Neo Química Arena, último domingo (12). Exatos 46 minutos após o Corinthians ser eliminado do Campeonato Paulista nos pênaltis, o presidente Duílio Monteiro Alves aparecia na zona mista e atendia jornalistas. Explicações, posicionamento e promessas, habituais do cargo que ocupa.
Allianz Parque, no dia seguinte. O relógio já apontava mais de duas horas do término da vitória do Água Santa sobre o São Paulo, também nos pênaltis, quando o técnico tricolor Rogério Ceni apareceu na sala de imprensa. Lobo solitário, foi o único a prestar esclarecimentos à torcida.
Virou uma tônica pelos lados do Tricolor a ausência de suas principais figuras de comando após decepções e em momentos de crises. Nada do presidente Julio Casares, do diretor de futebol Carlos Belmonte , de Muricy Ramalho, Rui Costa...
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Mais uma vez o torcedor são-paulino ficou refém de suposições e do que nós, jornalistas, conseguimos através de fontes que topem trazer revelações de bastidores.
A versão oficial do que aconteceu entre Ceni e Marcos Paulo sairá, mais uma vez, da boca do treinador. Não tem data para acontecer. Dependerá do sorteio da Conmebol. Quando o treinador concederá entrevista na partida de estreia da Copa Sul-Americana.
Sem sombra de dúvida, a maior de todas as virtudes de Ceni é a exposição. Jamais se recusou a responder uma pergunta sequer, sobre qualquer assunto. Via de regra, partem dele as explicações, revelações e explanações sobre o que acontece no dia-a-dia do São Paulo. Sem rodeios.
Mas, cabe ao treinador essa postura? O questionamento fica ainda mais plausível quando se vê o Ceni ídolo são-paulino, maior goleiro (quiçá atleta) do clube, em um grau de responsabilidade absurda e ingerível. Treinadores se expõem, o ex-jogador sabe disso. Mas, por ora, soa inevitável dissociar as duas figuras.
Poucos personagens do futebol são tão francos quanto Ceni. E como treinador ele tem todo o direito de cobrar qualquer jogador que seja de seu plantel. Assim como Patrick e Marcos Paulo tem o direito de gostar. Podem até discutir, discordar e brigar, por que não (sem violência física, é claro)? Faz parte do futebol. Faz parte da construção do personagem Rogério, com Telê Santana, Emerson Leão, Mário Sérgio, Muricy e tantos outros que o comandaram, cobraram, aos gritos, aos palavrões...
O que não pode é a omissão dos chefes. Até hoje os vídeos das entrevistas coletivas do saudoso Juvenal Juvêncio em coletivas após vexames são-paulinos de sua gestão estão entre os mais vistos na blogosfera são-paulina. Não importa o tom muitas vezes caricato. O presidente estava ali.
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Discussões e cobranças de jogadores por redes sociais, alguns deles medianos, como Marcos Paulo, ganharem tamanha notoriedade nada mais é que o reflexo da omissão das pessoas que dirigem o Tricolor. Não foi um caso isolado no ano, por exemplo. Sobrou para Ceni comentar o caso Pedrinho, por exemplo. Casares se pronunciou uma semana depois, em um canal pago de televisão. Agilidade que não faltou ao mandatário para se defender da acusação de um ex-jogador de que fora impedido de entrar no CT.
As crises fazem parte do futebol. E a blindagem delas passa, necessariamente, muito mais pela coragem em resolvê-las do que o empenho em escondê-las. O São Paulo tem Ceni no banco. Mas o papel de treinador não lhe garante o comando central das ações. Se quiser mostrar que o trem no Morumbi está de fato nos trilhos, que os homens maquinistas deixem as propagandas e passem a agir como líderes. O torcedor assim espera.