Ao L!, técnico de rival entrega ao São Paulo pontos fracos do Nacional

Victor Luna, que hoje trabalha para o governo em projeto social, é ícone do Independiente Medellín e mostrou como o Tricolor pode se classificar à final da Libertadores

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O elenco do São Paulo ainda descansava em área nobre de Medellín quando a virada sobre o Atlético Nacional (COL) começou a ser, literalmente, desenhada. Longe dos olhares de Edgardo Bauza, o colombiano Victor Luna, técnico histórico do Independiente Medellín tramava plano que pode ajudar o Tricolor nesta quarta-feira, às 21h45, a ir à final da Libertadores.

Victor Luna tem 59 anos e nasceu em Medellín. Como jogador, defendeu Atlético Nacional e América de Cali, ambos da Colômbia

Luna tem muito o que agradecer ao Nacional. Lá viveu a maior parte da carreira como atleta e se formou como treinador, mas há limites para gostar do rival. Depois de usar um caderno de campinhos para mostrar ao L! como o São Paulo pode triunfar, ainda pediu que a foto fosse tirada dentro da loja oficial do Independiente Medellín no Estádio Atanasio Girardot.

– Ao Nacional faltam jogadores maduros. Não se pode armar equipes só com entusiasmo. É preciso mais ordem. O entusiasmo se rompe facilmente. A equipe tem talento, mas não tem a quantidade de trabalho tático necessária – avisou, sentado à mesa de uma barra de sucos em frente ao estádio, o profissional que hoje cuida de projetos sociais do governo no esporte.

Essa não foi a primeira ajuda de Luna contra o Nacional. Nas oitavas de final da Libertadores, ele foi ao hotel do Huracán (ARG) para passar a seu pupilo dos tempos de Medellín, Eduardo Domínguez, como superar o time de Reinaldo Rueda, agora badalado treinador colombiano de quem foi auxiliar em 2001 e sucedeu em 2002 para ser campeão nacional.

Como técnico, Luna trabalhou no Medellín cinco vezes, além de passar por Barcelona (EQU), Once Caldas (COL), Macará (EQU) e A. Bucamaranga (COL)

– O Huracán queimou as comunicações do Nacional e saía rápido. Assim, o Nacional se perde, fica desordenado. Ele parou a equipe em 40 metros, bloqueando as saídas do Nacional. Eles impediam a construção nas zonas mais produtivas, como os passes rápidos de Pérez para Guerra. É aí que você pinta e borda na cara deles. Eles podem trocar cem passes, mas o que importa é você chegar só com três – pontuou, sempre com pausas para rabiscar.

O Huracán engrossou a disputa com o Nacional, mas teve um jogador expulso e se perdeu (0 a 0 na Argentina e 4 a 2 na Colômbia). Ainda assim, Luna tem garantias de que seus sistemas funcionam ao lembrar de vitórias imponentes de seu Medellín sobre o maior rival, como um 3 a 0 em dezembro do ano passado. Então, Bauza, não custa nada ouvir mais um pouco.

Huracán fez jogo duro contra o Atlético Nacional, do meia Guerra, nas oitavas de final da Libertadores (Foto: JUAN MABROMATA/AFP)

– Dá para inverter jogadas e infiltrar fácil, sempre com velocidade. Sem espaço tocam sem parar, mas sem profundidade. Só não pode avançar demais. Se todas linhas sobem, os pontas saem livres, será fatal. Se marcar um gol rápido, vão entalá-los. A história permite ao São Paulo propor o jogo. Tem que saber controlar. O Medellín é o time que mais sabe se encaixar nesses problemas e sempre deixa o Nacional louco assim. É o que vai acontecer se Michel Bastos explorar as costas de Bocanegra – encerrou o "auxiliar" de Patón.

Confira bate-papo com Victor Luna:

Como foi passar de jogador do Atlético Nacional para técnico do Independiente Medellín?

Sempre fui torcedor do Medellín, mas a história me colocou no Nacional, que acabou sendo minha escola para ser treinador. É, aliás, a melhor escola de técnicos na Colômbia. É um clube que dá os elementos para um técnico se formar, que ordena os conhecimentos.

Telê Santana, Zagallo, Francisco Maturana e Pep Guardiola são as referências de Luna como treinador. Como time, elege o Flamengo de Zico e a Seleção Brasileira de 1970, mas chora pela de 1982

Já trabalhou com Rueda, mas e com Juan Carlos Osorio?
Apenas ajudei em treinamentos, enquanto estava fora. Mas nos enfrentamos muitas vezes. Quando ele estava no Millonários, logo após voltar da Europa, veio me enfrentar no Girardot em uma tarde de domingo e saiu com um baile de 4 a 1! Ele se lembra bem disso! O problema é que ele tem pensamentos mais à frente para os latinos, aqui na América do Sul e Central ainda não se aceita certas filosofias europeias.

Qual a diferença entre os dois?
Rueda é um técnico formado na Alemanha, que tem uma metodologia ótima. E não jogou futebol profissional, nunca! Como aconteceu com Osorio. Isso traz coisas boas e ruins, mas nunca foi um limitador para ele pensar o jogo. Existe a parte acadêmica e a prática de campo. Em comparação a Osorio, profe Rueda entende mais a idiossincracia do jogador latino. Gosto do estilo que Rueda pratica, principalmente porque estudou para implantar uma cultura particular ao clube. Tem dado resultado, mas para Libertadores necessita mais do que isso. O futebol lírico aqui é perfeito, praticamente, mas na hora de mudar o pensamento para a defesa os problemas acontecem.

Técnico desenhou estratégia para o São Paulo (Foto: Bruno Grossi)

Crê que Bauza errou ao não repor a saída de Maicon no primeiro jogo?
Há uma coisa a se ponderar. Bauza estava como mandante. Se saca um atacante para colocar um zagueiro, a torcida o mata. Se fosse como visitante, seria algo a ser aplaudido. Só que o cenário ficou ruim e o Nacional realmente poderia ter feito mais, mesmo sem jogar bem. Bauza conhece o futebol colombiano e em Medellín temos muitas características peruanas e argentinas, como o gosto pela posse de bola e valorização das individualidades.


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