O envolvimento do São Paulo com o Uruguai é histórico e tem em Diego Lugano seu ícone mais recente, não à toa foi ele o escolhido para ser o personagem principal do lançamento do terceiro uniforme do Tricolor na cor azul celeste, na última quinta-feira, em um camarote no Morumbi. Atualmente diretor de relações institucionais do clube, o uruguaio tem vivido seus dias de dirigente tão intensamente quanto mostrava dentro de campo.
Ao LANCE!, o ex-zagueiro falou das contratações de Daniel Alves e Juanfran, nas quais teve participação essencial, da nova camisa são-paulina em homenagem a seu país das cobranças dos torcedores, do momento de ascensão e otimismo do time na temporada, entre outros assuntos.
Lugano não poupou elogios aos reforços recém-chegados ao São Paulo. Para ele, são peças que caem como uma luva no elenco e definitivamente recebem sua benção como personagens identificados com o clube, que não pouparão esforços para fazer história com o uniforme tricolor.
- Dois profissionais de altíssimo nível, ganhadores, com experiência, idade. Um cara experiente tem história e prestígio para defender, sei muito bem do que se trata porque na minha última fase a imprensa não entendia, eu estava em fim de carreira. Se você tem prestígio e história, os últimos anos talvez sejam os mais importantes de sua vida. Jogadores desse nível vão defender seu prestígio até a morte - declarou ao LANCE!.
O uruguaio também aproveitou para contar um pouco de sua participação na chegada de Daniel Alves ao Tricolor e revelou o papo que teve com o capitão da Seleção Brasileira no dia de sua apresentação no Morumbi. Para o dirigente, Dani é um jogador movido a desafios e por isso aceitou voltar ao Brasil.
- Começamos a falar realmente dentro do vestiário do PSG, quando fiz uma viagem em maio. Tenho muitos amigos lá. Desafio o Dani a encarar esse desafio, que talvez seja o mais difícil de sua carreira, porque ser profeta em sua terra é o mais difícil que existe. Ele é um superstar e gostou dessa ideia. Ele tem uma chama competitiva, que não se apaga nunca. Isso o motivou a vir para o São Paulo, voltar ao Brasil. Desafio enorme para ele. Em um momento dificílimo para o time, com todas as dificuldades que têm no futebol brasileiro, que talvez seja o mais complicado do mundo. Por isso, no dia da apresentação dele, eu falei: "você tem culhão mesmo. Eu achei que você era medroso, mas tem culhão mesmo". É um cara competitivo, encara os desafios.
Lugano não tem dúvidas sobre a adaptação da dupla ao futebol brasileiro, assim como tem certeza do que ambos podem trazer de benefício ao clube e aos companheiros. Para o ex-zagueiros, as mudanças já são nítidas.
- A bola é a mesma em toda parte do mundo, mas o que eles trouxeram ao universo São Paulo de expectativa, energia, posição do São Paulo no mundo, contagia todo mundo, inclusive os jogadores. Essa foi um pouco também a intenção de trazer deles. No dia a dia, no vestiário, é um trabalho de formiga que complementa o que já tem. Não tem nenhum mistério em especial, mas os caras trazem um contexto que vocês já viram como mudou o São Paulo nas últimas semanas. Só isso já indica que deu certo.
Confira a entrevista completa com Diego Lugano:
Qual é o sentimento de ver um clube em que você fez história homenagear os vínculos que tem com o seu país de origem?
Talvez a maior homenagem que eu possa fazer à nação são-paulina, aos jogadores, quando você sai do país, sai para fazer sua vida, mas você também sai do seu país. Uma nação como São Paulo, com 20 milhões de torcedores, cinco vezes mais a população do Uruguai, tem essa identificação histórica com o Uruguai. Na verdade, deixa a gente um pouco até com vergonha, porque o peso é muito grande. Fiquei analisando, poucos times do mundo fazem isso com um país, isso deixa a gente muito grato. Tentando entender o porquê, vai muito além do futebol, acho que a cultura uruguaia é muito semelhante ao universo São Paulo em valores, maneira de se conduzir, o São Paulo historicamente é correto, democrático, todo mundo dá sua opinião. O Uruguai sempre foi o país da democracia mais forte da América Latina. Não pode ser apenas por fazer gol ou ganhar um título, é um negócio um pouco mais profundo.
O que faltava antes e agora foi preenchido para atingir esta boa fase do time?
Não acho que faltou personalidade neste ano. Talvez ano passado faltava um pouco de história, experiência. Experiência não é idade, é ter currículo, título, enfim, história no futebol. O elenco do São Paulo hoje está sólido, complementado. Tem jogadores ganhadores, como Juan, Dani, o Profeta, que são ídolos do clube, a torcida se identifica, tem uma geração nova excelente e muitos jogadores no auge da sua carreira, como Volpi, Arboleda, Bruno Pablo, então acho que o elenco é diferenciado. É por aí que se ganha coisas importantes.
A presença de jogadores mais experientes, pode tirar espaço dos mais jovens?
Na posição de Dani e Juanfran a única opção era Igor, então nesse caso específico não encaixa essa visão que você tem. Mas a ideia é eles serem complementares, não vão jogar sempre, mas obviamente eles têm muito para aportar aos garotos, até para que joguem mais tranquilos e não sintam tanto o peso da responsabilidade.
Você sempre teve um discurso de cobrança, mas sempre otimista, mesmo na má fase. O que você espera do São Paulo a partir de agora?
O elenco está fortíssimo, temos um grande elenco, trouxemos jogadores de muito peso internacional, treinador com experiência, está se fazendo as coisas bem. Agora é ter esperança e cremos na história de que podemos ser campeões. A cobrança, desde que seja civilizada, e não essa porcaria que vemos em aeroporto, se for inteligente, é bem-vinda, porque os jogadores precisam sentir isso. Na Argentina já falam para prestar a atenção no São Paulo, porque poderá ser protagonista no continente. Então, já estão vendo assim fora do Brasil. Temos de assimilar essa responsabilidade como positiva, porque você competindo lá em cima, um dia conquista o título.