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‘Senhor Libertadores’, Bauza não teme Monumental e ainda crê no Tricolor: ‘Vamos lutar até a morte’

Bicampeão, técnico argentino se vê em momento dramático no torneio e diz ao L! que não dorme desde vexame da estreia. Ele, porém, desafia histórico contra o River para renascer

Bauza
imagem camera(Foto: Maurício Rummens/Fotoarena/Lancepress!)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 08/03/2016
20:09
Atualizado em 08/03/2016
20:59

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Desde a noite de 17 de fevereiro último, Edgardo Bauza não dorme direito. Pensa, pensa, pensa e não encontra respostas para o que se passou no Pacaembu. Aos 58 anos de idade e com duas Libertadores no currículo, o técnico argentino sabe como poucos que a derrota de 1 a 0 para o The Strongest (BOL) pode ter custado o sonho do tri para ele, e do tetra, para o São Paulo. Experiência.

Mas por que então acreditar que o mesmo time do vexame da estreia baterá o River Plate campeão da América nesta quinta-feira, em Buenos Aires, e manterá o sonho vivo? Pela experiência. De Bauza. De Libertadores. Entre os dois canecos e outros tantos fracassos, Patón viveu situações suficientes para acreditar em uma reviravolta.

– Na Copa Libertadores, já me passou de tudo. Com San Lorenzo, em 2014, parecia que estávamos fora. Tínhamos que ganhar do Botafogo e fizemos dois gols em dez minutos. Classificamos por casualidade e terminamos campeões. Vamos tentar a classificação até a morte. Até o último jogo e ver se podemos manter a ilusão de fazer uma boa Copa – afirmou Patón, em entrevista exclusiva ao LANCE!, projetando o duelo de quinta.

Crer também é negar. Bauza foi seco ao responder sobre seu retrospecto contra o River, outro ponto negativo. Em 19 confrontos contra os Milionários, venceu apenas um, empatou seis e perdeu 12. Desastroso. Desanimador? Não para Bauza, lembremos.

A lembrança do retrospecto contra o gigante argentino foi o único ponto da conversa de mais de meia hora em que o treinador torceu o nariz. No mais, sempre sob o véu da Libertadores, obsessão do são-paulino, esbanjou conhecimento. Falar da maior competição da América com Bauza é como ler um manual do torcedor apaixonado escrito por argentinos. São mesmos mais apaixonados do que nós, brasileiros, Patón? Ele conta essas e outras na entrevista reproduzida abaixo:

O que a Libertadores representa para você?
É o mais importante torneio da América do Sul, jogam os melhores time de cada país. Por isso é um torneio lindo, mas difícil de ganhar e esse ano em particular, para mim, vai ser a mais difícil dos últimos dez. Pela quantidade de equipes que estão bem e niveladas. Os brasileiros e argentinos estão muito bem. Há alguns colombianos, os bolivianos sempre complicam na altura.

Qual foi seu desempenho no torneio como jogador?
Foram duas Copas. Uma com Rosario Central e outra com Júnior de Barranquilla da Colômbia. Era outro torneio porque classificava um por grupo aquela época e jogavam duas equipes do mesmo país. Se vocês lembram, Central e Independiente jogaram e se classificou o Independente. Depois, com Júnior, jogamos com América de Cali, Santos e Flamengo em 1984. Flamengo de Zico, muito bom o time. Também não classifiquei nesse grupo, mas foram torneios mais difíceis que agora, classificava um por zona. Agora creio que o regulamento dessa Copa é melhor, te dá mais possibilidades, de se refazer e poder classificar. Entram depois 16 times a jogar as oitavas, abre um leque de mais possibilidades.

Apresentação do Técnico Edgardo Bauza no São Paulo
Patón, no dia de sua apresentação no São Paulo (Foto: Marcello Zambrana/AGIF/Lancepress!)

Como treinador, a maior frustração foi perder com o Rosario Central, seu clube do coração, em 2001?
Sou fanático pelo Central, meu formei lá, joguei a vida toda. Chegamos à semifinal. Primeiro eu perdi para o Santos a Conmebol em 1998, que foi o primeiro ano que treinei. E no outro ano, chegamos à semi da LIbertadores com boa equipe e perdemos para Cruz Azul (MEX), que depois perde para o Boca Juniors nos pênaltis. Chegar a essa instância já é bom, mas óbvio que ganhar é bom. Depois, todas as equipes que dirigi pude chegar na Libertadores. Com Sporting Cristal (PER) fiquei fora com Boca, Boca de Bianchi (Carlos, treinador argentino vencedor de quatro Libertadores). É um lindo torneio, especial, que é preciso saber jogar. E é um torneio que não se pode cometer erros, um erro te deixa fora da Copa, por isso chegam os melhores. Não os melhores futebolisticamente, os mais seguros, os que menos erros comentem. Com Central, em 2000, pude enfrentar o Corinthians, de Dida, Luizão, Marcelinho Carioca. Um time extraordinário, que foi eliminado com o Palmeiras, que depois perde para o Boca. Dois erros deixaram Corinthians fora. Ter uma equipe sólida, boa, sem erros.

Em 2008, pela LDU, você disse que motivou seus jogadores para a final dizendo que o Fluminense, então adversário, era um time "pecho frio", que aqui é amarelão. Como foi aquilo?
(Risos) Foi para motivar. Nós éramos um time que ante a opinião pública sempre perdíamos, o outro time sempre era melhor, todos eram melhores. E seguíamos, seguíamos, seguíamos. Quando chegamos a jogar com o Fluminense, que já havíamos ganhando, encontrei essa forma de motivar, mas era um grande time. Tinha Thiago Neves, Washington. Mas utilizei esse tema para tratar de buscar uma motivação que o time pudesse entrar no campo e encontrar o futebol que habitualmente jogava. Não se esqueça que íamos estar no Maracanã, contra 100 mil pessoas, tudo contra nós, isso e um monte de coisas mais. Foi uma afirmação que buscamos para motivar também. Coisas que fizeram com a equipe se sentisse cômodo com seu jogo, tinha claro como jogava.

O técnico argentino Edgardo Bauza é conhecido em seu país como Patón
O técnico argentino Edgardo Bauza é conhecido em seu país como Patón (Foto: JUAN MABROMATA/AFP)

O São Paulo ainda é candidato ao título nesta Libertadores?
Claro. Está dentro dos candidatos por sua história, pelo que representa, embora tenha perdido um jogo onde não mereceu perder. À margem disso, é um candidato natural, como Boca, River. É um torneio muito lindo, mas que não se pode errar.

O erro contra The Strongest te custou a Libertadores?
Obviamente, esse jogo não me deixa dormir, porque fizemos um segundo tempo ruim. Erramos a possibilidade que tivemos de gol, mas fizemos um bom jogo. Estamos amargados porque são três pontos que podem custar a classificação. Agora já não podemos fazer mais nada quanto a isso, precisamos de um resultado com o River Plate em Buenos Aires para seguir tendo possibilidades.

Perdeu está fora?
Não porque teremos quatro partidas, com 12 pontos ainda dá para classificar, mas teremos que ganhar em La Paz, algo que não é fácil. Mas tudo pode acontecer. Na Copa Libertadores, já me passou de tudo. Com San Lorenzo, em 2014, parecia que estávamos fora. Tínhamos que ganhar do Botafogo e fizemos dois gols em dez minutos*. Classificamos por casualidade e terminamos campeões. Vamos tentar a classificação até a morte. Até o último jogo e ver se podemos manter a ilusão de fazer uma boa Copa Libertadores.

Como é seu retrospecto contra o River?
Com San Lorenzo não fui bem, com Rosario, fui. É um bom time, enfrentei River de grandes níveis. Mas Sâo Paulo tem esse nível, são dois times pesados, com histórias parecidas que marcaram o futebol sul-americano.

Não ter vencido pelo San Lorenzo não o incomoda?
Não, para mim cada jogo é diferente. Não creio em estatística e nada disso, cada história é diferente. Agora temos que ver quais os melhores jogadores para essa partida e escolher bem.

Novamente Edgardo Bauza se credenciou para a disputa do Mundial de Clubes da Fifa, em 2014, com o San Lorenzo
Bauza no Mundial de Clubes em 2014, após vencer a Libertadores pelo San Lorenzo (Foto: JAVIER SORIANO/AFP)

O Monumental de Nuñez, casa do River, o assusta?
Não me assusta o Monumental, nem aos jogadores, que já estão acostumados a jogar com muita gente no estádio. Algo que me tranquiliza é que não assusta os jogadores esse tipo de coisa.

O que vai dizer para seus jogadores fazerem?
Vamos tentar primeiro buscar uma ordem igual a que temos, porque o River vai nos atacar com muita gente. Então temos que estar ordenados para controlar isso e ter a personalidade que todos os jogadores do São Paulo tem que ter para jogar o jogo que temos que jogar. É preciso ter a bola e atacar, além de controlar o River. Não vai ser fácil, mas vamos tentar sair de lá com um bom resultado.

Voltar à Argentina é especial?
Já dirigi outros times de fora e joguei na Argentina. Não me produz nem mal nem bem, é mais um jogo importante, apenas isso. Vou saudar meus amigos e nada mais.

O São Paulo chega como você gostaria para este jogo?
Gostaria de ter mais dois ou três meses de trabalho, não temos, mas avançamos muito em dois meses. O São Paulo hoje tem identidade, sabe a quê joga. Às vezes fazemos bem ou mal, hoje o plantel sabe por que vamos jogar. O que precisamos é continuar crescendo como equipe e ver como faremos. Conseguimos solidez defensiva, que não tinha. Precisamos de um pouco mais de contundência, ser mais efetivos, para fazer que o resultado nos ajude. Bom, isso se consegue com trabalho. Não sou de lamentar.

"Depois, o que gosto de fazer é jogar tênis por uma hora e meia, duas horas, para escapar de pensar todo dia na equipe e como trabalhar. São as únicas duas horas que trato de sair um pouco, porque depois vivo metido, pensando em como melhorar o time, em algum jogador em especial. Já está muito dentro de mim, não consigo evitar isso"

Tem se decepcionado com a torcida do São Paulo?
O torcedor é passional e reage com o que vê. Se ganha, aplaude. Se perde, vaia. Tivemos bons jogos, ruins. Quando não jogamos tão bem o povo criticou, é normal.

Os argentinos são mais apaixonados do que os brasileiros? Aqui costumamos dizer isso.
Aqui são apaixonados. Rosario Central, onde me criei, é um time muito particular, sempre com o estádio cheio. Mas o tema da paixão é relativo, cada paixão desperta coisas diferentes. Gritos, alento, insultos, o que seja... Aqui também são apaixonados. O futebol forma parte da vida cotidiana no Brasil, como na Argentina. Não cabe dúvidas de que se ganhamos dois ou três jogos o campo ficará cheio.

Você lembrou do Rosario. O clássico da cidade, contra o Newell’s Old Boys, é maior do que Boca x River?
Não tem essa de maior, é um clássico muito particular de uma cidade que respira futebol como Rosario, onde se vive com muita intensidade. É muito difícil de encontrar um clássico que se viva com essa intensidade. Está partindo um pouco para a agressividade e isso é mal. É um clássico com muita história e apaixonado.

Você sente muitas saudades deste jogo, não é?
(Suspira) Claro. Eu me formei nesses clássicos e sei o que é, mas um dia tomara que você pode ir lá ver um clássico para te dar conta do que estou falando. Esse jogo se vive uma semana antes e uma depois.

O que aprendeu nesse clássico te ajuda a enfrentar o River?
Claro que me ajuda e muito, são partidas únicas. Com muita adrenalina, intensidade. Eu sou quem mais fez gols contra Newell's em clássicos, nove gols. Na história dos clássicos, vivi com muita intensidade, ajuda muito, como também os clássicos que pode se viver aqui. As partidas nos ajudam a crescer, a tratar de ser o mais inteligente possível para ajudar o jogador a ir bem no jogo.

Dá para dizer que só se o São Paulo jogar como se joga no clássico de Rosario terá chance contra o River?
São coisas diferentes, vamos a um campo onde vai haver cinco mil são-paulinos contra 60 mil de River. O que vai pesar é a história dos clubes. Espero que os atletas respondam bem à ideia e a história da camisa.

Esse São Paulo se parece mais com a LDU ou com o San Lorenzo?
Nenhum. Antes tinha uma base diferente de trabalho da que tinha em São Paulo. Não é desculpa, é uma realidade. Se classificamos, vamos ter mais tempo e o time vai seguir crescendo na temporada.

Qual seu sonho nessa Libertadores?
A única coisa que penso é tratar de classificar. Não penso mais nada que isso, porque tivemos um erro grave na primeiro partido. então agora o que penso é fazer contas. Se ganho do River, se perco, se empato... Tenho a cabeça nisso: se classificarmos, vamos ser um candidato muito firme. Claro que vai nos fortalecer, mas será muito duro porque temos que recuperar os três pontos. Ou no campo do River ou em La Paz.

Além da Libertadores e do futebol, quais suas outras paixões na vida?
Minha família porque está todos os dias comigo, me sustenta. Depois, o que gosto de fazer é jogar tênis por uma hora e meia, duas horas, para escapar de pensar todo dia na equipe e como trabalhar. São as únicas duas horas que trato de sair um pouco, porque depois vivo metido, pensando em como melhorar o time, em algum jogador em especial. Já está muito dentro de mim, não consigo evitar isso.

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