Acionado nos sete jogos de Fernando Diniz à frente do São Paulo, sendo três como titular, Vitor Bueno vive seu melhor momento desde que chegou ao clube e, talvez, desde que lesionou gravemente o joelho direito em julho de 2017, pelo Santos. Ele provavelmente estará na equipe que enfrenta o Palmeiras a partir das 19h30 desta quarta-feira, no Allianz Parque.
- Com certeza é meu melhor momento aqui. Por conta da sequência, né? Quando o jogador tem sequência, mostra que está sendo feito um bom trabalho e a confiança de todos aumenta. O time vem crescendo e eu também. É manter esse nível. Aliás, elevar esse nível para conquistar coisas maiores.
Uma das palavras mais pronunciadas pelo meia-atacante de 25 anos nesta entrevista ao LANCE! foi "sequência", algo que ele não tinha fazia tempo. Após se recuperar da lesão, em 2018, alternou entre o banco e o time titular com Jair Ventura no Santos (19 jogos, sendo cinco como titular e nenhum completo) antes de ser emprestado ao Dínamo de Kiev, onde praticamente não era levado em conta pelo técnico bielorrusso Alyaksandr Khatskevich (três jogos, sendo um como titular e nenhum completo).
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No São Paulo, ele já havia sido acionado seis vezes seguidas por Cuca, inclusive fazendo dois gols (contra Chapecoense e Athletico-PR), mas não em sua posição preferida. Com Fernando Diniz, além da sequência, ele tem liberdade para atuar do jeito que mais gosta.
- Quando o professor Cuca estava aqui eu joguei, mas não na minha posição. Eu cheguei falando que queria ajudar, estava disposto a ajudar e estou disposto a ajudar em qualquer posição, mas na minha posição preferida, onde eu sempre gostei, eu não tinha jogado. É essa que estou jogando agora, aberto pela esquerda com liberdade de ir para dentro. Na verdade, eu tinha jogado só uma vez pela esquerda (com Cuca), contra o Athletico-PR, que foi quando eu fiz o gol. No resto, às vezes eu jogava de centroavante, outros jogos de meia também. Eu gosto de jogar por dentro, mas na minha preferida, aberto, foi só esse jogo contra o Athletico - lembrou.
Veja abaixo o papo completo com Vitor Bueno:
LANCE: Você diz que o Diniz te escala na sua função preferido. Qual é essa função?
Vitor Bueno: Eu gosto quando me deixam à vontade dentro de campo, para eu poder ir buscar a bola no meio se eu quiser. O Diniz me dá essa liberdade. Eu começo ali na esquerda, aberto, mas se você reparar às vezes eu estou lá do outro lado, às vezes por dentro. É assim que eu gosto de jogar: livre, mas também com responsabilidade, sabendo que podemos tomar um contra-ataque. A gente treina bastante para isso não acontecer. Estou gostando de fazer essa função.
É praticamente a primeira vez que você tem sequência de jogos desde a sua lesão no joelho. Você estava na reserva quando saiu do Santos, depois jogou pouco na Ucrânia... Sente que a carreira está em um recomeço?
Na verdade, eu não estava na reserva quando saí do Santos, mas não estava vivendo o grande momento que tive antes da lesão. Enfim, fui respirar novos ares, acabei não tendo a sequência desejada e voltei. Estou buscando novamente meu espaço, estou me encontrando dentro da equipe, em uma crescente. É fruto de um grande trabalho não só meu, mas dos meus companheiros também. Com muita dedicação minha nos treinamentos as coisas vêm acontecendo.
Por que você acha que passou pelo que passou no Santos e na Ucrânia?
O presidente do Santos queria muito o Derlis. Acho que só ele, na verdade. Muitas pessoas queriam que eu ficasse, mas acabei respeitando o presidente e o acordo, pensando financeiramente, foi bom para mim também. Fui respirar novos ares, estava voltando de lesão e não tinha encontrado o bom futebol que eu joguei em 2016 e 2017. Na Ucrânia, faltou colocar para jogar. Faltou colocar para jogar... Eu sempre treinei, nos dez meses que estive lá nunca me lesionei. Foi opção do treinador não me colocar. Eu ia muito bem nos treinamentos, nos amistosos eu sempre fazia gol, mas não jogava por opção dele. A gente tem que respeitar, mas chegou o momento em que não dava mais. Tinha que buscar retomar minha carreira. Estava em um time da Europa, é ruim ficar sem jogar, e graças a Deus apareceu essa chance muito boa para a minha vida, para a minha carreira, que foi vir para o São Paulo. Estou jogando e estou feliz.
Você ainda tem como objetivo jogar na Europa?
Quando a gente sai do Brasil para ir jogar na Europa, a gente acha que é um passo gigantesco na nossa carreira. Claro que se eu jogasse bem seria uma porta de entrada para um clube grande da Europa, mas acabou não acontecendo. Aí a gente volta para o Brasil e as pessoas acham que sua carreira está regredindo. Não, estou voltando para o São Paulo, não estou regredindo de forma alguma. Estou jogando em um dos maiores clubes do mundo. Hoje estou aqui, estou feliz, aproveitando meu momento. Sou do Santos ainda, estou emprestado, o São Paulo tem uma opção de compra, e vou fazer de tudo para que exerça essa opção e eu fique aqui por muito tempo.
O São Paulo teve quatro técnicos em 2019 e também contratou muitos jogadores com a temporada em andamento. Acha que isso pesou para a falta de títulos?
É importante o treinador pegar o time desde o começo da pré-temporada. Nesse ano o Cuca chegou na reta final do Paulistão, não foi ele que fez a pré-temporada, e mesmo assim nós fizemos um bom início de Brasileiro, acabamos tropeçando do meio para o fim e perdemos muitos pontos bobos. Ele estava fazendo um grande trabalho, mas aconteceram esses tropeços e aconteceu a troca de técnico. Estamos gostando da filosofia do professor Diniz. Com ele permanecendo para a pré-temporada tenho certeza que vamos subir ainda mais o nível. Nosso pensamento é grande. É claro que o objetivo agora é a Libertadores, mas temos que pensar em título também. Para isso é preciso ter uma base boa, e isso o São Paulo tem. Jogadores qualificados, contratações grandes que aconteceram... Acho que tem tudo para dar certo.
Tem gostado do início do trabalho do Diniz? Sua confiança aumentou?
É importante ter a confiança do seu treinador, ouvir palavras que vão aumentar sua auto-estima. Eu gosto disso, aumentou minha auto-estima. Dentro de campo estou me sentindo mais solto, o que também é consequência dos jogos. Com a sequência você fica mais solto, mais leve. Quando você não está jogando, você entra 15, 20 minutos e já fica cansado, abafa. Quando tem sequência, você fica mais tranquilo, consegue fazer no jogo aquilo que você faz nos treinamentos. Todo jogador precisa de sequência para mostrar seu futebol, e isso venho tendo.
Como jogador de ataque, como você explica o fato de o time ter menos gols do que jogos em 2019 (48 gols em 51 jogos)?
Acho que estamos criando bastante, estamos chegando bem. Está faltando a efetividade. A gente chega, consegue dar o último passe e não consegue concluir a gol. Contra o Atlético-MG nós conseguimos, fizemos dois gols contra um time forte, que tinha ganhado bem do Santos. Não é fácil, eles têm uma zaga experiente, uma zaga boa, muito boa, por sinal. Tendo essa efetividade vamos conseguir empurrar mais bolas para dentro. Temos jogadores qualificados para isso. É impressionante quando a gente faz treino de finalização aqui o tanto de gol que acontece. A gente está criando, o último passe está saindo. É ter mais tranquilidade na cara do gol, ser efetivo.
É enriquecedor trabalhar com jogadores como Hernanes, Juanfran e Daniel Alves?
Pô, nem fala, é muito. Às vezes você está treinando e fica meio assim... O Daniel é o maior campeão do mundo, o Juan tem um histórico muito bom também, final de Champions League, muito tempo de Atlético. Esse pessoal ajuda muito a gente, dá conselho para a molecada, tática e tecnicamente... Só aumenta o nosso nível de treinos, a nossa vontade de chegar aonde eles já chegaram, vencer como eles venceram. É importante para todo mundo aqui dentro.
O São Paulo vem sofrendo em clássicos nos últimos anos, mas ganhou de Santos e Corinthians neste Brasileirão. Vencer o Palmeiras seria mostrar que um novo momento em clássicos está começando?
O São Paulo tem que ser forte em todos os jogos, principalmente nos clássicos. Acho que vai ser um grande jogo, o Palmeiras tem uma grande equipe, mas temos que pensar só na história. Por mais que nunca tenhamos vencido lá dentro, não temos que pensar em empate. O Palmeiras, ao meu ver, tem até o favoritismo, está na nossa frente, mas espero que possamos sair com a vitória.
O Allianz Parque exerce uma pressão diferente?
A torcida deles empurra bastante, mas ainda fico com o Morumbi lotado. Já joguei bastante lá. Ganhei, perdi, empatei... Para nós, ali dentro de campo, não interfere tanto. Você está focado dentro de campo e nem percebe muitas coisas. Eu, pelo menos, não presto muita atenção. Mas faz barulho, né? Como todo estádio.
O São Paulo voltará a ganhar títulos em 2020?
Nunca podemos cravar, mas é o nosso objetivo. Uma equipe como o São Paulo não pode ficar tanto tempo sem ganhar. Nosso objetivo era buscar o Brasileiro, agora está um pouco difícil, mas vamos fazer de tudo para que 2020 seja o ano do São Paulo. E que eu possa cada vez mais agregar ao time do São Paulo, fazer gols e ajudar o clube a chegar ao pódio.