A crise no futebol do São Paulo, que agoniza na zona de rebaixamento no Campeonato Brasileiro, agravou as críticas ao presidente Carlos Augusto de Barros e Silva. De um dirigente visto com firmeza em suas decisões, mesmo tendo de peitar boa parte da opinião pública e de conselheiros, como ao segurar por tempos o aliado Ataíde Gil Guerreiro, Leco passou a ser fortemente cobrado este ano, e a maioria das reclamações se pautam em decisões do cartola consideradas de caráter populista. Ou, em outras palavras, para agradar à maioria, sem necessariamente ter um planejamento.
Oposicionistas e até aliados enumeram algumas medidas tomadas este ano por Leco neste sentido. A principal é a contratação de Rogério Ceni para o cargo de treinador. Com a demissão anunciada após seis meses de trabalho do ídolo, Leco é acusado de tê-lo usado para se eleger no pleito de abril, vencido em disputa com José Eduardo de Mesquita Pimenta. Essa é, inclusive, uma das interpretações de Ceni para sua saída, de acordo com quem pessoas próximas do ex-goleiro.
Outras decisões citadas com frequência são a renovação de contrato do zagueiro Lugano, que Leco a princípio era contra, a aproximação de Raí para o Conselho de Administração - o ídolo seria mais um escudo do dirigente -, a forma como se deu a aplicação do novo Estatuto, e por último a reunião com torcedores no CT da Barra Funda e a possibilidade de contar com apoio de Muricy Ramalho, de quem o presidente sempre foi crítico. Tudo isso internamente foi encarado como fruto de um projeto fracasso, que não sabe que rumo tomar.
Enquanto isso, Leco tenta ficar longe dos holofotes. A última entrevista coletiva do dirigente foi no dia 25 de julho, na apresentação do meia Hernanes, a grande cartada para tirar o time da zona do rebaixamento. O presidente também desapareceu do Twitter. Sua conta oficial, criada pouco antes da eleição e bem ativa no início, está abandonada. A última postagem foi em 19 de julho, anunciando a contratação do Profeta. Antes da eleição, ele também já recusado entrevistas. Deu uma única exclusiva.
O presidente tem perdido apoio político nos bastidores. O vice geral, Roberto Natel, se distanciou da administração. Isso já tinha acontecido em setembro do ano passado, quando Natel chegou a se desligar do clube visando a eleição deste ano. No entanto, perto do pleito o vice voltou atrás e fez parte da chapa de Leco. Agora, novamente desavenças de pensamento expõe a crise no comando do São Paulo. E Leco ainda pode ficar marcado como o primeiro presidente que rebaixou o São Paulo na última história. A pressão é grande.
Veja abaixo itens que são considerados atitudes populistas do presidente Leco, cujo mandato vai até dezembro de 2020:
Contratação de Rogério Ceni
Amarrada desde o ano passado, quando Ricardo Gomes ainda era o técnico. Visão foi alimentada depois que o presidente demitiu o treinador com seis meses de trabalho. Leco sempre disse que contratou porque confiava nas ideias do ídolo.
Renovação de Lugano
Leco era contra. Até por isso, o assunto demorou a ser discutido. Seus aliados dizem que o técnico Rogério Ceni também era contra no início, e teria dito no início que gostaria de que a situação fosse resolvido logo. Nessa mesma visão, Ceni teria mudado o discurso por conta do apelo popular, e à medida em que o time passou a ir mal. no fim, Leco acabou renovando com o ídolo por mais seis meses.
Chuva de renovações
Antes de Lugano, o São Paulo acertou novos contratos de maneira consecutiva, próximo à eleição de abril, o que também foi motivo de críticas. A diretoria renovou com Cueva, Thiago Mendes, Rodrigo Caio, Luiz Araújo e Lucas Fernandes. Todos receberam aumento, sendo que Thiago e Araújo foram vendidos depois na janela do meio do ano, para o Lille (FRA), algo que desagradou ao técnico Rogério Ceni.
Novo Estatuto
Leco sempre anunciou a formulação do documento como um marco da história do São Paulo, objeto que traria a tão sonhada profissionalização ao clube. A prática, porém, foi diferente. Na constituição das diretorias executivas, que deveriam ser compostas por profissionais renomados de cada ramo, o dirigente incorporou pessoas que já estavam na administração passada e que o ajudaram a ganhar a eleição. Elias Barquete Albarello, diretor executivo de finanças, é especialista na área, mas também é conselheiro e já foi vice-presidente com Leco, e diretor de estádio na gestão de Carlos Miguel Aidar, o antecessor de Leco. Rodrigo Gaspar, diretor de administração, era assessor de Leco e ficou famoso pela por ter chamado Rodrigo Caio de "zagueiro de condomínio". Já o futebol, principal pasta do clube, foi entregue a Vinicius Pinotti, ex-diretor de marketing do clube. Apesar de o profissional nunca ter tido outra experiência neste cargo, sua escolha foi defendida com o argumento de que ele é especialista em gestão. Pinotti dirige uma grande empresa de cosméticos. Ele entrou na política do clube a partir de 2015, quando emprestou dinheiro para a contratação do argentino Centurión.
Reunião com torcida
Em agosto do ano passado, Leco anunciou rompimento com as torcidas organizadas. Isso foi logo depois da invasão ao CT da Barra Funda. Presidente disse ter cortado ajuda financeira e qualquer benefício. Essa semana, no entanto, o clube recebeu membros das duas principais organizadas para uma reunião no CT da Barra Funda. Partiu da Independente e da Dragões da Real o pedido, que foi aceito após análise interna. O papo teve clima ameno.
Aproximação com Muricy
Leco ficou conhecido como um dos maiores críticos de Muricy, quando da passagem do treinador que rendeu o tricampeonato brasileiro ao São Paulo, entre 2006 e 2008. Foi um dos favoráveis à demissão do técnico em 2009. Agora, o clube abriu as portas para Muricy tentar ajudar o time a sair da zona do rebaixamento, depois de o -ex-técnico ter se colocado à disposição. Na quarta-feira, Leco disse que Muricy será uma espécie de consultor informal do time, provavelmente indo ao CT algumas vezes para falar com o grupo e comissão técnica.