Lesões, timidez e doping: o drama de Gonzalo Carneiro no São Paulo
Atacante chegou ao Tricolor lesionado, demorou a estrear e nunca conseguiu se firmar. Sua timidez sempre foi notada, e empresário falou em depressão após exame antidoping positivo
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Diego Lugano é um fã quase incondicional de Gonzalo Carneiro. Responsável por indicar a contratação do atacante uruguaio ao São Paulo no ano passado, o superintendente de relações institucionais do clube não se cansa de elogiar a força, a explosão e a qualidade técnica do jogador de 23 anos, que ele diz ser cobiçado por diversos clubes grandes do continente. Mas o próprio Lugano vinha percebendo algo diferente nos últimos tempos.
Carneiro não mostrava entusiasmo ao ouvi-lo sugerir que ele treinasse para corrigir deficiências específicas, como o cabeceio, e para fortalecer a musculatura, evitando ficar fora dos jogos a qualquer dor que aparecesse. O ídolo percebia o compatriota até evitando dialogar com ele. Segundo Pablo Bentacur, agente do atacante, essa introspecção fez com que Lugano tentasse convencê-lo a procurar ajuda:
- Lugano me comentou que várias vezes quis ajudar, levando-o a especialistas, mas ele se fechava, não ia, não ia - disse o empresário à rádio uruguaia "Sport 980".
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Toda essa preocupação surgiu meses antes de Gonzalo Carneiro testar positivo em exame antidoping realizado após o jogo contra o Palmeiras na primeira fase do Paulistão. Ele está suspenso preventivamente e a suspeita é de que tenha feito uso de cocaína - algo que seu empresário acredita ter acontecido por engano.
Carneiro não chegou a se consultar com profissionais, mas quem convive com ele acredita que o problema maior seja a depressão, em quadro que teria se iniciado ainda no Defensor (URU), no fim de 2017, quando uma pubalgia o afastou dos gramados.
A última partida dele pelo Defensor foi em novembro de 2017. Contratado pelo São Paulo em abril de 2018 - após ficar muito perto do Grêmio, que desistiu justamente devido ao problema clínico -, só estreou em julho.
- Gonzalo esteve oito meses sem jogar e isso o afetou, o levou a uma profunda depressão, da qual era muito difícil sair. É um menino que fala pouco, introvertido, e uma coisa leva a outra. Hoje estamos tentando dar-lhe uma mão, porque é um bom menino que cometeu um erro. Não quero tocar mais no tema, porque depressão é delicado - disse Bentacur.
O uruguaio fez 15 jogos pelo Tricolor no ano passado, todos com Diego Aguirre. Inclusive, foi titular nas quatro últimas partidas sob o comando do uruguaio, mas sofreu um estiramento na coxa direita e perdeu a reta final da temporada.
Em janeiro, irritou-se por não ter sido acionado na Florida Cup - André Jardine disse que iria utilizá-lo no jogo contra o Ajax e que não o fez devido a um incômodo muscular - e não apareceu na concentração para a estreia no Paulistão, contra o Mirassol. Multado, pediu desculpas à diretoria e ao elenco e logo foi reintegrado para, aos poucos, começar a ganhar espaço no elenco - entrou na semifinal contra o Palmeiras, quando bateu um pênalti de cavadinha, e foi titular na primeira final contra o Corinthians, totalizando nove jogos em 2019.
Ao saber sobre o doping, na semana passada, Cuca chamou o jogador para uma conversa e percebeu que a pressão de jogar no São Paulo e a dificuldade para engrenar mexeram com o emocional dele.
- Eu senti muita insegurança nele em termos de estar em um grande clube e não estar se sentindo totalmente à vontade. São coisas que, às vezes, o jogador não te passa. Ele me falou isso, que poderia estar mais à vontade. Uma coisa puxa a outra. Ele viveu aquele grande momento dele no pênalti que bateu, recuperou a auto-estima, a confiança do torcedor. No outro jogo ele já não foi tão bem, já caiu. Essa insegurança ele passou para mim, uma pena ter falado com ele tão tarde - disse o técnico.
Cuca se sensibilizou com o caso, chegando a se emocionar durante a conversa, e não quer que o São Paulo vire as costas para Gonzalo Carneiro. A diretoria ainda aguarda mais informações sobre o caso de doping para se manifestar e definir o que fazer. No ano passado, após algumas "segundas chances", o clube optou por rescindir o contrato de Régis, que foi diagnosticado como dependente químico. As informações preliminares dão conta de que não é o caso de Carneiro, que mesmo assim corre risco de levar uma suspensão grande.
O jogador já não apareceu no treino de terça-feira. Ele tem até esta quarta para decidir se deseja a contraprova ou não. Se não solicitar, aceitará o resultado do primeiro exame e irá a julgamento no Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem, em Brasília.
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