Após seguidas lesões, Felipe Tigrão retorna como cartola
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É nos campos de Jardim Catarina que Felipe planta a semente de um novo começo. No bairro do município de São Gonçalo, região metropolitana do Rio, o ex-jogador cura as feridas de um passado marcado por lesões que nunca o deixaram chegar até onde muitos apostavam que chegaria. Promessa de craque do Botafogo no fim dos anos 90, atualmente ele dá os primeiros passos da carreira de dirigente como diretor executivo do pequeno São Gonçalo Futebol Clube.
Ex-jogador do Botafogo vira dirigente da terceirona carioca
Sob o sol a pino, ele surge com o uniforme da comissão técnica e parece estar feliz no campo que possui apenas uma cerca e um valão para separá-lo da torcida. A distância do futebol durou pouco, menos de um ano. Aos 32 anos, a tristeza com a aposentadoria foi suprimida ao voltar para o jogo. Mas ao lembrar a carreira, ele cede e luta para segurar as lágrimas. A voz fica engasgada como aquele começo em que chegou a tabelar com Ronaldinho Gaúcho e o zagueiro Juan na Seleção sub-20:
COMEÇO
Felipe começou a carreira no Botafogo. Sempre foi tratado como uma joia das categorias de base do clube alvinegro. Ele marcou 25 gols em 18 partidas nos juniores. Foi puxado para o profissional por Paulo Autuori, em 1998.
LESÕES E DESPEDIDA
No Botafogo, sofreu duas lesões sérias nos dois joelhos, além de outras menores, musculares. Depois de cinco anos, deixou General Severiano.
RODOU
Depois do Botafogo, passou por vários clubes: Juventude, Tombense (MG), América-MG, Cabofriense, Portuguesa, Tupi, Vitória de Guimarães (POR), Pontevedra (ESP), Paulista, Liaoning Whowin (CHN) e Cabofriense, onde decidiu parar de jogar, este ano.
- Foram muitas lesões. Tive uma no joelho, logo que subi para o profissional. Minha carreira teve alegrias, mas muitas tristezas também. Eu me lembro que ninguém acreditava em mim depois que saí do Botafogo. Mas eu lutei e fui feliz. Se o meu corpo deixasse, jogaria até os 40.
Felipe foi atacante durante os 12 anos de sua curta carreira. Já no "São Gonçalo", ele joga nas 11: além de diretor, cuida do marketing e da prospecção de patrocinadores, elaborou projeto que pode ser aprovado na Lei de Incentivo ao Esporte, montou a comissão técnica do time que disputará o Carioca pela primeira vez ano que vem, na Terceira Divisão, e ainda ajuda a peneirar, entre 500 inscritos, aqueles que irão formar as equipes do clube, desde o infantil até o profissional.
Tudo isso o ajuda a manter a cabeça ocupada. Hoje, o desejo de viver o futebol continua. O sonho é deixar uma lição para os mais novos:
- Eu venci sem a ajuda de ninguém, muito pelo contrário. E acho que posso vencer de novo. Quero mostrar para os meninos do São Gonçalo que é possível ter sucesso graças ao talento. Apenas isso.
'Quando decide parar é como perder a vida'
De longe, Felipe assiste a Túlio se manter em atividade aos 42 anos. Felipe entende a insistência do excompanheiro do Botafogo em seguir com a carreira de jogador. O que mantém o atacante nos gramados não é apenas a busca pelo tão sonhado milésimo gol. Com experiência de causa, Felipe é taxativo: parar de jogar futebol é como ver uma parte de si morrer.
- Você faz aquilo a vida inteira, você ama aquilo, e quando você decide parar, é como se você perdesse a vida. Não é fácil parar de jogar. Eu só deixei o futebol porque realmente meu corpo não estava aguentando mais. Mas é um momento muito complicado - disse.
Durante os períodos em que ficou parado por lesão, o jogador revela que sofreu de tristeza profunda, viveu dias de depressão.
Quem passou por algo parecido foi Pedrinho, revelado pelo Vasco e que, aos 34 anos, decidiu retornar aos gramados para jogar o Carioca de 2012 pelo Olaria. O técnico Renato Alvarenga disse, aos risos, que Felipe, após uma dieta, teria condição de jogar pelo São Gonçalo na Terceirona. Será que pode pintar um dirigente-jogador por aí?
- Que dá muita vontade de jogar, dá. Mas não tem jeito, o meu tempo já passou - afirmou Felipe.
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São Gonçalo: Meta é disputar a Primeirona em 2014
Os planos de Felipe para o São Gonçalo são ambiciosos. O dirigente espera ver o time na Primeira Divisão do Campeonato Carioca já em 2014. A arrancada seria meteórica, ainda mais se tratando de um clube de apenas dois anos de existência.
De saída, a meta do São Gonçalo é explorar o talento dos garotos nascidos no município e regiões adjacentes. Segundo o presidente Eduardo Castro, é um desperdício a cidade, a segunda mais populosa do estado, com quase um milhão de habitantes, não ter uma equipe de futebol.
Nem mesmo a vizinha Niterói possui um representante no Campeonato Estadual. Para ele, a grande demanda poderá ser um dos segredos para o sucesso do clube num curto espaço de tempo.
Por conta disso, a estratégia é criar na população local um vínculo com o clube e torná-lo o segundo na preferência dos torcedores, atrás apenas dos quatro grandes.
Apesar de criado em 2009, o clube começou suas atividades em 2010. Em abril deste ano, quando Felipe foi contratado, o trabalho do futebol ganhou fôlego.
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Bate-Bola com Felipe
1) De onde surgiu a vontade de se tornar dirigente?
Eu já amadurecia essa ideia comigo antes de parar de jogar. Vivi muita coisa, vi realidade de clube grande, de clube pequeno. Na minha carreira, fui ao céu e desci várias vezes. Isso tudo me deu vontade de montar um projeto e colocar em prática.
2) Qual foi o seu melhor momento depois de sair do Botafogo?
Eu tive um momento muito bom, quando fui para o Tupi (MG), marquei muitos gols e ajudei o time a terminar o Mineiro entre os quatro primeiros, o que nunca tinha acontecido. Em um ano, fiz com que as pessoas voltassem a acreditar em mim. Foi quando fui para Portugal.
3) Como será o Felipe dirigente?
Talvez eu vá contra o sistema, que não é tão ético, tão verdadeiro como deveria ser.
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COM A PALAVRA
Wagner, ex-goleiro e coordenador de goleiros do São Gonçalo
"Felipe me chamou para conversar algum tempo atrás e me convidou para participar disso com ele. Eu pedi que me explicasse o que era e ele mostrou que o negócio é sólido. Esperamos conseguir colocar o São Gonçalo no mapa do futebol.
Eu e ele atuamos juntos no Botafogo. É bom ver que o Felipe não se deixou levar pelos problemas que teve na carreira como jogador. Hoje, tenho certeza de que ele vai dar certo como dirigente.
Acertamos que eu vou cuidar da parte dos goleiros, coordenando o trabalho da base neste sentido, talvez treinando os goleiros do time principal. Ainda vamos ver."
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