Sim, o título foi para te provocar. Mas deixa eu te apresentar uma oportunidade: entender com profundidade as escolhas do técnico da Seleção Brasileira pode reduzir muito seu nível de estresse. Você ainda pode discordar delas - de quantas quiser. Mas aí será a partir de uma análise com embasamento, sem ser abastecido pela raiva do desconhecido. É terapêutico.
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Os tempos são de impaciência. E não é para menos. O primeiro ano de trabalho do Dorival foi cheio de altos e baixos, estacionando o Brasil na 5º colocação das Eliminatórias. Pela frente, duas pedreiras: Colômbia (20/03) e Argentina (25/03). Eu sei, mas vamos por partes.
Uma das principais polêmicas que assola o torcedor brasileiro é a falta de um camisa 9. Entre os atacantes na lista, apenas um exerce essa função no seu clube: João Pedro, do Brighton - ainda que ele seja um centroavante do tipo que gosta de sair bastante da área.
Mas a situação não é novidade, ou não deveria ser. Dos 14 jogos do Dorival pela Seleção Brasileira, ele usou um centroavante de origem no time titular na metade (sete) das 7 vezes, optando por um falso 9 na outra metade.
É a tendência no futebol moderno. Cada vez mais se observam grandes times sem aquele camisa 9 tradicional. Não que isso seja a única forma certa de se fazer. O recado dos tempos aponta para a pluralidade de formas de ser eficaz no ataque.
Cravar que o problema da Seleção é não ter um centroavante de área é não querer olhar para as gramas dos vizinhos. Ou nem para a própria. Ter tantos atacantes móveis em alta é uma realidade geracional que deve ser abraçada e desenvolvida, não condenada.
Na amarelinha, quem aparece na frente nas escalações, muitas vezes, é o Rodrygo. Mas, quando a bola rola, o que ele mais faz é desocupar a posição, deixando o espaço livre para a infiltração de outros jogadores. É a tal da mobilidade que o Dorival tanto defende nas entrevistas coletivas: a disposição em dar mais liberdade de movimentação aos homens de frente.
Ainda que o propósito desta coluna não seja explicar o funcionamento de um falso 9, vale ressaltar que a ideia de se ter um na Seleção Brasileira anda de mãos dadas com o desejo de recriar o ataque do Real Madrid, onde Vini e Rodrygo são protagonistas. O objetivo é que, sem um fixo,9 ambos se aproximem mais da dupla já formada outrora no ataque madridista, antes da chegada do francês Mbappé.
Tendo essa lógica em mente, acrescente a volta de Neymar Jr e o crescimento de produção do Raphinha, antes ponta-direita, mas agora sendo usado como meia-atacante ou ponta-esquerda - assim como tem sido no Barcelona na sua temporada de concorrente a melhor do mundo (sem exageros aqui).
Brisa de esperança no ar com quarteto
Acredito que um quarteto móvel formado por Vinicius Jr, Rodrygo, Neymar e Raphinha traz uma leve brisa de esperança no ar e explique o fato da convocação de apenas um 9 como opção de banco.
Uma forma de impedir que essa brisa se torne tormento defensivo, na minha visão, é escalar o time com Neymar como meia-atacante e Vinicius Jr na frente - assim como o Ancelotti o moldou a fazer há cerca de um ano. Rodrygo de um lado e Raphinha do outro, como preferir, apenas para garantir as suas participações para fecharem os corredores no momento defensivo - como estão acostumados a fazer bem em seus clubes - não tornando essas avenidas que sobrecarreguem os laterais.
Do meio para trás, mais preocupações nacionais e terrenos férteis para polêmicas. A maior da vez: a convocação de apenas um lateral-esquerdo, Guilherme Arana. Parece uma charada confusa, mas a explicação é simples: Danilo foi chamado como opção à lateral esquerda.
Dorival disse com todas as letras na coletiva: “Danilo pode jogar em qualquer posição da linha defensiva”. E realmente pode, é um jogador versátil e já provou isso na Juventus. A questão é se deve.
Ainda que o Danilo receba críticas exageradas, houve uma pequena melhora na construção ofensiva da Seleção Brasileira quando ela passou a ter dois laterais que também podem apoiar no ataque - Abner e Vanderson, por exemplo. A alternância entre quem ajuda na saída e quem sobe para o ataque trouxe uma mobilidade que ajudou a destravar essa construção.
Convocação e análise feitas, as avaliações também são móveis e aguardemos, pois, o desempenho da Seleção contra Colômbia e Argentina.