Opinião: a convocação é ruim ou você não entendeu a lógica por trás dela?

Têm muito detalhe tático que explica as polêmicas da convocação de Dorival Júnior, mas ainda não te contaram

imagem cameraTécnico Dorival Júnior durante convocação da Seleção Brasileira (Foto: Rafael Ribeiro/CBF)
Captura-de-tela-2024-08-12-092420-aspect-ratio-1024-1024Tiago Herani
Cria Lab!
Autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, esse texto não reflete necessariamente a opinião do Lance!
Dia 06/03/2025
23:41
Atualizado em 07/03/2025
08:08
Compartilhar

Sim, o título foi para te provocar. Mas deixa eu te apresentar uma oportunidade: entender com profundidade as escolhas do técnico da Seleção Brasileira pode reduzir muito seu nível de estresse. Você ainda pode discordar delas - de quantas quiser. Mas aí será a partir de uma análise com embasamento, sem ser abastecido pela raiva do desconhecido. É terapêutico. 

➡️ Siga o Lance! no WhatsApp e acompanhe em tempo real as principais notícias do esporte

Os tempos são de impaciência. E não é para menos. O primeiro ano de trabalho do Dorival foi cheio de altos e baixos, estacionando o Brasil na 5º colocação das Eliminatórias. Pela frente, duas pedreiras: Colômbia (20/03) e Argentina (25/03). Eu sei, mas vamos por partes.

Uma das principais polêmicas que assola o torcedor brasileiro é a falta de um camisa 9. Entre os atacantes na lista, apenas um exerce essa função no seu clube: João Pedro, do Brighton - ainda que ele seja um centroavante do tipo que gosta de sair bastante da área.

Mas a situação não é novidade, ou não deveria ser. Dos 14 jogos do Dorival pela Seleção Brasileira, ele usou um centroavante de origem no time titular na metade (sete) das 7 vezes, optando por um falso 9 na outra metade.

É a tendência no futebol moderno. Cada vez mais se observam grandes times sem aquele camisa 9 tradicional. Não que isso seja a única forma certa de se fazer. O recado dos tempos aponta para a pluralidade de formas de ser eficaz no ataque.

Cravar que o problema da Seleção é não ter um centroavante de área é não querer olhar para as gramas dos vizinhos. Ou nem para a própria. Ter tantos atacantes móveis em alta é uma realidade geracional que deve ser abraçada e desenvolvida, não condenada.

Na amarelinha, quem aparece na frente nas escalações, muitas vezes, é o Rodrygo. Mas, quando a bola rola, o que ele mais faz é desocupar a posição, deixando o espaço livre para a infiltração de outros jogadores. É a tal da mobilidade que o Dorival tanto defende nas entrevistas coletivas: a disposição em dar mais liberdade de movimentação aos homens de frente.

Ainda que o propósito desta coluna não seja explicar o funcionamento de um falso 9, vale ressaltar que a ideia de se ter um na Seleção Brasileira anda de mãos dadas com o desejo de recriar o ataque do Real Madrid, onde Vini e Rodrygo são protagonistas. O objetivo é que, sem um fixo,9 ambos se aproximem mais da dupla já formada outrora no ataque madridista, antes da chegada do francês Mbappé. 

Tendo essa lógica em mente, acrescente a volta de Neymar Jr e o crescimento de produção do Raphinha, antes ponta-direita, mas agora sendo usado como meia-atacante ou ponta-esquerda - assim como tem sido no Barcelona na sua temporada de concorrente a melhor do mundo (sem exageros aqui). 

Brisa de esperança no ar com quarteto

Acredito que um quarteto móvel formado por Vinicius Jr, Rodrygo, Neymar e Raphinha traz uma leve brisa de esperança no ar e explique o fato da convocação de apenas um 9 como opção de banco.

Uma forma de impedir que essa brisa se torne tormento defensivo, na minha visão, é escalar o time com Neymar como meia-atacante e Vinicius Jr na frente - assim como o Ancelotti o moldou a fazer há cerca de um ano. Rodrygo de um lado e Raphinha do outro, como preferir, apenas para garantir as suas participações para fecharem os corredores no momento defensivo - como estão acostumados a fazer bem em seus clubes - não tornando essas avenidas que sobrecarreguem os laterais. 

Do meio para trás, mais preocupações nacionais e terrenos férteis para polêmicas. A maior da vez: a convocação de apenas um lateral-esquerdo, Guilherme Arana. Parece uma charada confusa, mas a explicação é simples: Danilo foi chamado como opção à lateral esquerda.

Dorival disse com todas as letras na coletiva: “Danilo pode jogar em qualquer posição da linha defensiva”. E realmente pode, é um jogador versátil e já provou isso na Juventus. A questão é se deve.

Ainda que o Danilo receba críticas exageradas, houve uma pequena melhora na construção ofensiva da Seleção Brasileira quando ela passou a ter dois laterais que também podem apoiar no ataque - Abner e Vanderson, por exemplo. A alternância entre quem ajuda na saída e quem sobe para o ataque trouxe uma mobilidade que ajudou a destravar essa construção.

Convocação e análise feitas, as avaliações também são móveis e aguardemos, pois, o desempenho da Seleção contra Colômbia e Argentina.

Dorival Júnior e a missão de reconstruir a Seleção (Nelson Almeida/AFP)
Siga o Lance! no Google News