Há quase um ano, Pia Sundhage encantava o Brasil ao tocar “Anunciação”, de Alceu Valença, no piano. A técnica da Seleção Feminina, contudo, não encontra mais o clima com que festejou em Tóquio 2020. Em busca de renovação no plantel canarinho, a sueca se mostra determinada a levar suas ideias para a Copa América. Embora seu carisma ainda seja unanimidade, chegou a hora de dar à Amarelinha o primeiro grande resultado em meio à tensão.
Coragem. Esta é uma das palavras mais utilizadas por Pia, que aceitou o desafio de comandar a Seleção após a Copa do Mundo. Ainda em 2019, chegou ao Brasil e encontrou uma defasagem de gerações em relação à equipe norte-americana, com a qual conquistou dois ouros olímpicos.
A técnica foi recebida como grande estrela e teve a garantia de liberdade para buscar a equiparação com o resto do mundo. Em pouco tempo, aprendeu português, virou sinônimo de simpatia e tirou sucessos nacionais no violão e piano.
Como todo processo de mudanças, há tropeços - e dúvidas. A ausência de jogadoras renomadas nas convocações foi um dos primeiros desafios que Sundhage teve de enfrentar, mas não o único.
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Nas Olimpíadas, a eliminação nas quartas de final após uma disputa de pênaltis desastrosa foi outro ponto crítico para a opinião pública. Ainda assim, Pia se mantém convicta de suas escolhas e afirma que a renovação do elenco, que há muito se sabe necessária, está em curso.
Porém, não é disso que Pia Sundhage é feita. Além do currículo da treinadora, algo em sua personalidade indica que é preciso “escutar os seus sinais”. Se para alguns o caráter da novidade é assustador, para a sueca é combustível.
- Somente confiar no que fizemos previamente também é perigoso. Não podemos fazer a todo momento por duas razões. As jogadoras mais velhas não são tão boas quanto eram e as jogadoras no mundo estão ficando melhores, o jogo está desenvolvendo. Algumas novas jogadoras trazem diferentes qualidades, mas também trazem o encorajamento de querer fazer coisas diferentes. Um time forte, agressivo. Essa é a única forma de fazer, eu penso - disse Pia.
A técnica, que foi responsável por integrar as categorias de base da Seleção ao profissional, fala sempre em conexão. Para entrar em campo, vencer, existir. Foi assim que driblou a homofobia durante toda sua vida, e é da mesma maneira que comanda a Amarelinha.
Além das emoções de Brasil e Argentina, que marca a estreia da Seleção, a Copa América é um livro em branco. Ainda que não conte mais com as estrelas da Amarelinha, a equipe de Pia terá o talento de Bia Zaneratto, Antônia, Angelina, Geyse e tantas outras jogadoras que anunciam um novo momento do futebol feminino. Assim, o torneio será um campo fértil para toda a inventividade e carisma da sueca mais brasileira que o país já conheceu.