Houve um tempo, não muito distante, que era batata: duelo contra times bolivianos? Três pontos na conta dos brasileiros. Ah saudade... Esse tempo passou, o futebol mudou e hoje os adversários voltam e meia esfregam a realidade em nossa cara. Principalmente quando o time brasileiro ajuda. Foi o caso do São Paulo. Na noite desta quarta-feira, no Pacaembu, o Tricolor serviu o The Strongest (BOL) e foi derrotado por 1 a 0 na estreia na fase de grupos da Libertadores. Início trágico para quem ainda tem o atual campeão River Plate (ARG) no grupo 1 da competição.
E, que fique claro, não foi pelos pés de Lucão. Sob desconfiança, o zagueiro teve atuação segura após sair como culpado da derrota no clássico para o Corinthians. O que levou o Tricolor ao fracasso, decretado na cabeçada de Matías Alonso, aos 17 do segundo tempo, foram uma série de erros e vícios que permeiam o time de Edgardo Bauza nesse começo de ano. As falhas abriram caminho para o Tigre, que não vencia fora de casa na Libertadores desde 1982.
Primeiro ato: os próprios bolivianos sabiam de véspera que, futebol por futebol, sairiam no prejuízo. Mas pareciam prever que o Tricolor trataria de ajeitar as coisas, ao entrar na pilha que costuma equilibrar as forças. Com sete minutos de jogo, Alan Kardec e Rodrigo Caio já tinham recebido amarelo e Ramallo já tinha acertado a trave de Denis após passar a bolas entre as pernas do próprio Rodrigo Caio. Tensão desnecessária para quem jogava em casa, diante de sua torcida.
Segundo ato: a desordem. No primeiro tempo, com a formação habitual, um 4-2-3-1, foram poucas as chances criadas. Pouca inspiração, exceto pela jogada que envolveu Ganso, Thiago Mendes, Michel Bastos e terminou em Kardec acertando a trave - além de uma cabeçada a queima roupa de Lucão. Era caminho aberto para Pablo Escobar, Chumacero e Cia. acreditarem que dava. A postura kamizake do time de Bauza após o intervalo, com o 0 a 0. foi um doce para os bolivianos. O comandante argentino tirou Hudson, até então um dos únicos lúcidos do time, e lançou Calleri, criando um ousado, mas inoperante 4-1-3-2. Era noite de Tigre...
Ao invés de abrir espaço para mais chances, a tática facilitou o trabalho defensivo dos bolivianos, que fez uma parede à frente da área e passou a levar perigo nos contra-ataques. Era preciso uma bola. E ela veio, aos 17 minutos. Na cobrança de escanteio, Pablo Escobar enganou os são-paulinos, e a bola terminou no pé de Chumacero, que, livre, cruzou e encontrou a cabeça de Alonso. O Pacaembu virou um inferno...
Terceiro ato: Centurión. Está simbolizado no argentino os principais defeitos do time neste começo de ano e que se repetiram. Bancado por Bauza, o argentino foi a cara da ineficiência e voltou a irritar os são-paulinos. Não à toa, saiu vaiado e xingado para a entrada de, sempre ele, Rogério. Só que desta vez o talismã nada pode fazer e a vaca, sem trocadilhos com o goleiro do Strongest, foi pro brejo.
Sem conseguir criar chances, restou aos são-paulinos ouvirem os xingamentos, principalmente direcionados a Michel Bastos, o capitão do time. A torcida voltou a pedir raça, ameaçou os atletas. Um cenário trágico, sobretudo que se desenha no grupo 1 da Libertadores. Não é um absurdo dizer que o Tricolor pode brigar pela segunda vaga justamente contra o The Strongest. E aí a decisão seria na última rodada, na temida altitude de La Paz. Haja coração...
FICHA TÉCNICA
SÃO PAULO 0 X 1 THE STRONGEST (BOL)
Local: estádio do Pacaembu, em São Paulo (SP)
Data-Hora: 17/2/2016 - 19h30 (horário de Brasília)
Árbitro: Mario Diaz de Vivar (PAR)
Auxiliares: Carlos Caceres (PAR) e Milciades Saldivar (PAR)
Público-Renda: 26.467 pagantes / R$ 1.596.900,00
Cartões amarelos: Alan Kardec, Rodrigo Caio, Calleri (SAO), Veizaga, Rodrigo Ramallo, Maldonado (STR)
Gol: Matías Alonso 17' 2ºT (0-1)
SÃO PAULO: Denis; Bruno, Lucão, Rodrigo Caio e Mena; Thiago Mendes, Hudson (Calleri - intervalo), Michel Bastos, Ganso e Centurión (Rogério 22'2ºT); Alan Kardec (Kieza 23'2ºT). Técnico: Edgardo Bauza
THE STRONGEST: Daniel Vaca, Luís Maldonado, Federico Pereyra e Marteli; Chumacero, Raúl Castro (Diego Bejarano 30'2ºT), Veizaga, Pablo Escobar e Ernesto Cristaldo; Rodrigo Ramallo (Mariano Torres 36'2ºT) e Matías Alonso (Carlos Neumann 22'2ºT). Técnico: Mauricio Soria