‘O Brasil é modelo’, diz presidente do Comitê Paralímpico Internacional

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Pontualmente no horário combinado, Philip Craven aguarda no lobby do hotel em Berlim (ALE) para a entrevista. Sim, ele é britânico, penso com meus botões, ao vê-lo. E deve ser formal, já que se trata de um “sir”, honraria para poucos, imagino. Mas estou enganado. O presidente do Comitê Paralímpico Internacional inicia a conversa já com uma piada entre ingleses e escoceses. Algo como nós, brasileiros, fazemos com os portugueses. Mudo minha percepção: ele é daqueles que perdem o amigo, mas não deixam de contar a piada. Em mais de uma hora de conversa, o dirigente derruba outros tabus sobre o esporte paralímpico e revela os planos do IPC para os próximos anos, incluindo sua opinião sobre a realização da próxima Olimpíada no Brasil.

L!Net: Os Jogos Paralímpicos são a arma mais poderosa contra a discriminação que as pessoas com algum tipo de deficiência possuem?

Philip Craven: Talvez arma não seja a melhor definição. Mas acredito que os Jogos sejam uma grande inspiração para milhões de pessoas mundo afora com algum tipo de deficiência. Poucos chegam a disputar uma competição assim, mas viram exemplos para os demais. E isso passa uma mensagem importante. É uma das formas mais eficientes de aproximação com o público. 

L!Net: Quais as prioridades do IPC atualmente?

P.C.: África e América Latina, principalmente com os próximos jogos sendo no Rio de Janeiro em 2016. Temos tentado dar todo suporte para que comitês nacionais aumentem sua atuação nos respectivos continente. Temos casos de países que não possuem um comitê paralímpico, por exemplo, como é o caso do Paraguai. O Brasil é um modelo para seus vizinhos, pois tomou a decisão, alguns anos atrás, de ser uma potência. Está melhorando em números Jogos após Jogos, em performance em competições mundiais, tanto que ficaram em sétimo lugar em Londres. E os brasileiros possuem ambição para seguir crescendo, têm um projeto que está sendo muito bem construído pelo Andrew Parsons (presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro). Vejo a Colômbia avançando, a Argentina... E não posso esquecer da Europa, berço do esporte paralímpico 60 anos atrás, que não pode parar de evoluir.

L!Net: O Brasil não tem a cultura da acessibilidade. Problemas de sinalização, dificuldade para utilização de ônibus no transporte público... Como vê a importância dos Jogos para a mudança deste cenário?

P.C.: Os serviços vão mudar. Mas demandam tempo. O ponto-chave é o pós-Jogos, seguir com as mudanças de percepção que a competição passa para as pessoas. O principal não vai acontecer nos sete anos que separam a escolha do Brasil como sede até a realização da competição. É preciso saber como solidificar a transformação na forma de pensar a vida das pessoas com algum tipo de deficiência. Estive no Brasil várias vezes e vejo a evolução na parte de infraestrutura, por exemplo. Três anos antes dos Jogos de Pequim, me fizeram a mesma pergunta. E hoje eles estão satisfeitos com a mudança que o país teve, principalmente na mentalidade da população.

L!Net: Como vê a preparação do Brasil para a Rio-2016?

P.C.: Muitos progressos estão acontecendo. O que me impressiona muito é a energia com que as pessoas responsáveis pelo Comitê Organizador no Brasil trabalham e demonstram. Isso vai contagiar o país. Teremos uma bela Paralimpíada “carioca”. Não tenho dúvidas de que será uma competição fantástica, como foi em Londres, ano passado.

L!Net: Passados alguns meses da prisão de Oscar Pistorius acusado de matar a namorada, como o senhor vê o impacto da notícia no esporte paralímpico?

P.C.: Você não antecipa esse tipo de coisa, ela simplesmente acontece. E neste caso surpreende pelo lado negativo, logicamente. Foi uma situação terrível, ficamos tremendamente chocados. O impacto foi grande, foi a maior história do ano, na minha opinião. Mas existem outros tantos ídolos surgindo e não vai ser um problema.

QUEM É

Nascimento: 4/7/1950, em Bolton (ING)

Como atleta: Foi campeão mundial no basquete sentado em 1973 e terceiro colocado dois anos depois. Nas Paralimpíadas, competiu também no atletismo e na natação, em 1972, sia primeira participação. Se aposentou após os Jogos de 1988.

Como dirigente: Presidente o IPC desde 2001, é membro do COI e também da Wada.

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