Dez anos da morte de Marc-Vivien Foé: a tragédia que mudou o futebol

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– Garotos, mesmo se for preciso morrer no gramado, nós temos de vencer esta semifinal.

A triste profecia de Marc-Vivien Foé se concretizou após o intervalo. O meia de Camarões morreu aos 27 minutos do segundo tempo daquele jogo contra a Colômbia, em Lyon, na França, vítima de uma parada cardíaca. Exatos dez anos se passaram do episódio que marcou para sempre a Copa das Confederações de 2003 e o futebol.

A morte foi um duro golpe para a Fifa. A partir dali, a entidade passou a se planejar e adotar uma série de medidas, tanto de prevenção quanto de combate a acidentes. Foi desenvolvida a estratégia de 11 passos para evitar súbitas mortes cardíacas e uma avaliação médica para todos os atletas antes das competições organizadas por ela (PCMA, em inglês). Esta última poderia ter salvado o camaronês, que possuía um problema no miocárdio. Além disso, passou a ser obrigatória em qualquer jogo a existência de um desfribilador externo automático.

Apesar da medida, pelo menos outros 20 casos de morte em campo por problemas no coração foram registrados depois, seja em treinos ou jogos. Com Foé, os médicos levaram cinco minutos para conduzi-lo à sala de primeiros socorros e outros sete para iniciar a reanimação. As tentativas seguiram por 45 minutos. A morte foi decretada às 20h20 no horário local.

Camarões venceu a Colômbia por 1 a 0. Na outra semifinal, entre França e Turquia, no mesmo dia, jogadores da seleção do país anfitrião homenagearam o colega, que atuava pelo campeonato de lá. Na decisão, o capitão dos Bleus, Marcel Desailly, levantou o título com Rigobert Song, líder dos Leões Indomáveis. As alegrias no futebol foram muitas após a morte de Foé. Mas a modalidade ainda segue de luto. E aprendendo com a lição.

Tributo antes de Brasil x Uruguai

Marc-Vivien Foé será homenageado nesta quarta-feira, minutos antes do apito inicial do jogo Brasil x Uruguai, válido pelas semifinais da Copa das Confederações. O tributo no Mineirão foi confirmado pelo Comitê Organizador Local (COL) da Copa das Confederações e da Copa do Mundo-2014.

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, já tinha prometido, por meio de uma declaração ao site oficial da entidade, que esta prestaria uma homenagem ao camaronês na atual edição da competição.

Foé jogava pelo Manchester City quando morreu. O clube inglês, que na época não era abastecido pelos petrodólares do xeque Mansour bin Zayed Al Nahyan, aposentou o número 23, usado pelo camaronês, que estava emprestado pelo Lyon. O jogador deixou mulher e três filhos.

Passos de prevenção e ações feitas em 2013

Após a morte de Marc-Vivien Foé, a Fifa elaborou uma estratégia de combate ao problema, chamada “11 passos para prevenir súbitas mortes cardíacas”. Durante a Copa das Confederações deste ano, no Brasil, estas medidas foram trabalhadas com jogadores e árbitros.

– A morte de Marc-Vivien Foé foi um choque terrível para a comunidade do futebol. Desde então, a Fifa desenvolveu um conjunto completo de medidas para assegurar que tal tragédia não se repita – declarou a Fifa por meio de nota oficial.

O presidente da entidade máxima do futebol, Joseph Blatter, distribuiu bolsas de emergência médica, com a presença de desfribiladores externos automáticos, para os 209 membros da associação. Além disso, a Fifa também criou uma fundação em homenagem a Foé. Outra medida a ser expandida em 2013 e 2014 é o “Fifa 11+”, programa de aquecimento que visa a prevenção de lesões em atletas.

– Estou muito feliz com a preparação e a performance da equipe médica do Comitê Organizador Local – declarou o diretor médico da Fifa, Jiri Dvorak.

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Nabil Ghorayeb - Cardiologista

'Socorro deveria ter começado em campo'

O erro na situação do Foé foi que ele nunca tinha feito exames para avaliar a gravidade da doença no coração. Houve ainda equívoco nos primeiros socorros. Hoje já se sabe que a vítima de um ataque cardíaco não deve ser retirada do local em que está para começar a ser atendida. É preciso agir rápido com a massagem cardíaca, cem vezes por minuto, até a chegada do desfibrilador.

As coisas mudaram depois que Foé morreu, mas, mesmo assim, o esporte não está livre de tragédias. As leis estão perfeitas, mas a aplicação devida ainda não chegou a todos os lugares. Em São Bernardo do Campo, teve um caso em agosto de 2012 de um rapaz de 17 anos que morreu em campo. Ele foi levado que nem um saco de batata para o posto e não resistiu. Falta cumprir a determinação de que haja médicos e aparelhos nos lugares da prática esportiva e instrução às pessoas.

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