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Paulinho Boia: conheça o ‘boi bravo’ que o São Paulo controlou em Cotia

Meia-atacante de 19 anos explica ao LANCE! sobre como a categoria de base do Tricolor controlou temperamento que motivou seu apelido e quer vingar no clube que o formou

Aos 19 anos, Paulinho Boia diz que pode até ser emprestado, mas quer vingar no clube que o formou
Aos 19 anos, Paulinho Boia pode até ser emprestado, mas quer vingar no Tricolor (Rubens Chiri/saopaulofc.net)

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Conversar com Paulinho Boia é como falar com a maioria dos jovens de 19 anos de idade: escapam alguns palavrões e sobram gírias, como "mano" e "fera". Mas os cerca de 20 minutos de entrevista do jovem meia-atacante ao LANCE! indicaram que o jogador, como ele mesmo admite, é um "boi bravo" controlado pelo São Paulo em Cotia.

O apelido Boia começou sendo "boizinho", como Paulinho era chamado por um tio, na infância, no Distrito Federal, graças ao seu temperamento. Porém, desde que chegou ao centro de treinamento da base do Tricolor, aos 14 anos, em 2013, ele aprendeu a se controlar. E, mesmo que acabe sendo emprestado para ter mais chances, garante que voltará para vingar no clube que o formou.

- Quero jogar aqui, no São Paulo. Se decidirem que preciso pegar ritmo porque aqui não tenho chance, saio, mas volto mais forte do que antes. Tenho o sonho de jogar na Europa, onde estão os jogadores de alto nível e você fica mais perto da Seleção e de ser o melhor do mundo, como todo jogador tem como meta. Mas vou vingar aqui - assegurou ao LANCE!

Mesmo jovem, Paulinho Boia já enfrenta um assunto que evita para não ir às lágrimas: o assassinato de Raul, com quem jogou na base são-paulina, em dezembro do ano passado, aos 19 anos. Mas Boia já prepara uma homenagem ao amigo assim que balançar as redes no Tricolor, e crê que será logo.

Confira abaixo a entrevista com o jogador que tem, até agora, sete partidas pela equipe principal do São Paulo:

Por que seu apelido é Boia?
É um apelido antigo. Um tio meu que colocou porque falava que, quando eu era pequeno, parecia um boi bravo. Disso, se tornou Boin. Quando vim para São Paulo, uns companheiros que me conheciam passaram a me chamar de Boinha. Aí um treinador meu começou a me chamar de Boia, e pegou.

Você prefere Boia ou Paulinho?
Agora, Boia já pegou. Não tem mais como mudar. E já me acostumei também.

Mas você é um boi bravo mesmo?
Quando eu era mais novo, era bem bravo. Queria sair na mão com todos (risos). Era verdade isso mesmo.

O São Paulo que te acalmou?
O São Paulo tem um perfil de dar ensinamento para a molecada, criar primeiro o homem e, depois, o jogador. Tive bons professores e boa escola aqui, com uma educação muito boa. Não que eu não tinha em casa, né? Mas tinha coisa que eu fazia na rua que meu pai e minha mãe não viam.

Você não tem expulsão nenhuma na base?
Não. Nunca fui expulso. O São Paulo controlou (esse temperamento) mesmo. Quando eu jogava na escolinha, era direto. Mas, no São Paulo, com a responsabilidade que adotei, eu não podia deixar passar. Ou melhorava ou perderia tudo.

Em 2015, em torneio internacional disputado no Catar, o São Paulo venceu Paris Saint-Germain, Atlético de Madri, Real Madrid e Milan, perdeu a decisão nos pênaltis para o PSG, e você chamou atenção sendo eleito o craque....
Esse torneio foi quando me destaquei mais. Nos outros campeonatos sub-15, não tive muita sequência. Já no sub-17, esse foi o primeiro campeonato que teve e pude me destacar bem. Depois dele, tive sequência muito boa. Fiz meu nome lá, na verdade. Fiz um ótimo campeonato, fui artilheiro e eleito o melhor jogador da competição. Depois disso aí, os caras deram um valor a mais para o Boia.

O que você lembra desse campeonato?
Dei caneta, chapéu, carretilha, tudo. Foi um dos melhores momentos da minha carreira até agora. Os caras ficaram bolados comigo. E batiam bastante. Pegamos o Atlético de Madri, que tinha muitos argentinos, e bateram demais. O jogo contra eles foi um dos primeiros, estávamos ganhando por 2 a 1, era o último lance, escanteio para nós, iriamos segurar a bola na linha de fundo, eu estava de costas e chegou um argentino dando pisão no meu pé. Depois disso, tive de tomar injeção em todos os jogos para conseguir jogar, porque deslocou meu dedo. Com a injeção, eu não sentia meu pé, mas joguei com o pé dormente e, mesmo assim, fiz um bom campeonato. Os médicos começaram a falar que a injeção me ajudava (risos).

Mas esse lance que você está falando mostra que você se controlou mesmo, hein?
Sim. Antes, eu daria um soco nesse cara que pisou no meu pé.

No ano passado, você chamou atenção disputando o Campeonato Brasileiro de Aspirantes, quando o São Paulo chegou à semifinal, perdendo para o Santos.
Sim. Fiz um bom campeonato. Desci mais porque o Dorival pediu, para eu pegar ritmo de jogo, já que aqui eu não estava jogando. Mas descer para esses campeonatos tem também um ponto negativo. Quando você desce, tem de dar conta e mostrar por que está no profissional. Se não mostrar, pode se queimar aqui. Graças a Deus, fiz uma boa competição.

Como alguém com 19 anos, como você, se destacando na base desde 2015 lida com as poucas chances quando sobe para o time principal?
Sou novo, e tem cara aqui com muita história, rodado. Fico p... às vezes por não ter chance, mas, como sou novo, preciso ter paciência e trabalhar para, quando a chance chegar, aproveitar da melhor forma possível. É difícil ficar só treinando, às vezes desmotiva, mas só de estar aqui, no São Paulo, jogando ou não, é bom demais. Clube grande, dá uma boa visibilidade, uma vitrine boa. Se você faz uns três, quatro jogos, consegue um clube bom para ser emprestado e pegar ritmo de jogo. Tanto que o São Bento veio atrás de mim.

O São Bento tentou mesmo te levar por empréstimo antes do começo do Brasileiro.
O treinador deles falou que me viu no Brasileiro de Aspirantes e em alguns jogos no começo do Paulista, e gostou.

Você queria ir?
Queria. Mas tive uma conversa com o Aguirre, falei que não queria ir sem ter uma oportunidade de jogar aqui, de começar jogando mesmo. Mas, se não desse, o jeito era ir para lá. Estou esperando até agora essa oportunidade.

Como é a sua relação com o Aguirre?
Às vezes, ele me fala que estou melhorando, mas que preciso ter paciência, porque ele não pode deixar jogadores rodados fora. Ele comenta que, por eu ser novo, ter subido agora, devo ter paciência e continuar trabalhando. O Aguirre é um cara sincero, dá oportunidade para quem está bem de verdade.

Em que você precisa melhorar?
Às vezes, sou muito afobado em algumas jogadas. Mas não é questão de querer definir logo. É que driblo uma vez e, quando é para cruzar, quero driblar outra. É uma mania minha, faz parte da minha personalidade e é difícil mudar. Venho jogando na rua, desde moleque, jogando com golzinho descalço, e aprendi a driblar e a fazer muita coisa. Aí chego aqui e, quando passo por um cara, em vez de definir, dou um corte para trás. O Aguirre me falou para melhorar isso e o cabeceio, porque o meu é horrível mesmo, não dá. E melhorar um pouco com a perna esquerda, que estou melhorando, tanto que é um dos pontos em que ele mais me elogia por estar melhorando muito.

Esses problemas que você está falando parecem ser defeitos comuns em quem acabou de subir.
Ah, sim. Mas alguns treinadores da base me falavam que o tempo para melhorar o que precisa é quando está na base porque, quando você chega aqui no profissional, não tem mais essa de que precisa melhorar. Só se ficar depois do treino sozinho, mas não tem mais essa de melhorar isso ou aquilo, tem de subir preparado.

Falando dos jogadores mais rodados, já saíram Marcos Guilherme e Valdívia, dois concorrentes diretos na sua posição. Acha que abriu uma brecha?
Sim. Até alguns companheiros falam que, se ele dá oportunidade, é para aproveitar para ter mais oportunidades. Venho treinando firme e forte para, quando ela chegar mesmo, eu aproveitar e não sair mais desse time. É o meu objetivo, não sair mais do time.

Contra o Palmeiras, você entrou cheio de confiança e surpreendeu.
Na verdade, aquele jogo ali era dado como morto, parecia que o Palmeiras já tinha ganhado, os caras estavam sem motivação de atacar, e o Palmeiras só defendendo. Entrar em jogo assim é f... Mas tentei jogar o que eu queria. Estava esperando a oportunidade e era como um prato de comida: tinha de matar a minha fome, senão não comeria mais.

Contra o Inter, no jogo seguinte, no Morumbi, a torcida gritou seu nome para pedir sua entrada.
Ah, fiquei felizão por dentro. Não dava para rir, porque vai que a câmera pega uma risadinha minha ali. Mas, por dentro, estava cheio de felicidade. A torcida vem me abraçando desde os jogos em que entrei no Paulista, tem me elogiado. Sempre comentam no Instagram e no Facebook.

A torcida costuma gostar de quem vem de Cotia. Isso é só positivo ou tem uma pressão também por precisar corresponder?
É bom. Eles têm esperança com quem vem de Cotia, e a diretoria também confia em nós para fazer um bom campeonato e dar conta do recado em vez de ficar trazendo jogador. Querendo ou não, Cotia tem muito gasto por ano. A esperança deles é que a gente venha e dê conta do recado.

A sua geração ganhou muitos títulos na base...
Sim, foi muito vitoriosa essa geração nascida em 1996 e 1997. Ainda consegui pegar um pouquinho, porque alguns feras já tinham saído, mas outros continuaram. Aqui tem um monte deles: Lucas (Fernandes), Shaylon, Araruna, Caique, Bissoli...

Em qual posição você prefere jogar?
Mais aberto no ataque. O meu forte é no um para um. Tanto que, como o Militão é muito meu amigo, jogando cinco anos juntos, desde o sub-15, peço para ele segurar e me deixar no mano a mano com o cara. Quando ele ataca, o atacante sempre volta. Peço para ele segurar e me deixar no um para um, como aconteceu contra o Palmeiras: ele segurava o Dudu e eu ficava no um para um com o Victor Luis. E ganhei umas dele.

Você sente o desgaste por ter de marcar?
Como estou sem ritmo de jogo, canso. Nesses jogos em que entrei, nos primeiros piques que dei para trás ficou complicado, porque abafei demais. É bem difícil. Mas quando pegar ritmo também... Sou jogador raçudo pra caramba, mano. Por isso, o Aguirre me elogia muito nos treinos, não dou mole, não. Chego em qualquer um. Sem a bola, sou volante. Não tem essa. O Aguirre elogia bastante esse meu ponto.

Quem é seu ídolo?
No São Paulo, eu gostava bastante do Dagoberto. Ele fazia muito gol e dava uns dribles muito fera. E também tem o Raí. Se pegar uns vídeos dele no Youtube, dá para ver que ele era matador, a bola sobrou e era caixa.

Você está morando no CT da Barra Funda?
Sim. Divido o quarto com Júnior Tavares.

É música alta o tempo todo? Vejo uns vídeos que vocês colocam no Instagram...
Não, aqui é bem tranquilo. De vez em quando, colocamos uma musiquinha, porque ficar no CT, às vezes, dá um pouco de tédio. Assistimos à Netflix e, às vezes, colocamos um batidão para dar uma animada.

Você veio de Brasília com o Raul, né?
Sim. Ele foi um dos meus melhores amigos da base. Nem gosto muito de falar dele porque vêm lembranças muito fortes. Mas lembro demais dele. O Raul ia para casa em todas as férias. Quando ele saiu do São Paulo e foi jogar no Vila, pegávamos as férias juntos. Minha mãe gostava muito dele, meu pai o amava. Ficamos todos surpresos e abalados com o acontecimento no fim do ano.

Serve de motivação de alguma forma?
Sim. No dia em que eu fizer um gol no profissional, vou dedicar para o Raul. Creio que estarei preparado com uma camisa com alguma coisa escrita para ele. Se Deus quiser, esse gol vai sair logo.

Mas você já tem ido para os jogos com essa camisa?
Não, ainda não. Mas, agora, tenho de preparar. Esse gol está próximo. Contra o Palmeiras, ficou por um triz de sair. E brocar em um clássico, perdendo ou não, é sempre bom.

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