O São Paulo escreveu nesta semana um dos capítulos tristes de sua história. Em decisão da Comissão de Ética, com parecer do desembargador José Roberto Opice Blum, o episódio da obscura comissão sobre o contrato da Under Armour foi arquivado. Vitória da turma que associou um misterioso empresário chamado Jack ao clube. Derrota de 13,6 milhões* de torcedores.
Para quem não lembra, Jack Banafsheha, proprietário da empresa Far East, com sede em um paraíso fiscal, foi o nome apontado pela diretoria do São Paulo como intermediário da negociação com a Under Armour, concluída em dezembro de 2014, durante a gestão de Carlos Miguel Aidar. Jack teria direito a pelo menos R$ 18 milhões em comissão pelo acordo. Só que os dirigentes da época nunca o apresentaram e, após os escândalos que culminaram na renúncia de Aidar, e dúvidas até se o empresário realmente existia, Jack abriu mão dos DEZOITO MILHÕES DE REAIS, rescindindo por conta o contrato de comissionamento, em abril deste ano.
A inusitada decisão do misterioso empresário de abrir mão de uma bolada, por si só, já é um batom na cueca. Alguém do São Paulo agiu de má fé, mesmo porque a Under Armour já tinha chegado ao clube por conta própria tempos atrás. Mas a Comissão de Ética concluiu que não houve dano ao clube.
De fato, o São Paulo ficou por um triz de repassar R$ 18 milhões, dois Cuevas, a um Jack que a torcida, ao que parece, jamais saberá quem é. Isso só não ocorreu muito por conta de Carlos Augusto de Barros e Silva, atual presidente do clube, e presidente do Conselho Deliberativo na época do vexame. Leco tirou da pauta da reunião do Conselho a votação do pagamento da comissão. Muito provavelmente ela seria aprovada. Mas, vejam só, a decisão desta semana também mostra o quão arcaico está o clube em seu modelo administrativo e na preservação de sua história, sua honra.
Leco, de atuação decisiva quando presidente do Conselho, hoje se vê de mãos atadas no assunto. O Conselho Deliberativo é o órgão soberano do clube e, se por lá Opice Blum teve sua decisão referendada na reunião da última segunda-feira, Jack está sepultado. Conversei rapidamente com Leco na última terça-feira, no CT da Barra Funda. Perguntei se haveria alguma coisa que ele pudesse fazer para reverter o caso. Disse que iria analisar: "Sempre há alguma coisa que se possa fazer". Mas a resposta pareceu mais de alguém que, como representante máximo de um clube glorioso, está envergonhado do que realmente confiante de decisão contrária. Vale lembrar que o Conselho expulsou Carlos Miguel Aidar, mas, pasmém!, por sua namorada, Cinira Maturana, ter ter representado o clube na Espanha na fracassada negociação de Rodrigo Caio com o Valencia. Nada de Jack, nada de Iago Maidana.
Caberá ao Ministério Público de São Paulo, que apura as trapalhadas da gestão desastrosa de Carlos Miguel Aidar, fazer justiça ao torcedor são-paulino. Quem lesou o glorioso Tricolor paulista no caso da Far East? Para o clube e seus cardeais, Jack fez ruim, mas assim, como um dos infinitos laterais-direitos contratados nos últimos anos. Passou, ninguém mais se lembra. Que o torcedor do São Paulo nunca se esqueça de Jack, Carlos Miguel Aidar, Cinira Maturana, Douglas Schwartzmann e Cia, símbolos de uma gestão que deixará marcas difíceis de serem apagadas.
A pergunta que fica é: terá o São Paulo chegado ao fundo do poço com o caso Jack e tudo que se desdobrou? Pode ser que sim, mas não custa lembrar que há uma zona do rebaixamento assombrando o time no momento. Uma possível queda para a Série B seria a confirmação de um fracasso dentro de campo. Porque fora, o Tricolor de Jack caiu essa semana.
* Números da última pesquisa LANCE!Ibope divulgada no ano passado