Luiz Gomes: São Paulo vive ‘futuro em jogo’ após grandes investimentos
Manutenção de elenco feito pelo São Paulo requer uma gestão bem estruturada, responsável, que tenha a capacidade de atrair investidores e bons parceiros
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A vitória sofrida, suada, no último minuto do jogo contra o Botafogo, sábado pela manhã no Nilton Santos aliviou a tensão que ronda o São Paulo nas últimas semanas, após quatro rodadas sem vencer. Poderia ter sido o contrário, um mau resultado funcionaria como o estopim definitivo de uma crise que, como sempre, colocaria em xeque o trabalho do treinador. Com erros e acertos que Cuca possa ter.
O problema do Tricolor vai além dos gramados.
Daniel Alves for a maior contratação da história do clube. Uma das maiores do futebol brasileiro. E não estamos aqui falando apenas de valores, mas de relevância. Não foi por acaso que mais de 40 mil torcedores foram ao Morumbi receber em festa, e sem ser em dia de jogo, o lateral-direito da seleção, como se sabe o maior ganhador de títulos da história do futebol mundial.
O começo foi promissor. Dani Alves, agora jogando no meio de campo e com a camisa 10, fez gol do jogo e foi decisivo na vitória do São Paulo sobre o Ceará no Morumbi. O time parecia ter encontrado o caminho para, enfim, decolar no Brasileirão e brigar no alto da tabela. Mas a euforia não durou muito. O Tricolor continuou a demonstrar uma intensa irregularidade, alternado bons e maus jogos. Continua navegando ali entre o pé da zona de classificação para a Libertadores e a Sul-Americana, muito pouco para o investimento que fez.
Sim, aí, nos deparamos com outro ponto. Daniel Alves foi o maior mas não o único investimento são-paulino na atual temporada. Desde o início do ano chegaram Alexandre Pato, Pablo, Tchê Tchê, Hernanes, Juanfran, todos jogadores caros, que tornam a folha de pagamento do clube uma das quatro maiores do futebol brasileiro, junto com Flamengo, Palmeiras e Cruzeiro. Não é pouca coisa, e manter uma situação como essa requer uma gestão bem estruturada, responsável, que tenha a capacidade de atrair investidores, bons parceiros e, acima de tudo manter um rigoroso equilíbrio entre as receitas e as despesas. Ou as consequências de tamanhos gastos podem ser drásticas, com dívidas aumentadas.
O contrato com Daniel Alves é exemplar. Entre salários, luvas, direito de imagem e os bônus de performance e resultados previstos no acordo entre as partes, o jogador custará ao São Paulo, em média, algo em torno de R$ 1,5 milhão por mês. No planejamento do negócio, o clube considerou a expectativa de conseguir parceiros que reduzisse para cerca de R$ 500 mil, equivalente ao salário do jogador, os desembolsos mensais. Um modelo parecido com o que o Corinthians adotou na contratação de Ronaldo Fenômeno. Mas até agora, nenhuma parceria se fechou com essa finalidade, onerando o Tricolor além do previsto, em que pese, por outro lado, o aumento de receitas, por exemplo, com a venda de camisas.
Ao longo dos anos 90 e no começo dos anos 2000, o São Paulo chegou a ser considerado como um modelo de gestão no futebol brasileiro. Houve denúncias de irregularidades, é verdade, como na época do presidente José Eduardo Mesquita Pimenta, que chegou a ser expulso do clube, mas nomes como o saudoso Marcelo Portugal Gouveia e Juvenal Juvêncio – o dos primeiros mandatos, não o arremede de si mesmo em que se transformou no final, depois da manipulada reeleição – fizeram um trabalho sólido, estruturante, que deu ao Tricolor uma posição de vanguarda, à frente dos rivais. Tudo se poria a perder a perder, contudo, pelas desavenças político-eleitorais, a briga do poder pelo poder, suspeitas de irregularidades e desvios de recursos. Ou seja, tudo o que de pior o amadorismo é capaz de provocar.
O preço foi alto. Acostumado ao céu, o Morumbi conheceu o inferno, E o trabalho de recuperar o patamar perdido não tem sido e não será fácil. Não por acaso, ídolos como Raí e Lugano foram chamados para ajudar no resgate da credibilidade perdida. E essa é uma palavra chave. Investimentos são bem-vindos, mas à cartolagem do Tricolor de hoje, não basta ser séria, é preciso provar sua seriedade, sua responsabilidade, seu compromisso com a modernidade. Só assim conseguirá tornar viável operações como a de Dani Alves. Só assim terá os parceiros e os investidores de que precisa. E fazer, assim, de seu futuro, novos velhos tempos.
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