Bruno Soares vê fuga de marcas e critica: ‘O legado olímpico é zero’
Atração do Rio Open ao lado do britânico Jamie Murray, tenista lamenta a perda de patrocinadores na melhor fase da carreira e se diz preocupado com futuro do esporte
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Disputar o Rio Open, torneio nível ATP 500 que começa nesta segunda-feira e vai até domingo, é sempre motivo de satisfação para o mineiro Bruno Soares. Se só tem elogios a fazer ao evento, o mesmo não pode ser dito sobre a situação do esporte no país.
Melhor colocado no ranking de duplas de 2016, ao lado do britânico Jamie Murray, com quem tentará a taça inédita na capital fluminense, o tenista perdeu dois patrocinadores após os Jogos Olímpicos do Rio e não tem garantia de continuar com outros. Os Correios, que reduziram o aporte a confederações esportivas, como a de tênis (CBT), e a Land Rover já não o apoiam mais.
O discurso do atleta sobre o megaevento mudou da exaltação para o desapontamento. Visado pelas grandes marcas devido ao carisma e à boa conduta, ele não esconde a apreensão com o futuro e diz que tem se virado para custear a sua preparação.
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– O legado olímpico é zero. Está tudo largado. O país está bagunçado. Estamos em um momento de reavaliar a forma como as coisas são feitas no Brasil – disse Bruno, em entrevista ao LANCE!.
Com Murray, Soares alcançou os títulos do Australian Open, do US Open e do ATP 250 de Sydney (AUS) no ano passado. Em 2017, acumulam uma semi, em Doha (QAT), uma final, em Sydney, e uma eliminação na estreia no Grand Slam australiano.
– Você vê todo mundo cortando patrocínios, reduzindo o apoio ao esporte. Eu, depois da Olimpíada, no melhor ano da minha carreira, perdi metade dos meus patrocinadores, da verba que uso para pagar meu ano. Todo mundo sabe que a vida de tenista é cara. Você tenta controlar a situação toda, mas preocupa demais – diz o atleta, que admite gostar de debater política com o parceiro.
"Eu, depois da Olimpíada, no melhor ano da minha carreira, perdi metade dos meus patrocinadores, da verba que uso para pagar meu ano. Todo mundo sabe que a vida de tenista é cara. Você tenta controlar a situação toda, mas preocupa demais"
– Não sei tanto sobre o Brasil, mas vejo que há grandes problemas relacionados aos custos dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo. Muito do que foi gasto poderia ter sido usado para o bem do país. A ex-presidente (Dilma) sofreu impeachment – contou Jamie, irmão de Andy Murray.
Convicto de que a parceria com o britânico amadureceu, Bruno tenta esquecer os problemas e quebrar um jejum no Rio Nas últimas três edições, ele se despediu nas semifinais.
A dupla tem estreia prevista para quarta-feira. O confronto será contra o também brazuca Marcelo Demolliner e neozelandês Marcus Daniell. A dupla cabeça de chave número 2, formada por Marcelo Melo e pelo polonês Lukasz Kobut, estreia contra os brasileiros Feijão e Fabricio Neis.
BATE-BOLA
Bruno Soares
Tenista, ao LANCE!
‘Se compararmos o que Londres viveu, estamos a milhas de distância’
A chave de duplas terá um destaque especial no Rio Open, após a de simples perder o Rafael Nadal. É uma motivação para vocês?
Todo ATP 500 que jogamos conta com chaves de dupla muito fortes. O que muda aqui no Rio é o fato de o brasileiro estar envolvido nisso. Trazemos para o espectador uma emoção diferente, tanto eu, quanto o Marcelo e o André. É diferente de um ATP 500 de Roterdã, que estava acontecendo na semana passada.
Após um ano de sucesso, o que dá para aprender sobre o Jamie?
Depois de um ano, descobrir muita coisa é difícil. Sabemos bastante um do outro. Aprendemos muito no ano passado. Temos manias, preferências, pontos fracos e fortes. Do meio do ano para cá, nos entendemos em quadra, na forma de jogar. E tentamos trabalhar nesses aspectos, nos meus pontos fracos, onde podemos melhorar. Já entendemos certas preferências de cada um.
Dá para falar sobre assuntos que não o tênis no dia a dia?
Falamos de tênis quando temos de falar, mas, fora isso, estamos acompanhando o que acontece pelo mundo, conversando de outras coisas. Ele gosta muito de futebol e golfe, enquanto sou mais para o pôquer. Mas situações de momento, como eleição, política, resultado do Super Bowl...
Para quem torceu no Super Bowl (O New England Patriots venceu o Atlanta Falcons por 34 a 28 no último dia 6)?
Não acompanho futebol americano, nada (risos). Mas assisti e fiquei de cara com o que aconteceu. Como um atleta, um cara que vive o esporte, acho o evento que os americanos fazem fora de série. De cinema. É uma produção, não um jogo.
E em relação à situação do esporte brasileiro? Também conversam sobre?
É até difícil para ele. Quem não convive com o Brasil tem dificuldade de entender as coisas que os caras conseguem inventar aqui para se dar bem (risos). Na política, é Lava Jato, impeachment. Se compararmos o que Londres viveu após a Olimpíada com o que o nosso país vive hoje, é muito diferente. Estamos milhas e milhas de distância. Mas é um país organizado, de primeiro mundo, diferente daqui. O brasileiro se acostumou com um jeitinho não tão correto. Temos esperança de que podem haver mudanças. Mas, em relação ao legado olímpico, acho bem complicado.
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