Contradições marcam ligação de Havelange com o futebol

Dirigente da CBD quando Brasil foi tri da Copa do Mundo, Havelange foi presidente da Fifa entre 1974 e 1998, mas morreu nesta terça-feira sob suspeita de corrupção e recluso

imagem camera(Foto: AFP PHOTO / STRINGER)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 16/08/2016
16:57
Atualizado em 16/08/2016
17:37
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Um dos personagens mais controversos do futebol brasileiro se despediu na manhã desta terça-feira. Aos 100 anos, João Havelange deixa como legado o histórico de ser um dos dirigentes mais vitoriosos em seu trabalho na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e um longo período como dirigente da Fifa, mas um fim de vida marcado por suspeitas de corrupção e fim de vida no ostracismo.

HAVELANGE, DE NADADOR A DIRIGENTE

Formado em Direito em 1931, Jean-Marie Faustin Goedefroid Havelang atuou como nadador, quando defendeu o Brasil na Olimpíada de Berlim de 1936, e foi jogador de polo aquático em Helsinque, em 1952. Em seguida, passou a atuar como dirigente da Federação Paulista de Natação e da Federação Metropolitana de Natação. Porém, seu nome começou a se destacar de fato na Confederação Brasileira de Desportos (CBD).

NA CBD, 'ERA HAVELANGE' É MARCADA POR ASCENSÃO BRASILEIRA

Dois anos após chegar à entidade, Havelange assumiu o cargo de presidente da CBD em 1956, período no qual viu a ascensão em definitivo da Seleção Brasileira. Sob sua gestão, o Brasil conquistou as Copas do Mundo de 1958, 1962 e 1970, e viu uma geração de ouro formada por Pelé, Garrincha, Tostão, Rivellino, dentre outros. Em paralelo, João Havelange foi eleito, em 1963, um dos integrantes do Comitê Olímpico Internacional (COI). Em 1974, Havelange deixou o cargo visando voos mais altos.

NA FIFA: INTERNACIONALIZAÇÃO DO FUTEBOL E CRESCIMENTO DE MUNDIAIS

No ano de 1974, o dirigente deixou o cargo na CBD para assumir uma responsabilidade ainda maior: tornar-se o primeiro não-europeu presidente da Fifa. Visto como responsável por internacionalizar o futebol, João Havelange organizou seis Copas do Mundo, estendeu a lista de participantes de 16 para 32 seleções, e criou Mundiais de categorias infanto-juvenil, juvenil, juniores e feminina.

Enquanto esteve à frente da entidade, um nome próximo ao então presidente da Fifa passou a se destacar no futebol nacional: seu genro, Ricardo Teixeira, chegou ao poder da CBF em 1989, derrotando Nabi Abi Chedid.

A ligação com Teixeira ajudou a fortalecer o Brasil politicamente, mas rendeu uma forte polêmica na qual estariam o então presidente da CBF e Havelange. Após 24 anos, João Havelange encerrou  seu período na presidência da entidade em 1998, para a entrada de Joseph Blatter.

Mesmo assim, o ex-dirigente seguiria com forte ligação com a Fifa, ao tornar-se Presidente de Honra. Mas, em 2011, viria um caso que culminaria no fim da "Era Havelange" na Fifa.

CASO ISL FORÇA O FIM DE SUA GESTÃO

O fim de mandato de João Havelange à frente da Fifa foi marcado por amarguras. Após uma investigação da Comissão do COI, o ex-dirigente foi acusado em 2011 de receber propina em um esquema de corrupção envolvendo a empresa de marketing ISL.

Os acordos envolviam direitos de transmissões da Copa do Mundo e da Olimpíada. Para evitar qualquer punição, o ex-dirigente renunciaria ao cargo que exercia no COI naquele ano, e deixaria de ser Presidente de Honra da Fifa em 2013, antes que surgissem decisões sobre casos de corrupção envolvendo seu nome.

ÚLTIMOS ANOS

Os últimos anos de vida de Havelange foram marcados por um "isolamento". Após sair de cena do futebol mundial, o ex-dirigente se manteve recluso, e não procurou se manifestar oficialmente sobre o assunto. 

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