Realizada na semana passada, a eleição presidencial do São Paulo foi um pouco ofuscada por ter acontecido em meio às decisões no Campeonato Paulista e Copa do Brasil. É um problema antigo do clube, aparentemente solucionado pelo novo Estatuto, documento que entrou em vigor este ano e prevê eleições em dezembro a partir de 2020. Pois bem. O São Paulo foi eliminado nas duas competições, aumentando ainda mais a responsabilidade de Carlos Augusto de Barros e Silva, reeleito presidente agora com mandato de três anos. Leco, como é conhecido, sabe da importância do período em que estará à frente do clube e tem em sua própria experiência pessoal um estímulo se quiser ficar conhecido como o presidente que devolveu a glória ao Tricolor.
Leco tem 78 anos. Foi eleito presidente pela primeira vez com mandato tampão em outubro de 2015, depois da renúncia de Carlos Miguel Aidar. Tinha, então, 76 anos. Realizou ali o maior sonho de sua vida, em suas próprias palavras, o que para muitos era algo inatingível. Por quê? Porque Leco se caracterizou como uma das figuras mais controversas da política do São Paulo, algo que ele conseguiu superar mesmo em idade já tão avançada.
Passional ao extremo, o presidente era mal visto por muitos por ter posicionamento firme sobre alguns assuntos caros ao clube. Ficou famoso, por exemplo, por ser opositor ferrenho ao trabalho de Muricy Ramalho, mesmo na época do tricampeonato brasileiro conquistado sob o comando do ex-técnico. O atacante Dagoberto era outro alvo fácil. Leco não conseguia conter sua opinião e volta e meia a dividia com jornalistas, o que causava aborrecimento em outros membros da diretoria. Isso fez o ex-presidente Juvenal Juvêncio afastá-lo da diretoria de futebol em 2011 após a eliminação da Copa do Brasil para o Avaí. Leco virou vice-presidente de Juvenal. E o famoso dirigente, morto em 2015, talvez não soubesse, mas seria responsável direto ou indiretamente pela grande transformação que levou o atual presidente a realizar seu sonho quebrando prognósticos.
Leco sofreu um abalo emocional fortíssimo em 2014. Falo da escolha de Juvenal de indicar Carlos Miguel Aidar como seu sucessor à presidência, preterindo aquele que o acompanhava por quase 20 anos. Foi um duro golpe na carreira do dirigente, talvez até maior do que a derrota de 2000 para Paulo Amaral, quando perdeu o pleito por apenas dois votos. Leco ficou triste, abatido, se sentiu traído, humilhado. Mas, ao mesmo tempo, nascia ali o dirigente que hoje é chamado de sereno não por poucos e que, na semana passada, ganhou de José Eduardo de Mesquita Pimenta, o condutor do período mais vitorioso do clube, o direito de ser o primeiro presidente remunerado da história do Tricolor. Não é pouca coisa. E isso só aconteceu porque Leco conseguiu se reciclar mesmo aos 76 anos. Não é tarefa das mais simples e ele teve de aprender na dor de ser rejeitado, colocado de escanteio para a volta de uma figura que mancharia a história do clube.
E é justamente de uma grande reciclagem que o São Paulo necessita para voltar a orgulhar seu torcedor com títulos. Não é segredo para ninguém que, por diversas razões, o clube estacionou no tempo. A coleção de eliminações, algumas vexatórias, é de perder de vista. Mas há esperança e passa, antes de tudo, pela implantação sólida do novo Estatuto, uma das promessas de campanha do presidente. Mais do que necessária, a gestão profissional virou caso de sobrevivência para o Tricolor. O torcedor não aguenta mais ser motivo de chacota de rival. Passa pela manutenção e amparo do inovador trabalho do técnico Rogério Ceni. É de convicção e firmeza nas decisões que o clube precisa, algo raro nesse período de limbo. Passa por manter o elenco atual, mas buscar melhores parceiros para reforçá-lo com pelo menos dois grandes nomes para o segundo semestre. Pela diminuição da dívida, como tem sido feita, mas sem deixar de ousar nos investimentos, desde que com responsabilidade. Pela relação honesta e próxima com o torcedor que ainda acredita na virada. Ingressos com preços razoáveis, como vem sendo praticados, mas também melhores estratégias para não deixar escapar o principal produto do clube.
Uma das primeiras palavras de Leco após ser reeleito na semana passada foi de que estava feliz porque agora esse era "seu mandato". De fato, ele conquistou essa condição. Agora, mais do que nunca, precisa agir como se fosse o presidente mais importante da história do clube. É de uma virada assim que o torcedor precisa. E que colocará o mandatário na história. Dependerá dele como ela será contada no futuro. A volta por cima ele já deu uma vez.