‘Dolorido’, Oswaldo lamenta falta de confiança e condição física de CX8

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Minutos depois de Paulo Nobre justificar a demissão de Oswaldo de Oliveira, o ex-técnico do Palmeiras apareceu na sala de imprensa da Academia de Futebol. Com direito a lamentações pela falta de sequência de seu trabalho, o ex-comandante falou que deixa o clube "dolorido", reclamando da pressão que "desequilibrou" a cúpula alviverde.

- Gosto de ver a coisa sempre como um todo, em termos de continuidade, perspectativa, e o que vem sendo apresentado. Sempre disse que, pra mim, tudo tem de ter início meio e fim. Estava fazendo um trabalho que de forma muito otimista achava que teria um final feliz. Infelizmente, não houve unanimidade, e foi por terra o que estava imaginando que ia dar certo. O que deveria ter sido respeitado, meu trabalho, não foi, mas as pessoas têm os seus motivos - disse Oswaldo, que emendou:

- Temos de levar muitas coisas em consideração. O Palmeiras sob meu comando conseguiu mais resultados positivos do que negativos, principalmente se comparar com as últimas temporadas, mas outros motivos se sobrepuseram. Não tenho conhecimento profundo do Palmeiras, mas tem uma carga emocional muito grande no clube, e uma órbita de muita pressão que desequilibra quem comanda o clube e que não sustenta o que é racional e óbvio, que deveria permanecer - acrescentou.

Um dos principais motivos de crítica na reta final de seu trabalho, o pouco uso de Cleiton Xavier foi bastante discutido pelo treinador. O jogo contra o Inter foi o exemplo usado pelo ex-comandante para dizer que o camisa 8 ainda não tem condições para ser titular - o meia deixou a partida contra o Figueirense, domingo, pedindo mais ritmo de jogo.

- O Cleiton, digo e afirmo que ainda não estava pronto para jogar 90 minutos. Tomara que isto o motive e no domingo (contra o Fluminense) ele prove o contrário. É só ver contra o Inter. Levamos o gol cinco minutos depois dele entrar. O Dudu vai na bola, é batido, ele (Cleiton) faz a cobertura, vem ele e o Lucas contra o Vitinho e o Alan Ruschel. Os dois vêm contra o Lucas, trocam passe e ele não consegue chegar, e estava em campo há cinco minutos! - citou.

- Ele é ótimo, uma pessoa ótima, vai crescer e ajudar muito, mas no momento certo. Este menino passou sete anos na Ucrânia, voltou. Estava se preparando e se machucou duas vezes. Passa pelo meu crivo e da comissão saber quando ele pode jogar 90 minutos. No meu ponto visto, ainda não estava. Um jogador de meio-campo precisa fazer este trabalho com mais eficiência, ele não pode ser só atacante, trocador de passe, ele tem que executar uma função defensiva, também - encerrou.

Oswaldo em quase seis meses de Palmeiras foi vice-campeão do Paulista, mas está a dois pontos da zona de rebaixamento no Brasileiro. Em 31 jogos, conquistou 17 vitórias, sete empates e sete derrotas.


(Oswaldo deixa o Palmeiras com 17 vitórias, sete empates e sete derrotas, além do vice no Paulistão)

CONFIRA OS PRINCIPAIS PONTOS DA ENTREVISTA:

Relação com Paulo Nobre
"Reconheço as alegações do Paulo Nobre, já deve ter passado para vocês, espero que perdure a amizade como ele propôs, porque é uma pessoa diferenciada e que por motivos superiores não pode manter aquilo que acho que deveria nortear o futebol: manter o trabalho, em que pese pressões"

Confiança em seu trabalho
"Muitas vezes, diante das adversidades, a gente consegue dar a famosa volta por cima e realizar trabalhos convincentes e vencedores. Em pouco mais de 15 anos como treinador, consegui conquistas sucessivas, trabalhos reconhecidos, e é inegável do meu ponto de vista que isto deveria ter sido levado em consideração e pesado um pouco mais nas considerações que foram feitas para encerrar o trabalho"

Sentimento após a saída
"É doloroso, a ficha não caiu ainda, com tantas expectativas e planos, mas forças superiores hierarquicamente impedem que eu dê continuidade. Nunca fui militar, mas sempre respeitei hierarquia. Chego até aqui hoje como treinador sem ter sido jogador, porque sempre conseguir respeitar tudo que foi feito e imposto a mim e aos meus superiores. Está doendo minha herpes, minha úlcera, meu calombo que cresce no omoplata, e gostaria dar uma relaxada merecida"

Resultados aquém dos objetivos?
"Não quero confrontar as coisas que o presidente diz, porque meu objetivo era dar continuidade. E claro que para ele interromper o trabalho, tinham coisas diferentes. Mas de objetivos, quase fomos campeões paulistas, e ficou por muito pouco. Tinha de ter sido levado em consideração. O reinício de trabalho, no Brasileiro, talvez buscássemos uma classificação para a Libertadores, já que ano passado brigou quase o tempo todo para não cair, estávamos desenvolvendo"

Relação com jogadores
"Muito chato nesta hora, porque jogador fica muito acabrunhado. É a porção mais sensível, a parte mais afetiva é a relação com jogadores, e sempre fiz questão de dizer que não tenho amigos dirigentes, empresários, na imprensa ou organizadas, mas tenho entre jogadores. Eles se deixam convencer pelo meu trabalho. É ruim isto, alguns começaram comigo, como Arouca e Gabriel. 

Sobre o jogadores nunca suspeitei de nada, a minha forma de trabalhar. Eu trabalho com muita intensidade, por isto muitos jogadores não conseguem manter no início. Jogador tem que aprender, tem que sentir para depois criar calo e crescer. Intensidade de trabalho, atacar e defender, com a frequência que eu quero é difícil. O grupo era muito bom, todos trabalhadores, que não reclamavam muito. De forma alguma jogo na conta dos atletas esta responsabilidade"

Incômodo por demissão ter sido 'vazada' na segunda
"Hoje não fico mais (chateado). Difícil em um clube como Palmeiras, Santos, Botafogo conter uma situação desta. Quando decide a demissão, tem de ter um conjunto, não é uma pessoa só que decide. E eles têm família, amigos, e não se consegue controlar isto. Esperava que fossem apenas especulações. Estou muito feliz porque minha primeira neta nasceu ontem, e o outro lado é chato, mas a gente compensa, é difícil conviver com esta realidade. Hoje, já admito até os vazamentos. Ninguém falou por telefone, esperaram eu chegar aqui e tiveram uma conduta digna neste aspecto. Neste aspeto"

Experiência foi levada em conta?
"Sei lidar com tudo que se passa em uma equipe de futebol. Vivo a vida inteira disto. São quarenta anos de profissão, não quarenta dias. Tinha que ser levado mais em consideração minha experiência e o que estou projetando. Não estou guardando cargo, hoje posso voltar a dar aula, fazer outra coisa, que não iria ser tão danoso. Estive aqui por amor à minha profissão, por amor a um projeto proposto, amor ao que poderíamos fazer"

Papo com Nobre
"Semana passada fui lá em cima e conversei com o presidente. Pedi paciência. Gostaria de vencer esta fase difícil"

Opções no mercado influenciaram na sua saída
"Pode ser que sim, acho até natural (que o mercado tenha influenciado). Sai um treinador e fica todo mundo esperto, principalmente quando se pensa em mudança. Mas esta é uma questão que quem decide o futuro do clube é que tem que responder. Colocar coroa de espinho no técnico quando perde está ficando muito regular, muito pobre para o meu gosto. Quando você arrisca alguém inexperiente, tudo bem ter dúvida. Mas alguns treinadores brasileiros precisam ser mais respeitados neste aspecto. São pessoas que deram demonstração com resultado e tudo que precisava"


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