"Dunga não serve para dirigir craques. Em sua primeira fase na Seleção (2006-2010) teve atritos com Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Adriano. Agora acabou a sua sintonia com Neymar. Isso sem falar das relações ruins que o treinador tem com Marcelo e Thiago Silva.
Dunga sempre preferiu lidar com jogadores de segundo escalão, que demonstram devoção eterna ao técnico, pois este lembrou de chamá-los para a "Canarinha". As limitações de Dunga - que a torcida "não quer ver nem pintado" - vão além. Taticamente, tem um trabalho rupestre, com desenho tático obsoleto, obcecado por dois pivôs ofensivos, o que inviabiliza uma saída de bola vindo de trás.
Neymar é a estrela solitária. Mas, em lugar de uma equipe que jogue para ele - como fez acertadamente o antecessor Felipão - o tira de sua posição natural, aquela mesmo que fez brilhar no Santos e várias vezes na Seleção. Aquela que o faz ser eficaz hoje no Barcelona e que o levou ao terceiro lugar na lista de melhores do mundo.
Dunga leva um ano e meio e ainda não tem claro onde colocar Neymar em campo Obviamente, o time canarinho se ressente, o jogo não flui, os resultados não chegam, a ponto de o Brasil não ser capaz de ganhar de Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile e neste momento estar ocupando um sexto lugar vergonhoso na tabela das Eliminatórias, fora até mesmo da repescagem
A paciência se esgota e os bastidores fervem após o time ter somando apenas dois pontos em seis possíveis. O pânico instaurado não afeta apenas a seleção principal, mas também a equipe Olímpica às portas dos Jogos.
A CBF, manchada pela corrupção, é uma casa sem governo, com um presidente fantoche. Não há comando, porém no Brasil já se especula um golpe de efeito: tirar de Dunga o comando do time olímpico, o que seria um passo intermediário para cortar a sua cabeça pós Copa-América.
A imprensa brasileira cozinha Dunga com fogo lento. E dispara para todos os lados. Até Neymar saiu chamuscado, pois a mídia brasileira lembra que de 2015 para cá o craque tem mais cartões amarelos do que gols pelo Brasil.
Neymar começa a sofrer uma situação que lembra aquela que já foi vivida por Messi na Argentina. Único craque e única solução para tirar o time do atoleiro. Se a "Pulga" e o "Moicano" brilham no Barcelona é porque encontraram um ecossistema que potencializa as suas virtudes. E as suas seleções são incapazes de produzir isso. No caso de Neymar, ele é apenas a principal vítima dos devaneios de Dunga, que tem obsessão por colocá-lo como um falso 9 sem nenhum companheiro para lhe dar assistência. Sozinho, ilhado, Neymar se desespera."
Joaquin Peira é colunista do Diários AS da Espanha