Quando as conversas entre São Paulo e Daniel Alves começaram, já há alguns meses, o clube tratava como muito remotas as chances de contratá-lo. Os dirigentes sabiam que o contrato dele com o PSG chegaria ao fim no meio de 2019 e se sentiam na obrigação de apresentarem um projeto para trazê-lo ao Brasil, já que o lateral-direito vira e mexe citava em entrevistas que torce pelo clube desde criança e que gostaria de vestir a camisa tricolor um dia, mas achavam quase impossível que ele não permanecesse na Europa.
E esse realmente era o desejo do jogador de 36 anos. Seu empresário, inclusive, esteve no Velho Continente para conversar com clubes interessados e recebeu uma infinidade de propostas. Mas Daniel foi gostando cada vez mais do que ouvia do Tricolor, na mesma medida em que não se entusiasmava com as opções que apareciam no exterior. Alguns fatores são apontados nos bastidores como fundamentais para que esse sonho tenha se tornado realidade na última quinta-feira, data do anúncio da contratação.
Um dos mais importantes: Daniel Alves realmente é são-paulino, não falava da boca para fora. Cresceu vendo os times que Telê Santana montou no início da década de 1990 e se encantou pelo clube, cujo grande ídolo naquela época era Raí. O fato de ter sido o próprio Raí o responsável por conduzir as conversas pesou muito para Daniel, tanto que dessa vez nem foi preciso que Cuca ligasse para o atleta em meio às negociações, algo que o técnico fez em outras contratações, como a de Pato.
Raí encontrou-se com Daniel Alves algumas vezes neste ano, em viagens à Europa e no dia em que a Seleção Brasileira treinou no CT do São Paulo durante a Copa América. O jogador, já sabendo que o clube estava montando um projeto sério para tentar convencê-lo, foi presenteado com uma camisa de jogo com seu nome nas costas. Ainda era só um namoro...
Para virar casamento, o São Paulo mostrou a Daniel que poderia dar-lhe estabilidade e deixá-lo em evidência até o ano da próxima Copa do Mundo - o contrato vai até dezembro de 2022. Reserva no Brasil em 2014 e cortado do Mundial da Rússia por lesão, ele tem a ideia fixa de ir ao Catar. Até houve clubes europeus que ofereceram contratos longos ao lateral, algo visto como fundamental por ele neste momento da carreira, mas não foram os “tops”, que disputam a Champions com perspectiva de título. Isso foi decisivo para o sucesso tricolor.
A parte financeira, claro, também pesou. O São Paulo se resguarda ao máximo e não divulga nenhum detalhe sobre este assunto, mas obviamente pagará valores bem altos ao seu novo camisa 10. A diretoria assegura que seria possível bancar 100% do contrato com recursos próprios, e que só por isso a contratação foi concretizada, mas admite ter ido ao mercado para buscar parceiros que ajudem a arcar com o valor.
Já há acordos fechados, e a estimativa é de que eles garantam o pagamento de quase um terço do “pacote Daniel Alves”. O montante pode aumentar, porque o clube seguirá buscando parcerias. O Tricolor teve problemas de fluxo de caixa neste ano, recorreu a empréstimos bancários e até atrasou pagamentos a jogadores, mas projeta uma situação melhor para as próximas temporadas.
Até que o anúncio fosse feito, com um vídeo produzido pela TV oficial do clube, o São Paulo agiu com extrema cautela. Na própria quinta-feira, dia da confirmação do acordo, dirigentes diziam que o sonho ainda estava distante de se concretizar. Era uma tentativa de manter tudo no maior sigilo possível, mas também um sinal de que havia o temor de uma oferta tentadora da Europa surgir e colocar tudo a perder. Não aconteceu, para alegria de todos no Morumbi.
O estádio, aliás, será o palco da apresentação do craque, provavelmente na terça à noite. O público deve ter acesso, em cerimônia semelhante à do retorno de Luis Fabiano em 2011, que reuniu 45 mil torcedores.