algo a melhorar. Hoje acho que tudo que eu passei acaba no esquecimento, é uma nova página de uma nova história. Procuro sempre que tenho oportunidades fazer meu melhor, encarar como se fosse a última para ter boas atuações e ajudar o São Paulo
Qual momento mais complicado? Você pensou em sair, né?
Eu fiquei bastante chateado quando o Osorio foi embora, era um treinador que agregava muito, depois veio outro treinador e me tirou. Realmente fiquei chateado, porque não tinha motivos para aquela escolha dele. Mas o futebol é assim, são escolhas, só 11 entram em campo, e tenho que apenas acatar a decisão e continuar meu trabalho. Sobre a decisão de sair do São Paulo, nunca cheguei e falei que queria ir embora. Sempre falei que queria jogar. Se você só treinar, chega a um certo ponto que você não evolui mais. A atmosfera do treinamento é diferente. Essa decisão de "quero ir embora" agora nunca passou pela minha cabeça. Eu pensava em jogar e colocar em prática o que vinha trabalhando. Eu ficava com esse pensamento para saber o que eu poderia melhorar. Quero sempre evoluir, nunca vai esta bom para mim. Sempre vou querer o melhor Renan, e isso vai ser o melhor para o time, para a minha carreira, para tudo.
Você chegou em 2013 e o São Paulo não é campeão desde 2012. Por que isso acontece?
Acho que esses quatro anos que passaram foram anos um pouco conturbados para o São Paulo, com trocas de diretoria, coisas que eu não me meto, acredito que a gente não conseguiu fazer bons anos. É questão de momento, não conseguimos fazer boas competições a nivel de ter o mérito de ser campeão, mas acredito que agora, com o Rogério e o time que a gente tem, acredito que temos potencial para conseguir títulos, virar essa página. Um clube como o São Paulo não pode passar tanto tempo sem ganhar títulos, acho agora não tem momento melhor para conseguir um título
Como projeta esse duelo com o Cruzeiro?
Cruzeiro é um clube grande, a gente sabe que tem bom elenco, vai ser um jogo muito bom de jogar, sabemos que é questão de detalhes, a equipe que errar menos vai sair vitoriosa, só que dentro da nassa casa temos que impor nosso ritmo para conseguir o resultado. É fazer o melhor dentro do Morumbi para conseguir um bom resultado e ir mais tranquilo para Minas
Tem a decisão contra o Cruzeiro e logo depois a semifinal contra o Corinthians. Como se preparar?
A gente fala que esse mês de abril, senão me engano são sete jogos importantes e já jogamos três, então esse mês é muito importante, um mês de decisões, são jogos importantes, todo mundo está atento a isso, são jogos de detalhes, tem que se entragar ao máximo, sabendo que são momentos de decisões tanto para a nossa carreira profissional quanto para o clube. Qual jogador não quer jogar uma final? Então são jogos importantes, nossa equipe está preparada, viemos crescendo durante a temporada, desde a Florida Cup até esse momento, que é o mais importante até agora para a gente. Temos que colocar em prática tudo de positivo que fizemos e esquecer o negativo, porque agora não é hora mais de errar
Imagina que será fixado nesses últimos jogos?
Eu não tenho que achar nada, a decisão fica para o Rogério. Se eu for acionado, pode ter certeza de que vou fazer o meu melhor para conseguir os três pontos. Mas a decisão sempre vai ser dele, não cabe a mim escolher. Ele sabe quem vai escolher. Se for acionado, vou procurar fazer meu melhor
Estaria melhor se fosse fixado?
É uma decisão dele. Todo atleta quer estar dentro de campo, e comigo não é diferente. Mas sabendo que existe um treinador que tem a escolha. A escolha é dele, e vou procurar continuar trabalhando
A torcida tem gritado seu nome. Qual é a sensação?
Fico muito feliz com o carinho da torcida, sou muito grato ao torcedor poque em todo momento que tive em campo eles sempre me apoiaram, isso me motiva para cada vez mais trabalhar firme nos treinamentos para retribuir esse carinho dentro de campo
Por que o time parou de sofrer gol?
Acho que nossa equipe veio crescendo, está em um momento muito bom, vinha tomando muitos ghols de bola parada, a gente treina todo dia isso, e acho que nosso time está mais preparado hoje. Está em um momento muito bom, por isso está conseguindo os resultados sem tomar gol. O mais importante é sempre a vitória, independentemente de tomar gol. Não me importo se tomar gol e o time ganhar
Você se considera um líder?
Todo mundo que entra em campo tem que ser o líder. A partir do momento que você não entra em campo pensando só em você, você acaba se tornando um líder. Porque um líder quer fazer para o outro sabendo que é um esporte coletivo. Não existe um líder, existem vários dentro de campo. Todo mundo é importante.
Goleiro precisa ser mais líder, não?
Falo que o goleiro é quem olha totalmente o jogo, então acaba que tem que ter uma liderança maior dentro dos 11 ali, mas todo mundo tem que ter o instinto líder em campo. A partir do momento que todo mundo pensa dessa forma, isso tem a agregar para a equipe
E quais os planos para o futuro? Você se imagina ficando muitos anos no clube como o Rogério?
Quem não quer fazer a história que ele fez? Não sou diferente, toda competição quero conquistar o título. Costumo dizer que o futuro pertence a Deus. Posso falar que estou muito feliz aqui no São Paulo, me sinto em casa aqui, passo mais tempo aqui dentro do clube, estou muito feliz e espero ficar até quando Deus permitir e todos quiserem
O São Paulo é favorito contra o Cruzeiro?
Acho que não existe favoritismo. É uma competição que vamos encarar boas equipes, mas temos um elenco muito bom, a nível de conseguir esse título. É um jogo de cada vez, e se conseguirmos colocar em prática tudo que vem treinando e cada um atingir os 100%, acredito em favoritismo
Qual recado pode dar para a torcida?
Falo para os torcedores são muito importantes. Quando o estádio está lotado, eles são jogador a mais para a gente em campo. Eles fazem a diferença total. A atmosfera fica diferente. Vamos lotar o Morumbi para nos ajudar cada vez mais.
Relacionadas
Mais lidas
Newsletter do Lance!
O melhor do esporte na sua manhã!- Matéria
- Mais Notícias