Fernando Meligeni, ex-top 25 e uma das lendas do tênis brasileiro, enalteceu a exibição de Thiago Wild neste domingo pela primeira rodada do Australian Open. Ele caiu diante do russo Andrey Rublev, quinto do mundo, por 7/5 6/4 3/6 4/6 7/6 (10/6).
"Perder um jogo de 5 sets em mais de 3h40 min é devastador. Dói demais ter lutado tanto e deixar escapar o jogo. Quando salvou os quatro match points todos com seu segundo saque e faz 4/1 e 6/4 no super tie-break do quinto parecia que levaria a batalha para casa.
Thiago Wild fez uma belíssima apresentação e deixou nas cordas um dos grandes nomes do tênis na atualidade. Com um jogo agressivo, por vezes imprevisível (o que se bem usado é bom), fez a bola andar demais, foi forte mentalmente e forte fisicamente também.
Mais que analisar o jogo quero falar no pós de um jogo desse e seus caminhos.
Esse jogo deixa algumas mensagens importantes ao brasileiro. Quando jogamos nesse nível por tanto tempo fica claro que estamos prontos para algo maior. O difícil é entender isso e perceber que tênis é uma construção diária e que precisa ser cuidada. Ao perder vivemos duas possibilidades mentais. A auto destruição ou a auto construção.
Por que digo isso. A partir do momento que saímos da quadra depois de uma derrota dessas, temos a chance de pensar e viver dois mundos bem distintos. O primeiro é se premiar, sair, relaxar, se vitimizar um pouco, viver a vida, curtir o momento fora das quadras. Não digo que não merecemos depois de um jogo desses. Mas o “esquecer” o jogo pode não ser o melhor caminho.
A segunda possibilidade é entender que precisamos cuidar muito o momento, não sair do trilho, treinar se possível o mais rápido que der, cuidar do corpo, ficar pronto para os próximos desafios.
Meu pai chamava de união dos tempos. Não deixe o momento passar, não se esqueça das sensações. Não se desconecte por completo. Viva o luto, fique triste mas entenda o patamar que você chegou e continue dali para frente. Não baixe dois ou três degraus para tentar voltar depois.
Vemos os grandes e suas decisões pós torneio e entendemos o cuidado com a boa fase. Quanto mais perto mais trabalhoso, quanto mais nível temos mais demanda aparece.
Thiago mostrou um tênis enorme, deixa claro que não respeita os grandes nomes e se coloca em quadra de igual para igual. Tem tênis suficiente para ir além de onde está. Se mantiver o foco pode trazer muitas alegrias", disse o semifinalista de Roland Garros de 1999.