A derrota do São Paulo para o Red Bull Bragantino no reinício do Paulistão foi uma decepção para aqueles que esperavam uma atuação soberba e um deleite para os que olham torto para Fernando Diniz e gostam de pregar terra arrasada a cada resultado ruim. Mas há análises menos superficiais a se fazer.
Antes de qualquer coisa: dessa vez, ao contrário de outros tropeços da temporada, não foi um resultado enganoso. O São Paulo não produziu o suficiente para vencer, foi derrotado com justiça.
A notícia boa é que a ideia de jogo que fez a equipe atuar bem em praticamente todas as partidas antes da pandemia e entusiasmar boa parte de sua torcida estava ali. Em todos os momentos do jogo, ganhando, empatando ou perdendo, o São Paulo buscou o toque e a aproximação a partir do goleiro, algo que vinha dando certo e tem tudo para voltar a funcionar quando os atletas retomarem o ritmo de jogo.
Não foi difícil, aliás, identificar aqueles que mais sentiram os efeitos dos quatro meses sem futebol. Vitor Bueno, por exemplo, esteve irreconhecível. Arboleda tomou um drible que não costuma tomar no um contra um com Morato no segundo gol do Red Bull Bragantino. Igor Gomes, apesar de uma boa enfiada que quase terminou com golaço de Pato, parecia menos potente que o normal. Está aí o resumo do Tricolor: com alguns jogadores abaixo da média individualmente, o coletivo teve dificuldade para sobressair. Faltou potência.
O São Paulo tomou três gols em um mesmo jogo pela primeira vez no ano, com falhas coletivas e individuais na defesa que há tempos não se via. Na frente, apesar das boas chances que Pato desperdiçou, faltou alguém jogando no nível de Pablo.
O camisa 9, aliás, parece ser o são-paulino que menos sofre com a falta de ritmo. E mais: o que menos liga para a falta de público na arquibancada. Assim como na vitória por 2 a 1 sobre o Santos, também com portões fechados, ele marcou dois gols. E dessa vez iniciando como titular na vaga de Antony, pela direita, algo que sabe fazer bem, apesar da desconfiança de muitos.
Pablo não é e nunca será Antony. Não pela qualidade, mas pelas características. O São Paulo perde jogadas em velocidade e profundidade pela direita, mas ganha um jogador que sabe se movimentar e achar espaços deixados pelo deslocamento do centroavante (como no primeiro gol, de cabeça, dentro da área) ou dar opção para os meias (como no segundo, aproveitando bola ajeitada por Daniel Alves e chutando de longe). Essa movimentação permitiu até que Juanfran, que não é um lateral exatamente ofensivo, fizesse boas jogadas de fundo.
O que não funcionou desta vez foi a troca de um zagueiro por um homem mais ofensivo, estratégia que Diniz já havia usado contra Santo André e Santos - ambas com sucesso em termos de volume de jogo, embora a equipe tenha perdido no ABC. Felipe Conceição, provavelmente ciente do que o técnico do São Paulo pretendia ao colocar Reinaldo na zaga e Everton como um ala pela esquerda, manteve sua equipe marcando no campo de ataque. Reinaldo pouco conseguiu se descolar da posição de zagueiro para gerar superioridade numérica na frente.
Além de "enferrujarem" o jogo do São Paulo, os quatro meses de pausa serviram para os treinadores adversários analisarem ainda melhor os pontos fortes dessa equipe e criarem antídotos. Será preciso encontrar outras alternativas, como as tentadas com Helinho e Paulinho Boia pelos lados nos minutos finais. Ainda é pouco.