Daniel Alves narrou em entrevista à TV Bandeirantes nesta segunda-feira um encontro que teve com Fernando Diniz em Paris, antes que os dois acertassem com o São Paulo. O camisa 10 conta ter dito para o treinador que ele era o melhor do Brasil, mas que ainda não havia encontrado as peças que o fizessem vencer para confirmar isso.
- Isso eu falei para o Diniz quando o conheci em Paris: "Para mim você é o melhor treinador do Brasil, mas você não encontrou as peças que te façam o melhor treinador do Brasil". Não vale ter conceito, não vale ter ideias, se você não tem pessoas que executem para você poder ganhar. O Diniz praticava a maior posse de bola, o maior domínio de jogo, mas não ganhava. Eu falei: "Essa história precisa mudar, você precisa encontrar pessoas que façam com que seu trabalho seja valorizado". E olha que eu nem sonhava em trabalhar com ele. Quando chegou aqui e a gente se reuniu, a primeira coisa que falei foi: "a gente precisa ganhar, a gente está em um clube grande, em um momento de seca muito grande, a gente precisa salvar isso, mas sem você perder a sua filosofia e sem que eu perca a minha". Eu sou ganhador, mas gosto de fazer meus companheiros desfrutarem, de se ter a sensação de que esse é o clube que quero para mim. Essa foi minha ideia de quando decidir vir para o São Paulo. Implementar isso, criar uma ideia de que essa é a filosofia São Paulo.
Daniel foi fundamental para a chegada de Fernando Diniz ao São Paulo. Quando Cuca pediu demissão, em setembro do ano passado, a diretoria planejava efetivar o coordenador-técnico Vagner Mancini no cargo pelo menos até dezembro, mas um grupo de jogadores sugeriu o nome de Diniz, que foi aceito.
Daniel diz que está tentando mostrar às pessoas do São Paulo que é preciso confiar em uma ideia e "viver o processo", algo que o clube não fez, por exemplo, ao ser comandado por quatro treinadores distintos ao longo de 2019: André Jardine, Vagner Mancini (interinamente), Cuca e Diniz.
- Tudo tem que ter um processo. Já falei que as competições que foram ganhas perdem o sentido depois que eu tiro foto com o troféu. Se você vier um dia na minha casa você não vai ver um troféu aqui, uma réplica, porque não posso alimentar meu ego com isso. Ganhei uma Champions League? Ok, tirei a foto, maneiro, registrei, vamos seguir a vida. A nossa vida não é o que a gente fez, é o que a gente faz. Se você passar um tempo sem ganhar nada as pessoas vão esquecer, vão te cobrar, vaiar. O que eu quero implementar no São Paulo é que para você conquistar a coisas e ser um clube sólido você tem que viver o processo. Escolher o que quer para sua vida e viver aquele processo. Você não pode ter quatro treinadores em um ano num clube grande como o São Paulo. Não pode, porque você não tem a estabilidade que precisa para construir a sua história. O melhor produto a nível individual está aqui no Brasil e isso não vai mudar. Mas se você não vive o processo você não vai conseguir nada. Todo mundo olha para a Europa e fala: "ah, o Liverpool". Quanto tempo o Liverpool passou sem ganhar uma Premier League? Foram 20 anos. Você tem que viver o processo, senão você não sabe porque ganha, empata ou perde. Se você não tem uma filosofia de trabalho, uma estrutura, você vai oscilando. A minha ideia aqui no São Paulo é que o clube crie uma filosofia de como fazer as coisas, de como competir. De as pessoas olharem para o São Paulo e falarem: "caramba, o São Paulo joga bem futebol. E ganha". Porque o que vale é ganhar nas nossas vidas.