Costuma-se dizer que o Brasil precisa de Neymar para vencer. E, em boa parte, isso tem sido verdade. Mas, na sofrida vitória sobre a Costa Rica, na sexta, a situação foi o oposto: o Brasil venceu não com Neymar, mas apesar de Neymar. Tudo bem, Tite pode até ter razão no que disse na entrevista após o jogo: é desumano colocar a responsabilidade toda em um jogador, ainda mais quando este jogador vem se recuperando de uma contusão que o deixou três meses parado e que pouco jogou 90 minutos desde que voltou a pegar em bola.
Mas o fato é que o camisa 10, seja no jogo, seja na postura, foi a antítese do que o treinador quer para a seleção. Foi quem mais erou passes segundo as estatísticas da Fifa – superando até mesmo Marcelo e Willian, outros que visivelmente chegaram à Copa longe de sua forma ideal. Como já fizera na estreia contra a Suíça, Neymar reteve demais a bola, abusou do individualismo, facilitou a vida dos adversários que a caçavam em campo. Um bom chute que passou raspando à meta de Navas, um lençol na lateral esquerda e um sensacional drible lambreta já quando o Brasil vencia, foi tudo o que conseguiu na partida. Além, é claro, de ter empurrado a bola para as redes.
Mas, esse rendimento ruim, muito abaixo do que dele se espera e do que ele espera dele mesmo, tem outra explicação além do desgaste de um longo período afastado dos gramados por conta da fratura no pé. Neymar tem jogado contra as faltas dos adversários, sim, mas principalmente contra a sua própria falta de equilíbrio. Simulações excessivas, reclamações exacerbadas que o levaram a tomar o cartão amarelo e a injustificável agressividade que demonstrou ao xingar Thiago Silva quando o zagueiro fez o que deveria ter feito, devolver a bola aos costarriquenhos num gesto de fair-play após uma paralisação do jogo, demonstram o estado de absoluto descontrole emocional pelo qual ele passa.
Diferentemente de Cristiano Ronaldo – outro afeito a polêmicas e alvo de uma dita implacável perseguição da mídia – Neymar é apenas um craque. É isso já é muito. Querer que ele seja um líder é esperar demais. Não é e não será jamais. Nos momentos difíceis como esse começo de Copa na Rússia, ele precisa ser blindado pela comissão técnica e protegido pelos companheiros. Quando o papel de um líder deveria ser o contrário, ser ele o defensor do grupo, assumindo responsabilidades e dando a cara à tapa.
Diga-se de passagem, ele não tem obrigação alguma de fazer isso. Seu negócio é jogar bola. E essa é a melhor maneira que tem de ajudar o time. Quando Neymar vai bem em campo o jogo flui bem. O problema começa quando ao invés de contagiar o resto do time com o seu talento, o que ele transmite é nervosismo, ansiedade, irritação. Um estado de espírito que acaba conturbando o ambiente, travando o jogo, alimentando críticas justas ou injustas mas que acabam atingindo a todo o grupo e comprometendo até a relação do torcedor com a seleção, algo que desde a possa de Tite vinha sendo reconstruído,
É indiscutível que Neymar é um fora de série. As chances de que um dia esteja ali no topo do mundo, onde CR7 e Messi se engalfinham nos últimos 10 anos, são bem reais. Também é certo que muita gente, boa parte da mídia inclusive, seja no Brasil, na Espanha ou na França, simplesmente não consegue engolir seu jeito de ser. Suas atitudes dentro e fora do campo, um direito que ele tem de levar a vida como quiser, por vezes são hiper dimensionadas e repercutem de uma maneira estrondosa quando certamente passariam despercebidas se vindas de outros, os queridinhos da mídia, adeptos do politicamente correto.
Voz corrente, depois da batalha de sexta em São Peterburgo é que o gol no último minuto do jogo, o choro compulsivo no gramado após o apito final tenham servido como uma espécie de descarrego, algo para lavar a alma e libertar o espírito de Neymar. Pois que seja assim.