Se há um grande vencedor na Data Fifa de outubro, encerrada na última terça-feira (15), este é Dorival Júnior. Não apenas pelas duas vitórias que conquistou com o Brasil (2 a 1 sobre o Chile e 4 a 0 diante do Peru), mas pela maneira como elas aconteceram.
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O técnico teve influência direta nos resultados ao achar um novo padrão de jogo para a equipe canarinho: depois de tanto insistir em variações do 4-4-2 e do 4-2-3-1, o técnico resolveu apostar no sistema tático "da moda", utilizado por algumas das principais equipes do mundo (como Manchester City e Barcelona), o 3-2-5.
O grande mérito do treinador, no entanto, não está apenas na mudança do sistema. Dorival também alterou a maneira de atacar da equipe: no lugar do "jogo de aproximação", que dá liberdade para os jogadores aglomerarem na jogada e trocar passes curtos, entrou o ataque posicional. Nele, os atletas ocupam espaços pré-determinados e esperam a chegada da bola para participar efetivamente do lance.
O técnico também organizou seus jogadores em posições semelhantes às que atuam em seus clubes, na intenção de deixá-los confortáveis para jogar, sem necessidade de adaptação a novas tarefas.
Na linha de defesa, por exemplo, o lateral-direito Danilo (e no jogo seguinte Vanderson), se posicionou como um terceiro zagueiro, para iniciar as jogadas com superioridade numérica. Do outro lado, Abner ganhou liberdade para atacar como um ponta-esquerda, função semelhante à que exerceu no Lyon no início da temporada, quando a equipe jogava com três zagueiros.
No ataque, Savinho atuou da forma que está habituado no Manchester City, como ponta-direita, posição em que costuma arrancar suspiros de Pep Guardiola. Seu trabalho era pisar na linha lateral, atrair a marcação do lateral e, por consequência, abrir o time adversário. Ao receber a bola, o atacante desmontava a defesa adversária com seus dribles e a velocidade. Foi assim, por exemplo, que saiu o primeiro gol do Brasil diante do Chile, marcado por Igor Jesus.
Mas, inegavelmente, foi Luiz Henrique quem melhor atuou na posição. O jogador, que foi um dos destaques da Seleção na rodada, marcou dois gols (um em cada partida) e criou outras inúmeras jogadas - como a do golaço de Andreas Pereira - atuando na mesma posição e com as mesmas tarefas.
Por fim, Rodrygo e Raphinha também tiveram papéis semelhantes aos que estão habituados em seus clubes (Real Madrid e Barcelona, respectivamente): atuando por dentro, como meias.
A função de ambos, entretanto, não era a de organizar o jogo, como um camisa 10 clássico, mas a de atacar os espaços vazios entre o meio-campo e a defesa rival. Assim, zagueiros e volantes ficavam em dúvida sobre quem eram os responsáveis pela marcação dos meias. Até que uma decisão fosse tomada, a bola já estava com um dos dois.
O resultado de tantas mudanças foi uma Seleção mais agressiva - ou com mais profundidade, como disse o próprio Dorival em uma das coletivas pós-jogo. Ainda assim, há muito o que melhorar. Um exemplo está na troca de passes lenta, que tornou o time previsível durante a primeira etapa diante do Peru. O ataque estático, como se os jogadores estivessem pregados em campo, também precisa de ajustes urgentes.
Dorival sabe - e admitiu - que a equipe ainda não está pronta. Mas o técnico demonstrou nos dois últimos jogos que não tem compromisso com o erro e está disposto a mexer na equipe quando algo não dá certo. Ponto para o treinador, que vê a pressão aliviar e, aos poucos, vai mostrando ao torcedor que a Seleção tem plenas condições de se classificar para mais uma Copa do Mundo.
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