De GPS a controle do sono: Seleção se prepara para ‘maratona’ pelo ouro

Atrás da inédita medalha, equipe de futebol do Brasil traça planejamento. Ideia é fazer poucos treinos durante a Olimpíada e monitorar de várias formas o desgaste dos jogadores

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Para finalmente conquistar a medalha de ouro olímpica, a Seleção Brasileira terá de enfrentar uma maratona de jogos na Rio-2016. O caminho até o lugar mais alto do pódio começa em 4 de agosto e acaba dia 20, no Maracanã, com seis partidas neste intervalo de 17 dias. Para aumentar o desgaste, a delegação canarinho viajará para quatro estados diferentes - sem contar o amistoso em Goiás, contra o Japão, neste sábado.

Preocupada com possíveis lesões e queda de rendimento, a comissão técnica da Seleção traçou um planejamento de treinos e se cercou de ferramentas e métodos para avaliar e diminuir a fadiga dos jogadores.  Há desde o uso de GPS a pequenos cuidados com sono e alimentação.

Os jogadores vem treinando e jogarão com um chip preso ao corpo capaz de medir velocidade percorrida, aceleração, deslocamento em campo e outros dados. Eles são utilizados pela comissão técnica para medir o desgaste do elenco e também para elaborar treinamentos e fazer ajustes táticos.

Após as partidas, esses dados serão cruzados com exames de creatina quinase (CK) e termografia, que medem, entre outras coisas, o desgaste muscular.

Só isso, porém, não é suficiente. É preciso treinamentos certos e na intensidade adequada, alimentação balanceada e muito descanso. Por isso, os atletas estão sendo orientados a dormirem cedo, recomendação que será reforçada durante a Rio-2016.

Se a maratona deve cansar os jogadores, ao técnico Rogério Micale ela causará um outro problema. Ele mal terá tempo para fazer ajustes em campo. Com pouco tempo para recuperação, os treinos durante a Olimpíada serão poucos e leves.

- Com jogos em alta intensidade e apenas dois dias de intervalo, a comissão técnica optou por basicamente recuperar os atletas. Os treinos serão na maioria das vezes regenerativos. É claro que algum ajuste tático ou de bola parada será feito, mas sempre em baixa intensidade e volume, ao contrário do que fizemos na pré-temporada - afirmou o fisiologista da Seleção, Eduardo Pimenta, ao LANCE!. Ele trabalha chefiado pelo médico André Pedrinelli e ao lado dos fisioterapeutas Eduardo Pimenta e Alex Evangelista e do preparador físico Marcos Seixas.

Com atletas que atuam no Brasil, na Europa e até na Ásia, caso do meia Renato Augusto, que se juntou ao elenco na noite da última quarta-feira, a comissão técnica se preocupou em fazer uma preparação que deixasse todo o elenco em condições semelhantes. Hoje, com exceção de Renato, todos estão iguais... E prontos para o ouro!

- BATE-BOLA COM EDUARDO PIMENTA, EM ENTREVISTA AO LANCE!:

Como será a preparação para tantos jogos em tão pouco tempo?
Na realidade, há alguns anos os clubes brasileiros já convivem com essa realidade de três jogos por semana. Essa competição apresenta a mesma configuração. Assim que o Rogério Micale convocou os atletas, começamos rastrear informações. Temos dois grupos, atletas que estavam disputando o Brasileiro e estão habituados com essa carga de jogos - o que não quer dizer que não sintam, isso seria impossível. E temos quatro atletas em outro modelo, que estão sob influência do calendário europeu, além do Renato, que vinha jogando na China.

Foi feito um trabalho com cada grupo?
Os que atuam no Brasil estavam em uma sequência de quase seis jogos seguidos, a turma europeia estava iniciando pré-temporada. Nossa ideia foi reduzir intensidade e aumentar volume nas primeiras sessões de treino. Como isso atendemos as duas realidades.

O que isso quer dizer?
As respostas dos atletas foram muito boas, usamos marcadores bioquímicos e termografias. Com três ou quatro sessões os atletas apresentaram homogenização de carga, resposta parecida aos treinamentos. Aí aumentamos intensidade e reduzimos volume de trabalho.

Então os atletas que vinham de férias já estão prontos?

Hoje praticamente todos estão no mesmo patamar, o que permite ao Rogério Micale dar treinos iguais.

Explique mais como funciona o GPS que os atletas usarão.
Ele serve para monitorar o desgaste físico durante a partida. Todos os atletas recebem o equipamento. E depois é gerado um relatório que é repassado à comissão. Treino após treino a comissão estabelece condutas a partir disso. Isso ajuda muito a dosar o desgaste. Temos outras avaliações também, marcadores de dano muscular, termografia...

O Renato Augusto receberá cuidados especiais?

Não, na realidade todos têm cuidados especiais. A utilização dele no amistoso vai depender do fuso-horário, tem quem responda rapidamente, outros demoram mais.

Haverá rodízio de jogadores?
Talvez por acúmulo de jogos a comissão opte por descansar um ou outro, mas não dá para prever antes.

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