O São Paulo de Telê Santana venceu o Barcelona de Johan Cruyff por 2 a 1, de virada e com dois gols de Raí, e sagrou-se campeão do mundo em Tóquio. O jogo aconteceu no já longínquo 13 de dezembro de 1992, mas foi revisitado pelo torcedor tricolor na tarde deste domingo, em compacto exibido pela TV Bandeirantes que até motivou alguns a irem à janela para vibrar.
O Dream Team catalão, campeão da Champions League em cima da Sampdoria (ITA), começou mandando no jogo. Logo no lance inicial, Raí, camisa 10 e principal astro do São Paulo, precisou conter um avanço de Laudrup de forma faltosa, gerando o primeiro lance de perigo para Zetti. Aos 12, o búlgaro Stoichkov encontrou um espaço na marcação de Adilson para chutar de fora da área e guardar a bola no ângulo: 1 a 0.
Aos poucos, porém, o futebol que conquistou a América e que estava prestes a conquistar o Paulistão (o jogo de ida da final contra o Palmeiras foi vencido por 4 a 2 e o de volta ocorreria após o retorno do Japão) foi reaparecendo. O São Paulo apoderou-se da bola e passou a utilizar o talento especialmente de Muller e Cafu, os atacantes pelas pontas, para criar perigo.
Foi em um lance assim, aos 28 minutos, que Muller deu um drible desconcertante em Ferrer pelo lado esquerdo e cruzou para Raí, apagado até então, vencer o goleiro Zubizarreta com uma finalização meio acrobática, de barriga.
Houve um segundo encontro importante entre Muller e Ferrer no primeiro tempo, mas desta vez o espanhol levou a melhor: salvou em cima da linha após o toque por cobertura do atacante, que recebera lançamento preciso de Toninho Cerezo, como Ronaldo Luís salvaria o São Paulo no último lance do primeiro tempo após finalização de Begiristain.
Sobre Toninho Cerezo, aliás, cabe um parágrafo à parte. Aos 37 anos, o atleta mais velho da partida dava aula de como um meio-campista deve se comportar. No lado catalão, Guardiola, aos 21 anos, era o mais jovem no gramado e também demonstrava ótima leitura tática - embora tenha sido presenteado por Raí com um chapéu logo no começo. Será que já era possível imaginar que dali sairia um treinador histórico?
O esquadrão de Telê Santana foi ainda mais dominante depois do intervalo. Zubizarreta já havia feito três boas defesas quando Palhinha foi derrubado perto da meia-lua. Na cobrança, Raí rolou, esperou Cafu pisar na bola e acertou um chute de extrema felicidade, sem chance alguma para o goleiro: 2 a 1. O Mestre Telê abriu um sorriso inesquecível.
Dali até o fim da partida, o São Paulo esteve mais perto de fazer o terceiro gol do que de tomar o empate. Não foi à toa que Cruyff declarou que o time brasileiro "atuou como legítimo campeão" e ponderou: "se for para ser atropelado, que seja por uma Ferrari".
Já não se sabia se o Tricolor conseguiria segurar Raí para 1993, talvez somente até o meio do ano, para a disputa da Libertadores. Mas a verdade é que aquela equipe estava tão bem encaixada e jogava tanto que, mesmo sem o seu camisa 10, poderia tranquilamente sonhar em repetir a dose no ano seguinte. Será que deu?
FICHA TÉCNICA
SÃO PAULO 2 X 1 BARCELONA
Data: 13/12/92
Local: Estádio Nacional de Tóquio
Árbitro: Juan Carlos Lostau (ARG)
Público: 60 mil pagantes
Gols: Stoichkov aos 12 minutos do primeiro tempo e Raí aos 28 minutos do primeiro e aos 34 minutos do segundo tempo.
SÃO PAULO: Zetti, Vitor, Adilson, Ronaldão e Ronaldo Luís; Toninho Cerezo (Dinho), Pintado e Raí; Cafu, Palhinha e Muller. Técnico: Telê Santana
BARCELONA: Zubizarreta, Ferrer, Koeman e Eusébio; Guardiola, Bakero (Goicoechéa), Amor e Witschge; Begiristiain (Nadal), Stoichkov e Laudrup. Técnico: Johann Cruyff